Suzymar Alcântara se orgulha de quem é. De salto alto, maquiagem elaborada e cabelos compridos, batalha todos os dias por um mundo mais justo. E, um dos passos mais importantes nessa caminhada, foi a expedição de seu título de eleitora.

Em 2018, Suzy ouviu na rádio, em um dia comum de trabalho como doméstica, que a cidade de Marília já estava emitindo o documento com o nome social – que é o nome pelo qual pessoas transexuais, travestis (em geral) ou qualquer outro gênero preferem ser chamadas cotidianamente.

“Assim que fiquei sabendo, já fui até o poupa-tempo e pedi para fazer o documento”. E, para sua surpresa, era a primeira. “O atendente olhou pra mim e falou ‘nossa, você vai ser a primeira travesti de Marília a tirar o título”, conta.

Foto: Júlia Martins/Solutudo

Suzy ainda tem os nomes de nascimento em outros documentos mas, para ela, ter conseguido tirar o título foi uma grande conquista. “Nós travestis só queremos respeito e, me dar a chance de usar meu nome em um documento significa muito. Me sinto muito mais livre”, diz.

Preconceito e violência

No entanto, a história de Suzy nem sempre foi tranquila. Quando era mais jovem, trabalhava na noite. E foi lá que conheceu seu atual companheiro. Junto dele, vivenciou momentos de terror e violência.

“Uma noite, um grupo de pessoas se aproximou e arrastou meu namorado até o estacionamento de um supermercado. Lá, o espancaram com chutes e cintadas… Apenas porque ele estava junto de uma travesti”, relembra.

Ir até a delegacia não era uma opção na época, portanto, a única saída foi os dois se separarem. Mas, a história não acaba aí.

O coletivo e um reencontro inesperado

Em meio a um mundo intolerante, Suzy encontrou um grupo de pessoas em quem podia confiar: o Coletivo Arco-Íris.

O primeiro contato foi por meio do Concurso Miss Diversidade, organizado pelo coletivo. “Depois desse dia, sempre participo de todas as ações deles. Se tornaram amigos muito queridos”.

Foto: Júlia Martins/Solutudo

E, em uma dessas ações, a Parada da Diversidade, realizada em setembro de 2018, proporcionou à ela um reencontro inesperado. Passados 12 anos desde a agressão sofrido pelo seu então companheiro, Suzy nunca mais o havia encontrado.

Mas, naquele dia, tudo mudou. “É como se passasse um filme na minha cabeça, lembro certinho dele parado me olhando”, lembra.

Os dois se reencontraram naquele dia e, desde então, mantém uma relação que só cresce.

“Eu vejo que a Suzy de antes, antes do coletivo, antes de tudo isso, era meio apagada, sabe. Hoje não, hoje ando de peito erguido e tenho muito orgulho de quem sou”, diz.

Hoje, depois da conquista do título de eleitor, depois de reencontrar um grande amor e depois de conhecer um grupo de pessoas que luta pelo mesmo ideal, Suzy vê motivos para, junto dos amigos e da família, continuar lutando por um mundo mais justo e mais colorido para todos.

Avalie este conteúdo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, deixe o seu comentário
Por favor insira o seu nome aqui