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Dá pra reconhecer de longe. Sentado no banco de madeira que ele mesmo fez, Seu Severino traja seu característico chapéu verde. Chego, me apresento e sou recebida com um aperto de mão caloroso. “Ô minha filha, senta aqui”, diz.

Foto: Júlia Martins/Solutudo

Sentamos juntos, ao lado de uma casinha simpática, cor-de-rosa, com o telhado roxo. Nela, os dizeres “Biblioteca Comunitária” me chamam a atenção.

“Vish, isso daí foi uma ideia que eu tive. Mas a casinha ficou feia que só, tá muito mal construída”, conta Seu Severino.

A praça, que fica no Jardim Cavallari, é bem em frente a uma escola. E logo começam a chegar crianças, adultos e vizinhos. Todos eles se sentam nas mesinhas feitas por Severino.

Do Nordeste pra cá

Não demora e ele começa a contar sua história. Nordestino de nascença, Severino se mudou para São Paulo quando ainda era criança. Lá, viveu sua infância trabalhando na lavoura com a família.

“Como eu tinha alguns parentes que moravam aqui em Marília, vinha visitar a cidade com frequência. E aí, há dois anos, me mudei pra cá”, conta.

Ao me mostrar a praça, Seu Severino faz questão de falar das mudas que os voluntários levam. (Foto: Júlia Martins/Solutudo)

E, desde então, o aposentado ganhou um novo xodó: a praça. Ele, junto de outros moradores da comunidade, fazem um trabalho voluntário de preservação do local. Orgulhoso, decidiu me mostrar tudo com um “tour” personalizado.

“Os outros voluntários plantaram todas essas mudinhas. E aí eu venho todo dia pra ‘aguar’. Construímos os banquinhos, pro pessoal poder sentar pra conversar, né”, explica.

Foto: Júlia Martins/Solutudo

Em uma das árvores, um aviso que chama a atenção. Escrito em vermelho, pede para que os donos recolham a sujeira feita pelos bichinhos. E o melhor: Severino ainda colocou várias sacolinhas para ajudar quem não saiu preparado de casa.

Eu amo os bichinhos. Mas, os donos precisam ter mais consciência porque aqui vem criança pequena e também porque não podemos sujar a praça desse jeito né. Escrevi de vermelho que é pra chamar bastante atenção”, conta o aposentado.

Preocupado com a limpeza da praça, o aposentado oferece sacolinhas para que os donos recolham a sujeira de seus bichinhos. (Foto: Júlia Martins/Solutudo)

Um caso de amor

Além da praça, o coração de Severino abre espacinho para um outro amor: os livros. Logo que toco no assunto, já se apressa a mostrar as caixas de livros que carrega na Kombi.

“Não entendo dessas tecnologias novas aí, – e aponta para o celular que está no meu colo – gosto mesmo é de livro, que dá pra folhear, cheirar e sentir. Tenho caixas cheias deles lá dentro da Kombi, carrego para todo lugar”, conta.

E foi desse amor que surgiu a ideia. Quando pergunto sobre a simpática casinha, ele logo se apronta para explicar como a construiu. “Não tá muito boa, mas eu que montei tudo”, afirma orgulhoso.

Foto: Júlia Martins/Solutudo

Pedaços de madeira que sobram nas construções, canos de PVC e muito amor deram vida à Biblioteca Comunitária, ou, Biblioteca do Seu Severino, como prefiro chamar.

Na frente, “zele e cuide, é de todos”. Dentro, tudo organizado e separado por, pasmem, categorias! Tem livro de adulto, criança, livro didático, livro religioso, livro pra tudo e pra todos.

“O pessoal doa bastante pra mim, por isso que já tem esse tantão. Mas é só vir aqui, pegar, sentar e ler. Só não pode esquecer de devolver depois, né [risos]”, explica.

Mas, e a noite? Pergunto. E é aí que Severino releva seu lado mais precioso: o lado que confia nas pessoas, independentemente.

“Eu quero conscientizar as pessoas. Você não pega o que não é seu, certo? Então não tem porque pegarem esses livros. Eles tão aqui pra todo mundo, quero que todos possam ler”, diz.

Os livros dentro da casinha ficam separados por categoria. (Foto: Júlia Martins/Solutudo)

Como uma corrente

Seu Severino já era conhecido no bairro. Agora, depois da “inauguração” da sua Biblioteca Comunitária, já até recebeu convites para reproduzir a ideia em outros locais da cidade.

“Já me pediram pra montar em condomínio, em outros lugares da cidade. Mas, primeiro, quero deixar essa daqui mais bonitinha. E também, meu desejo é que outras pessoas comecem a fazer o mesmo também. Cuidar das nossas praças e valorizar os nossos livros”, explica.

E é com essa inspiração que me despeço de Seu Severino. Mas, com uma promessa de voltar para vê-lo e acompanhar a evolução de sua biblioteca. De uma amante de livros para outro, que Severino possa continuar espalhando histórias e criando a própria história.

Confira essa e outras histórias da cidade no site da Solutudo Marília!


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