Obras em estradas em Marília sempre revelam novos fósseis de dinossauro. Em uma recente descoberta, o diretor do Museu de Paleontologia de Marília, William Nava – com quem cursei o primeiro ano de Jornalismo na Unimar – me levou para fazer o registro fotográfico da rocha retirada nas escavações de uma montanha localizada na serra no entorno da cidade. O que um dia foi o fêmur, ou outra parte da estrutura óssea de um enorme lagarto de 70 milhões de anos, emergia da pedra que passou a ser estudada pelo paleontólogo. Incrível observar a pré-história e, mais ainda incrível, poder tocá-la. Não foi a primeira vez que Nava me surpreendeu com feitos extraordinários. Graças aos esforços dele, pude conhecer o escritor e autor de novelas Walcyr Carrasco. Antes, havia entrevistado Walcyr para uma reportagem especial sobre grandes personalidades que moraram ou nasceram em Marília. Carrasco, autor de ‘Verdades Secretas’, ‘Êta mundo bão’ e ‘Morde & Assopra’, viveu em nossa cidade na infância e adolescência. Ao ler sobre descobertas paleontológicas de Nava, que desde 1993 vem encontrando dinossauros adormecidos em formas de pedras ao redor de Marília, lhe veio a inspiração de ‘Morde & Assopra’. Marília virou, então, set de filmagens e estrelas da Globo – entre elas o mariliense Guilherme Nasrauí – gravaram dezenas de cenas por aqui. Nesta época, trabalhava como repórter de um jornal diário e o elenco da Globo ficou hospedado num hotel na rua Maranhão. Íamos lá entrevistar os fãs e falar com a produção da novela. O ator Marcos Pasquim, um dos atores presentes na cidade, chegou até virar freguês do salão de cabelereiro localizado em frente ao hotel, que era do inesquecível Baiano. Fãs se amontoavam na frente do hotel para fotografar os atores. Meses depois, Walcyr Carrasco voltava para Marília para receber o título de Cidadão Mariliense. Nascido em Bernardino de Campo, o autor até então se considerava mariliense de coração. Obteve enfim sua cidadania de direito, outorgada pelo Poder Legislativo, através de Decreto Legislativo.

Antes da cerimônia, na Câmara Municipal, Nava me apresentou ao novelista. Carrasco me comentou que enquanto permanece em processo de escrita de uma novela não lê autores da nova safra literária, o que me incluía. Tempos antes deste nosso encontro, fiz chegar até as mãos dele um exemplar do meu livro ‘Contos do Japim’, publicado pela Carlini & Caniato em 2010. O autor agradeceu o livro, mas revelou que não leu.

Identificar fósseis em montanhas ou extrair literatura da vida que brota em Marília são atividades muitos semelhantes: para tanto, basta estar com os olhos e ouvidos atentos. Antes de terminar esta crônica, preciso mencionar que ganhei de William Nava um dos livros que persegui uma vida inteira: a edição em espanhol de ‘Cem Anos de Solidão’, de Gabriel García Márquez. Ao lado de um exemplar que tenho autografado pelo próprio Orígenes Lessa, este ‘Cien Años de Soledad’ não deixa a minha biblioteca nem por ordem do pontífice, pois são achados tão preciosos quanto fósseis.

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