“Cotidiano Literário”, uma coluna de Ramon Franco.

Em setembro passado completei 26 anos de dedicação à Imprensa e ao Jornalismo. Comecei ainda adolescente a escrever para jornal e a entrevistar pessoas para compor um texto jornalístico. Tinha então 16 anos e uma enorme vontade de me tornar escritor. Por aqueles anos, Paulo Coelho despontava com um dos autores mais lidos deste planeta e, para minha empolgação, este autor me remetia ao roqueiro Raul Seixas. Por aqueles anos, Paulo Coelho era o amigo letrista do Raul. Hoje, Paulo Coelho é para mim o amigo do mariliense Nelson Liano Júnior, jornalista radicado no Acre e autor de ‘O despertar de homens comuns’. Nelson, grande amigo que as letras proporcionaram a mim, me presenteou com exemplar desta obra que traz os ensinamentos do guru Sri Prem Baba. Continuo fã de Paulo Coelho, de Raul Seixas e e Nelson Liano Júnior. Dias desses, Nelsinho postou uma foto da exuberante floresta amazônica e sabe quem compartilhou nas suas redes sociais e comentou na postagem? O próprio: Paulo Coelho. O escritor tão traduzido quanto William Shakespeare e que acumula leitores pelo mundo inteiro fez questão de prestigiar e enaltecer uma postagem do mariliense Nelson Liano Júnior. Em tempos de mídia social, este é literalmente um feito para bem poucos.

Na lida de repórter, tive a oportunidade de conhecer grandes ícones da nossa cultura brasileira. Lembro com muito afeto e carinho da amizade que desenvolvi com Sérgio Ricardo (1932-2020). Amizade esta nascida através de uma entrevista que fiz com ele. Aliás, também fora assim que Nelsinho conhecera Paulo Coelho, conforme está descrito em ‘O mago’, biografia do autor de ‘O alquimista’, escrita pelo jornalista e escritor Fernando Morais.

Em 1995, no mesmo ano em que comecei a trabalhar na Imprensa, tive a oportunidade de entrevistar o cantor preferido de milhões de brasileiros: o rei Roberto Carlos. Ele estava em Presidente Prudente para fazer um show na cidade e participar da inauguração de pizzaria de rede multinacional. Naquela época ainda não sabia de muitos aspectos da vida do intérprete de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Aspectos estes que nos foram revelados pelo biógrafo Paulo César de Araújo, que por mais de 15 anos, pesquisou a vida e a obra de Roberto Carlos Braga. Depois que o livro de Paulo César de Araújo foi publicado, o rei da Jovem Guarda e da música romântica brasileira se rebelou e acionou a Justiça para que o livro fosse retirado de circulação. O que, de fato, ocorreu. A música ‘O divã’, por exemplo, conforme análise de Paulo César de Araújo, reúne fortes trechos biográficos de Roberto, passando inclusive pelo acidente que ele sofreu na infância. Lá está retratado o acidente que decepou parte da perna do cantor. A festa, o apito e o grito. A festa era no 29 de junho, data de São Pedro, o linho branco, citado na música, era o paletó do moço que socorreu Roberto Carlos, estancando o sangue da perna com a roupa. Como disse, em 1995 entrevistei Roberto Carlos em Presidente Prudente. Foi a primeira coletiva organizada que participei. Antes, tinha tomado uns fumos bravos do Mário Covas por tentar entrevistá-lo antes dos outros repórteres numa inauguração de casas populares em Assis. Roberto demorou para chegar. Mas quando ele chegou, pude notar que ele não era tão alto quanto eu imaginava. Usava um colete jeans e pude notar no seu peito o medalhão pendurado com um fio de arame encapado. Minha mãe me contou que aquele medalhão o Roberto havia ganhado de uma freira, talvez de Cachoeiro de Itapemirim, que também é terra do grande Sérgio Sampaio (gênio musical de primeira grandeza da música brasileira e também parceiro de Raul Seixas). Consegui fazer três perguntas para o Roberto, numa delas era o motivo dele compor suas músicas enfatizando o amor e a fé. “Sabe, bicho”, começou a me falar o rei, “são as duas coisas mais importantes da vida”, sintetizou. Depois da polêmica envolvendo Roberto Carlos e Paulo César de Araújo, passei a separar os artistas de suas obras. Os artistas são humanos, portanto, repletos de falhas. Mas suas obras não, elas são perfeitas. A biografia sobre o rei escrita por Paulo César de Araújo é ótima e completa. As letras e interpretações de Roberto Carlos, também.

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