Se tudo que você sabe sobre Pole Dance se resume à sua prática dentro de boates, vamos começar de novo. Isso é só uma ponta de um leque diverso de opções dentro dessa versátil arte vertical.

A história do Pole Dance se mistura com a de pessoas que acreditaram no movimento, e que fizeram dessa arte sua voz.

Fernanda Bitencourt é precursora da prática em Marília. Em 2017, abriu um espaço dedicado ao pole, um lugar livre de julgamentos, aberto para todos que tiverem interesse nessa forma de expressão.

O Homem de Força – Mallakhamb

As origens do Pole Dance viajam por diferentes países e culturas.

Desde o século XII, há uma prática na Índia conhecida por Mallakhamb, uma espécie de ioga sobre um poste de madeira. As acrobacias praticadas são muito similares às que vemos hoje nas barras de ferro.

A prática de Mallakhamb é muito comum entre os homens na Índia. (Foto: Shree Samartha Vyayam Mandir)

No fim da década de 1960, o Pole Dance se espalhou por todo o mundo como uma dança erótica, praticada apenas dentro do contexto das casas noturnas. Nesse universo, a relação da prática atrelada à sua sexualização, criou barreiras, estigmas e preconceitos que resistiram durante muitos anos.

A partir dos anos 2000, o Pole se desenvolveu em outras áreas artísticas, ganhou destaque no circo, em academias e no universo da dança.

Um outro olhar

Aos poucos, o Pole Dance tem se inserido em outros contextos, de uma forma muito delicada, bonita.

Sua característica universal encanta quem se aventura pelo estilo. Para ser pole dancer não existe um padrão: pode ser mulher, homem, adulto, criança, terceira idade, gordinho, magrinho, alto, baixo.

A prática do pole não é exclusivamente feminina. (Foto: Art Vertical)

No Art Vertical, estúdio de pole da Fernanda, tem pole dancers de 7 até 65 anos. Essa universalidade do pole, tanto de quem pratica, quanto das opções dentro do esporte, atraem um público cada vez maior de interessados.

O legal do pole é que ele tem um leque muito grande de opções. Cada pessoa vai se identificar com um estilo e com um tipo de movimento: giros, acrobacias, figuras de força, a parte da dança, e por aí vai.

Para se segurar na barra, o corpo faz travas de pressão que podem doer um pouco no início. Por isso, para os pequenos praticantes, o foco são as acrobacias e a parte de força.

Nem as dores param os pole kids, “Aos poucos eles mesmos vão se desafiando, testando seus limites”, comenta a professora.

Uma dá força para outra

A experiência de Fernanda ensinando Pole Dance mostrou que a maior barreira enfrentada pelos alunos é a aceitação do próprio corpo.

No começo, o maior bloqueio é de tirar a blusa, colocar um shorts mais curto. Com o tempo, vão percebendo a necessidade do contato da pele com a barra e começam a se desprender dessas coisas que foram ensinadas, que a gente precisa esconder nosso corpo, ter vergonha do nosso corpo.

Fernanda Viana começou no pole depois dos 40 anos e mostra que não tem idade para praticar. (Foto: Art Vertical)

A prática do pole vai além dos benefícios físicos e de saúde, ele trabalha outro aspecto muito importante, o Empoderamento.

O pole vai tirando alguns bloqueios. O primeiro deles é o do corpo, de se olhar no espelho e se aceitar como você é.

Os estúdios são espaços livres de julgamento, sem competição. O que mais se vê é o respeito e o incentivo para com o próximo, os pole dancers tem uma rede de apoio por todo o mundo, uma comunicação bonita de se ver.

Cada pessoa carrega uma história com o corpo. Cada corpo tem uma facilidade, uma dificuldade. O respeito por essas diferenças é muito legal, por isso que as pessoas no pole são muito unidas.

Nas alturas

Fernanda vive a arte desde os 4 anos. Começou no balé e, quando se deu conta, já estava completamente envolvida com a dança.

Quando eu percebi já estava viajando por causa da dança, me apresentando e competindo.

A pequena Fernanda nunca teve medo de altura, se divertia subindo nas coisas.

Eu tinha uma vizinha que tinha três pés de manga no quintal. Eu e as crianças da rua íamos na casa dela para brincar. Parecia um monte de macaquinho pulando nas árvores.

A arte de subir nas alturas já era um talento antigo de Fernanda. (Foto: Fernanda Bitencourt)

Na adolescência, sofreu uma lesão no tornozelo esquerdo que a frustrou com relação ao balé. Alguns anos depois, conheceu o circo e se apaixonou.

O aéreos me ajudou muito nisso, porque não sobrecarrega (a lesão). Foi aí que eu mergulhei mesmo no circo. Continuei dançando, mas foquei mais na acrobacia.

Mergulhou por esse mundo de acrobacias e de lá surgiu a curiosidade sobre o Pole Dance. O interesse em conhecer a forma de arte em uma barra de ferro foi crescendo cada vez mais.

Nesse processo, Fernanda se deparou com um obstáculo triste e muito comum: o preconceito.

Tive um namorado que me travou muito (com relação ao Pole Dance). Quando eu comentava do meu interesse, era sempre um balde de água fria: ‘mas você quer trabalhar em boate?’. Isso fez com que eu me fechasse. Não deixei de querer, mas não falava mais.

Quando o relacionamento acabou, aquela pequena faísca de curiosidade voltou a crescer. Conversando com um amigo sobre sonhos, comentou da vontade de aprender Pole Dance.

Ele comentou: ‘Nossa, tenho uma amiga em Bauru que dá aula!’. Falei com ela, marquei uma aula e fui.

A facilidade com o pole veio de cara! Sua evolução rápida chamou a atenção de mulheres que, assim como ela, gostariam de aprender um pouco desse esporte difícil de encontrar.

Depois que conheceu o pole, Fernanda não largou mais. (Foto: Fernanda Bitencourt)

O Art Vertical

O Art Vertical nasceu em 2016, um projeto que Fernanda Bitencourt idealizou por conta de seu trabalho com o circo, tecido acrobático e lira.

Com as postagens de fotos de pole em seu perfil nas redes sociais, começaram também os pedidos para que ela desse aula aqui em Marília, ainda não existia ninguém na cidade que fizesse esse trabalho.

No começo, Fernanda conta que ignorou os pedidos, uma vez que já tinha um emprego fixo e via o Pole Dance apenas como um hobby.

A demanda começou a ficar tão intensa, que resolveu abrir sua casa para algumas meninas começarem a praticar.

Não divulguei nada porque trabalhava a semana inteira. Chegou uma fase que eu não estava mais feliz com o meu trabalho e um amigo me deu um chacoalhão. Pedi as contas e fiquei um período dando aula (de pole) na minha casa.

Uma amiga que trabalhava com dança a convidou para abrir uma escola. Fernanda não pensou duas vezes e se jogou de vez no Pole Dance.

Ela me deu muito gás, veio com muita energia. A gente encontrou em espaço legal, alugamos e deu certo, foi crescendo!

Hoje, o Art Vertical abriga 43 alunos, entre Pole Dance, Pole Kids, Aéreos, Oriental Dance e Femme Style.

Entre barras, tecidos e liras, as pequenas divas quebram padrões e preconceitos desde cedo. (Foto: Art Vertical)

Refúgio

O estúdio foi e é um refúgio para muitos que antes tinham receio em se aventurar pelo Pole Dance, seja por barreiras individuais ou preconceitos coletivos.

Para Fernanda, “Ele é essencial, é um refúgio, é a minha voz”. Para muitas de suas alunas e alunos, é empoderamento, força, resistência, apoio e liberdade.

É se sobre se encontrar, se amar e desconstruir padrões.

No começo, quando perguntavam para minha mãe o que eu fazia, ela dizia que eram aulas de dança.

Ela não tinha vergonha do que eu fazia, ela tinha medo do que as pessoas podiam pensar de mim. Agora, ela anda com um monte de cartão meu na bolsa.

Quer saber mais sobre Pole Dance em Marília? Então corre pra conferir o Facebook e Instagram do Art Vertical.


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