As duas apareceram juntas na festa de um parente em comum. Sem querer ser deselegante notei que aparentavam quase a minha idade – talvez mais, talvez menos.

Eu as conhecia de vista – talvez do Colégio, talvez dos Terríveis – desde os anos 70, nada além.
Fiquei um tanto incomodado ao saber que viviam maritalmente. Nunca radicalizei, mas confesso: às vezes olhava atravessado para pessoas com essa “diferença”!

Ao vê-las o preconceito quis despertar e gritar nos meus ouvidos:

  • Como pode?

A presença delas, em nossas reuniões familiares, tornou-se constante. Com essa aproximação percebemos tratar-se de pessoas absolutamente “normais” e que tinham carnês a pagar, trabalhavam como nós e, como nós, choravam e sonhavam os sonhos de qualquer mortal.

Ao visitá-las outra constatação: Em seus jardins havia borboletas, as fotografias na parede retratavam suas origens e amor à família. Percebemos, descansando na estante, os nossos autores preferidos e o aparelho de som parecia conhecer nossos CD’s.

Fomos estreitando a amizade paulatinamente. Sentamo-nos várias vezes à mesa para intermináveis sessões de jogos de baralho. Brincamos, jogamos conversa fora e rimos, rimos muito.

Descobrimos, aos poucos, o quanto essas meninas são gigantes em envergadura moral e companheirismo. Descobrimos, também, que orientação sexual nada tem a ver com caráter, ética e respeito. Presumo que lutaram contra discriminações e intolerâncias e tiveram que sobreviver num mundo que considero uma verdadeira “Faixa de Gaza”.

Ainda bem que, antes que eu fechasse a porta, se tornaram nossas amigas. Se, na vida, nossa única obrigação é sermos felizes é justo, também, que cada um busque a felicidade da maneira que melhor lhe convier.

Vocês estão mais que certas – minhas grandes amigas… Sejam felizes!

O Pablo Neruda devolvo semana que vem, prometo!

Uma homenagem à Luzinete Neres (in memorian)

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