Dalva Maria Correa Silva ou apenas Dalva Correa, que nos deixou na última semana, foi mais do que uma professora de ballet para a cidade de Bauru, mais do que a fundadora da Escola de Ballet Vitória Régia: foi uma inspiração para os amantes da dança, uma incentivadora para muitos jovens, uma formadora de bailarinos e bailarinos e, nas palavras de Sivaldo, um dos pilares da história da dança na Cidade Sem Limites.

Sivaldo Camargo é diretor artístico da Companhia Estável de Dança e trabalha na área há 42 anos, seja atuando como bailarino ou dando aulas. “Eu comecei minha carreira com a Dalva Correa no Ballet Vitória Régia. Na época, ela, recém-chegada em Bauru, vinda de Campinas, criou a escola onde era o Diretório Acadêmico da Faculdade de Odontologia, lá na Rua Rio Branco. E foi ali que eu comecei as minhas aulas com a Dalva. Alguns anos depois, ela construiu sua sede própria, onde permaneceu até o fim”, conta o profissional.

Dalva Correa começou no ballet ainda criança em São Paulo, cidade em que nasceu, e se formou em ballet clássico no Conservatório Musical de Campinas, com aperfeiçoamento na Inglaterra, na Royal Ballet de Londres, além de ter experiências em escolas celebradas como o Ballet Bolshoi. Assim, em Bauru, marcou seu nome na história da dança local.

O legado de Dalva Correa para a dança de Bauru
(Foto: Divulgação)

Estilo único

Sivaldo Camargo avalia que a história da dança em Bauru partiu de quatro pilares: além de Dalva Correa, Ruth Nham, Yola Guimarães e Lucila Teixeira. “Essas quatro maestras foram precursoras e responsáveis pela formação de milhares de jovens na cidade. E digo mais: junto com a Dalva, essas professoras foram as primeiras a levar o nome de Bauru para fora com espetáculos de dança e festivais”, afirma o ex-aluno.

De acordo com o diretor artístico da Companhia Estável de Dança, Dalva sempre teve uma linha de trabalho no Ballet Vitória Régia que era autoral. “As coreografias e tudo lá tinha a cara dela, em um estilo muito próprio. Assim, acredito que o grande legado da Dalva nesses mais de 40 anos de Vitória Régia foi deixar milhares de alunos formados, com ensinamento que vão além da dança: ela oferecia uma formação musical e muita disciplina, algo que o ballet exige e ela sempre prezou muito”, destaca.

“As coreografias e tudo lá tinha a cara dela, em um estilo muito próprio. Assim, acredito que o grande legado da Dalva nesses cerca de 40 anos de Vitória Régia foi deixar milhares de alunos formados, com ensinamento que vão além da dança: ela oferecia uma formação musical e muita disciplina, algo que o ballet exige e ela sempre prezou muito”

Sivaldo Camargo, diretor artístico da Companhia Estável de Dança e ex-aluno de Dalva Correa

Sivaldo também ressalta que, a cada ano e a cada espetáculo, o Ballet Vitória Régia ia ganhando espaço no cenário cultural da cidade, tornando-se conhecido e ampliando seu público. “Eu acredito que a escola está na história dos bauruenses. Mães que começaram no ballet com a Dalva depois viram suas filhas no palco, dançando no mesmo lugar. Isso foi muito comum nesse tempo todo! E é uma coisa que marca ter duas gerações formadas pela mesma professora! Eu acho que a cidade teve o privilégio de ter essas maestras. Muito da dança hoje é reflexo do trabalho dessas mulheres! Nós somos crias e recebemos o incentivo para continuar, para se profissionalizar, delas”, declara.

Professora, bailarina e uma pessoa querida

O ex-aluno lembra da professora com carinho e admiração: “A Dalva sempre teve um coração muito bom. Ela viveu e respirou a dança até os últimos dias dela. Nunca abandonou o palco, sempre esteve presente e ativa. Ela nunca se acomodou na posição de professora de ballet, dançava também e, depois, participou de festivais internacionais ligados à terceira idade, o que foi uma nova fase para ela, um recomeço”.

Karen Teixeira, diretora da Academia Sigma de Dança de Bauru, descreve Dalva como uma pessoa muito querida, cheia de luz, com um sorriso verdadeiro e que sempre teve boas palavras. “Ela era muito carinhosa e nunca esquecia de perguntar dos meus filhos ou da minha família. Às vezes, ela passava na frente da Sigma e ficávamos conversando pela grade; outras vezes eu fazia o mesmo no Ballet Vitória Régia. Minha admiração por ela sempre esteve presente. Com ela eu tive um grande aprendizado para vida, algo que levarei para sempre comigo”, revela.

Karen conta sobre uma vez em que ela desabafou com Dalva sobre dificuldades com relação à escola. E a pioneira a aconselhou da seguinte maneira: “Vamos continuar tocando as nossas escolas do nosso jeito, com nosso conhecimento, estudo e trabalho sério. Assim, vamos mostrar que nada nos atingirá”. A diretora da Sigma lembra que, naquele momento, tudo ficou mais claro: “Foi uma reflexão de uma pessoa vivida, guerreira, experiente e de muita sabedoria. Ela exerceu o papel de professora e educadora da vida. Minha grande admiração pela Dalva! Que ela, com sua linda essência, possa transbordar a sua alegria, a sua luz, a sua arte e a sua dança ‘do outro lado do caminho”, diz.

“ela exerceu o papel de professora e educadora da vida. Minha grande admiração pela Dalva! que ela, com sua linda essência, possa transbordar a sua alegria, a sua luz, a sua arte e a sua dança ‘do outro lado do caminho”

Karen Teixeira, diretora da Academia Sigma de Dança de Bauru

Por fim, Sivaldo também conta que Dalva fez parte de sua história em dois momentos, no início de sua carreira e em momento em que queria voltar a dançar. “Eu devo muito a Dalva por ter me incentivado logo no começo, nos meus primeiros passos. E, quando eu já era professor de dança, eu estava afastado do palco há muito tempo quando eu pedi para fazer aulas com ela. A Dalva me aceitou como aluno novamente! Eu pude reviver muitas coisas do início da minha carreira, e foi muito bacana esse retorno. Ela me aceitando como aluno depois de cerca de 40 anos!”, finaliza.

O legado de Dalva Correa para a dança de Bauru
Na foto, enviada por Sivaldo Camargo, ele está ao lado de Dalva Correa e da bailarina Mariela Mira, que foi aluna de Dalva e e entrou para a Companhia Estável de Dança. O momento foi capturado, segundo o ex-aluno, em uma das últimas apresentações de Dalva em Bauru. (Foto: Acervo Pessoal)

A Secretaria Municipal de Cultura expressou “profunda tristeza pelo falecimento da fundadora do Ballet Vitória Régia” e “gratidão pelo seu amor e dedicação à dança”, ressaltando que Dalva Correa dedicou sua vida a essa arte e, em sua carreira, teve “atuações premiadas em espetáculos e festivais de dança, inclusive no exterior”.

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