Maria e Ilva Gordo são irmãs. Ambas são feirantes e aprenderam o ofício com seus pais, que vieram de Portugal para o Brasil, tiveram cinco filhas e estabeleceram residência na zona rural de Bauru. A família Gordo se desenvolveu em torno da agricultura familiar, e a feira se tornou uma constante na vida de todos – outra irmã, Silvia, é feirante também.

Maria conta que desde os sete anos de idade ajudava os pais. Mas, aos 11, começou a tomar conta, sozinha, de sua própria banca. Sobre esse período, ainda criança, lembra da dificuldade do contato com os fregueses por conta da língua presa. “Era difícil pronunciar meu nome. Eu não conseguia falar ‘três’ reais para passar o preço”, recorda.

Dessa forma, diz que cresceu nessa função e não mudaria! Para ela, a melhor parte é o contato com o povo: “Minhas freguesas! A gente tem amigos. Eu sou e gosto de ser feirante. Eu gosto de colher salsinha, colher couve. Tudo o que eu faço é com prazer”, declara Maria.

Ilva Aparecida Gordo, feirante há 36 anos, também destaca a relação de confiabilidade com o público. “Precisa de muito jogo de cintura, é necessário agradar o cliente, fazer com que ele vire freguês, e não que compre uma vez e vá embora. Você tem que ter um diferencial para conquistar a preferência. Assim, a gente cria uma relação de confiança”, afirma.

Segundo Maria, prestes a completar 50 anos trabalhando na feira, a qualidade dos produtos também é essencial. “Tem feira com dez bancas de verdura, muitos atravessam tudo para vir na nossa. É muito importante o jeito de tratar as pessoas. A nossa verdura é muito boa, e eu garanto. Dessa forma eu tenho a confiança do freguês para me certificar de que ele sempre volte”, pontua.

“Tem feira com dez bancas de verdura, muitos atravessam tudo para vir na nossa. É muito importante o jeito de tratar as pessoas. A nossa verdura é muito boa, e eu garanto. Dessa forma eu tenho a confiança do freguês para me certificar de que ele sempre volte”

Maria Conceição Gordo Magri, feirante há 50 anos
Bauruenses feirantes: conheça a história de duas mulheres que dedicam juntas mais de 80 anos às feiras. Na foto, Maria Conceição Gordo Magri, feirante há 50 anos, e Ilva Aparecida Gordo, no ofício há 36 anos, são irmãs
Maria Conceição Gordo Magri, feirante há 50 anos, e Ilva Aparecida Gordo, no ofício há 36 anos, são irmãs (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal)

Produção familiar e trabalho duro

Maria e Ilva contam com seus respectivos maridos, Luís Carlos e José Antônio, no dia a dia do trabalho no sítio, em Bauru, onde elas nasceram e vivem desde então. Os dois filhos de Maria também fazem parte da produção da família.

A rotina de trabalho envolve acordar de madrugada. “Eu levanto todos os dias às quatro horas da manhã para empacotar mandioca. Tem que tirar da água, colocar no pacotinho e pesar. Depois, carregamos o caminhão. Eu arrumo do café até as sacolinhas, pego tudo e vou para a feira”, explica Maria.

Ilva conta que, depois de se levantar no mesmo horário, ao chegar na feira, é necessário descarregar as dezenas de caixas de verdura, montar a barraca e vender os produtos.

Nesse sentido, as duas irmãs, depois das manhãs nas feiras pela cidade, voltam para o campo. “Eu sempre colho tudo fresquinho no período da tarde. Depois, de noite, amarro o cheiro verde e a salsa”, narra. Dessa forma, preparam todos os itens para começar a maratona de novo no dia seguinte, das hortaliças até produtos como mandioca e abóbora.

“Eu preciso ter determinação! Independentemente de estar frio, calor, ter pouco produto, muito produto: nós precisamos ter a perseverança de ir até a feira e fazer nosso melhor. Eu levanto todos os dias de madrugada sem saber se vou vender ou não vou vender. Na plantação, aquela sementinha vira nossa produção. Depois precisa colher. Às vezes está muito frio, às vezes está aquele sol de 40 graus, e é necessário colher da mesma forma. Não tem sábado, domingo ou feriado”, analisa Ilva sobre os desafios que os produtores rurais e feirantes enfrentam.

Assim como a irmã, ela diz que nunca pensou em mudar de ofício. “Eu adoro fazer feira e levar alimento para as pessoas. Eu não estou só vendendo e fazendo um negócio. O que me deixa feliz é que eu forneço alimento para famílias. Eu ganho o meu pão de cada dia favorecendo os outros também. Ninguém vive sem alimento. Isso é muito satisfatório para mim!”, afirma.

“Eu adoro fazer feira E levar alimento para as pessoas. Eu não estou só vendendo e fazendo um negócio. O que me deixa feliz é que eu forneço alimento para famílias. Eu ganho o meu pão de cada dia favorecendo os outros também. Ninguém vive sem alimento”.

Ilva Aparecida Gordo, feirante há 36 anos
Bauruenses feirantes: conheça a história de duas mulheres que dedicam juntas mais de 80 anos às feiras
Ilva Gordo é bauruense e faz parte de uma família de produtores rurais (Foto: Acervo Pessoal)

Família bauruense

Os pais de Ilva e Maria nasceram em Portugal, mas foi em Bauru que tiveram cinco filhas, as quais formaram as suas próprias famílias, tiveram seus filhos e continuaram, quase todos, no mesmo sítio onde os pais se estabeleceram há décadas. “Meus pai e minha mãe iam de carroça para a feira. Com o tempo, o progresso foi acontecendo. Eu tinha 12 anos quando chegou energia elétrica no sítio”, lembra Ilva.

Dessa forma, ela conta que todos os sobrinhos ajudaram na feira e tiveram o momento de vivenciar o ofício – que alguns seguiram e outros não-, o qual se tornou um porto seguro para toda a família.

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