A secretaria de Educação e Cultura de Bertópolis, nordeste de Minas Gerais, teve uma ideia inovadora para combater o preconceito existente contra os indígenas da cidade. Na intenção de afastar o ‘medo’ que as crianças têm da tribo da região, o secretário, Gustavo Carrieiros, concluiu que a ideia seria unir culturas e ensinar o diferente.
Aceita a proposta, a cidade da região do Vale do Mucuri adicionou a língua dos Maxakali ao currículo escolar infantil, em busca de desmistificar o que era dito de ruim sobre os nativos. A iniciativa foi abraçada pelo prefeito, Anjinho Depolo, e pelo secretário de Educação, Luiz Salomão, que deram o aval ao projeto.
Aulas e cultura
Todas as aulas são dadas pelo professor indígena Damazinho Maxakali, nas escolas municipais Professor Waldemar Mendes de Castro e Pedro Álvares Cabral, localizadas na comunidade quilombola Bentos.
Além deste projeto, outras ações das secretarias proporcionam essa interação em busca de restabelecer uma valorização e preservação da cultura, com as aulas ensinadas pelo professor indígena. Uma delas é o Intercâmbio Cultural. Ele traz a proposta de fazer visitas à tribo pelas escolas de cidades vizinhas.
A visita monitorada pela tribo leva crianças e jovens a uma legítima aula sobre história, resistência e cultura indígena. “Esperamos que essa ação sirva de espelho para outros municípios brasileiros”, destacou Gustavo, em comentário ao site Primeiro Jornal.
Pontes e vice-versa
O trabalho de integração desenvolvido por Bertópolis não é isolado. A preocupação com a formação acadêmica de professores indígenas no estado de São Paulo também é estudo desde o final de 2018 pelo projeto de uma universidade federal paulista.
É o caso do grupo de trabalho “Por uma licenciatura indígena no Estado de São Paulo”, que se reúne periodicamente na Unifesp com o objetivo de capacitar os professores que lecionam nas aldeias. O projeto trabalha em uma plano para a criação de um curso inédito nas universidades públicas do Estado de licenciatura indígena.
Cristine Takuá, professora na Aldeia Rio Silveira, Litoral Norte de SP. comenta que cerca de 90% dos 360 professores existentes, não têm formação específica ou superior, apenas o ensino médio. “A gente vem já há muitos anos lutando pela formação dos professores indígenas no estado de São Paulo.”, finaliza Cristine Takuá, destacando a grandiosidade do trabalho feito pelo grupo.
19 de Abril
Amanhã, 19 de abril, comemora-se o Dia do Índio no Brasil. Mas o que significa a data?
Há exatos 79 anos, um congresso organizado no México se propôs a debater ações e medidas de proteção aos indígenas do território. Na época, após um boicote inicial, os índios compareceram no Congresso Indigenista Interamericano, realizado em Patzcuaro, para que pudessem compor as discussões e defender suas pautas. O dia, 19 de abril de 1940, foi decretado como marco pelas forças e lideranças presentes na época.
Com o passar dos anos, e fim do Congresso, levantou-se algumas medidas para defesa dos povos. Dentre elas, destacam-se: “respeito por valores positivos de sua identidade histórica e cultural a fim de melhorar situação econômica”; “respeito à igualdade de direitos e oportunidades para todos os grupos da população da América”, “adoção do indigenismo como política de Estado”, e, principalmente, o estabelecimento de “o Dia do Aborígene Americano em 19 de abril”.
Ainda hoje, após muitos cortes e exclusões, a resistência indígena persiste. Em 2017, o então presidente Michel Temer assinou um documento, que limitava o direito das terras aos índios desde que esta “estivesse ocupada pelos indígenas na data da promulgação da Constituição Federal”, o que correspondia a outubro de 1988. Ou seja, alguns representantes foram impedidos de reivindicar terras ocupadas em anos anteriores.
Segundo a Funai, as terras indígenas regularizadas estão espalhadas por todo o país, com concentração maior na Amazônia atualmente. São 436 terras indígenas e 35 reservas indígenas regularizadas. E muitas outras ainda em processo de delimitação, declaração e homologação, definidas por Decreto da Presidência da República.
Fontes: Razões para acreditar; Brasil de Fato; Unifesp; BBC; Funai.