Assim como diversos municípios pelo país, a Cidade Sem Limites tem um documento que registra os fatos que contam sua “história oficial”, chamado de “Primeiros Tempos da Nossa Bauru“. Nesse material, o ponto de partida é o ano de 1856, no século 19, quando Felicíssimo Antônio Pereira chegou a este local. No entanto, o que tal levantamento deixa de lado é uma trajetória de pelo menos 400 anos em que os índios, especialmente os Kaingang, viveram nesse território.

O folheto exibe como argumento que foi com aqueles que foram considerados os fundadores da cidade que o nome de Bauru apareceu pela primeira vez em um documento oficial:

Foi por volta de 1856 que Felicíssimo Antônio de Souza Pereira e Antônio Teixeira do Espírito Santo, ao se estabelecerem nesta região, iniciaram um difícil trabalho, isto é, a derrubada das matas seculares, onde ergueram paliçadas rústicas e levantaram casebres para que pudessem alojar suas famílias. O duro aço das ferramentas feria, pela primeira vez, a terra recém-conquistada, com o início de diferentes plantações. Para garantir sua propriedade, Felicíssimo Antônio de Souza Pereira se deslocou até Botucatu, numa viagem demorada, e lá registrou a posse, colocando no final do documento: Bauru, 15 de abril de 1856. Era, talvez, a primeira vez que o nome de Bauru, como povoado, aparecia em um documento oficial.

Começava, desta maneira, a surgir a Vila de Bauru, um lugarejo modesto, humilde, mas que tinha tudo para expandir e transformar-se na grande cidade que hoje é. Chegavam novos moradores, parentes e conhecidos daqueles dois desbravadores considerados os fundadores de nossa cidade.

Trecho do documento “Primeiros Tempos da Nossa Bauru”

Tal arquivo não tem um autor especificado, mas consta no site da Prefeitura de Bauru, sendo fonte de pesquisa para os interessados em consultar e saber mais sobre as origens da cidade.

Mas o município não é uma exceção ao que aconteceu por praticamente todo o território brasileiro: antes dos “conquistadores”, índios Guaranis, Kaingangs e Xavantes viviam na região que hoje é chamada de Bauru.

Índios Kaingang: quem são os primeiros habitantes de Bauru?

Edson Fernandes é doutor em História e desenvolveu uma pesquisa sobre a formação de famílias no povoamento da região Centro-Oeste Paulista. Autor de livros como “Tempos de Violência” e “Fronteira Infinita: índios, bugreiros, escravos e pioneiros na Bahurú do século XIX”, o especialista descreve em seu estudo detalhes sobre a vida dos Kaingang, que eram chamados de “índios Bauruz”. Estima-se que tais índios viviam no território bauruense desde o século 15.

De acordo com a tese do historiador, os Kaingang estabeleciam moradia temporária à beira dos rios, viviam da caça (segundo o autor, foram encontradas em seus ranchos ossadas de macacos, antas, capivaras, porcos-do-mato e aves), da pesca, da coleta de mel, palmito, frutos, raízes e larvas de besouro. Ainda conforme a pesquisa, a atividade secundária exercida pelos indígenas incluía o cultivo de pequenas roças de feijão e de milho, com o qual faziam uma espécie de pão assado na brasa.

Além disso, Edson destaca nos seus escritos:

Estes índios faziam um artesanato meticuloso e elaborado. Fabricavam objetos domésticos, como panelas de barro, machados de pedra, pilões de madeira, peneiras, cestos. Seus instrumentos de trabalho eram arcos, flechas, lanças e tacapes. Seus tecidos eram ornados com desenhos geométricos, trançados com fibras de gravatá e tingidos de vermelho e negro. Faziam colares com sementes de vegetais e dentes de macaco, presas e garras de onça e outros animais.

Fronteira e População: Um Estudo Sobre a Formação de Famílias no Povoamento da Região Centro-Oeste de São Paulo, Século XIX – Tese de Doutorado de Edson Fernandes

Depois de centenas de anos vivendo por aqui, houve um processo de pacificação entre indígenas e não indígenas no século XIX.

Acervo histórico

Diante desse cenário e da necessidade de conhecer esses povos que habitaram Bauru muito antes do que os registros oficiais nos contam, o acervo do Museu Ferroviário Regional de Bauru inclui dezenas de fotografias que exibem os índios Kaingang e seus artefatos.

Essas imagens estão disponíveis no Acervo Digital do Museu, o qual reúne aproximadamente cinco mil documentos, que incluem não apenas fotografias, mas também mapas e relatórios sobre a história da ferrovia em Bauru e Região. Essa digitalização foi possível, conforme o site oficial, porque o projeto “Preservação e informatização do acervo museológico do Museu Ferroviário Regional de Bauru” foi contemplado pelo “Edital de Preservação de Acervos Museológicos do Programa de Ação Cultural (ProAC)” do Governo do Estado de São Paulo.

Logo, nesta plataforma, temos acesso a diversos materiais que nos levam a uma viagem no tempo! Confira alguns desses registros históricos.

“Fotografia de um grupo de Índios Kaingang e o inspetor Luiz B. Horta Barbosa conversando com chefe Kaingang Rerin, por intermédio da Índia Vanuíre, que se vê sentada de costas. A direita, efetua-se uma distribuição de roupas aos índios”.

Fotos históricas exibem Índios Kaingang e preservam as origens de Bauru

“Moradias / habitações indígena Kaingang”

Fotos históricas exibem Índios Kaingang e preservam as origens de Bauru

“Mulher indígena acompanhada de três crianças em aldeamento”.

Foto1: “Fotografia em preto e branco ampliada e registrada, possivelmente, a partir de um livro, com imagem de um homem indígena Kaingang com vestes típicas de homem branco (calças compridas, camisa e cinto) ainda que descalço, segurando uma flecha em posição de ataque posando para o registro fotográfico”.
Foto 2: Homem indígena Kaingang com vestes típicas de homem branco (calças compridas, camisa, cinto e chapéu), ainda que descalço, segurando uma flecha e posando para o registro fotográfico”.

Fotos históricas exibem Índios Kaingang e preservam as origens de Bauru

“Imagem de uma Índia Kaingang sentada com uma coberta típica”.

Vale ressaltar que as legendas com as explicações e descrições das imagens, assim como os créditos de todas as foto, são do Acervo digital do Museu Ferroviário Regional de Bauru.

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