João Geada tornou-se nacionalmente conhecido na década de 90 pela sua emblemática luta pela preservação de um centenário Ipê roxo ameaçado de ser derrubado para dar lugar a construção de casas populares. Passou quase 40 horas sobre ela e virou notícia no Brasil inteiro.

João Geada

João Aparecido Lopes, 61, é casado com a sra. Dora e tem 3 filhos e 10 netos. Linense desde o nascimento, é aposentado e apaixonado por contar histórias da cidade.

João Geada e a esposa, sra. Dora

Mas afinal, por que João Geada?

Ainda na juventude, pouco tempo depois da dispensa do serviço militar, conseguiu trabalho na SABESP. Em certa ocasião a cidade sofreu uma onda de frio muito intensa. Por morar em região baixa, tudo ficou ainda mais crítico. A combinação da geada do dia mais alguns afazeres o fizeram atrasar na chegada ao trabalho. Literalmente congelando, ao chegar no depósito da empresa, correu para procurar aquecer o corpo. Os colegas de trabalho viram o seu comportamento um tanto cômico e a partir daí passaram a chama-lo de João Geada. Aliás, enquanto ele atendeu o telefone ao meu lado, não se identificou como João, e sim como Geada.

O Ipê roxo

Era 1991. Lins comemorou o anúncio da construção de centenas de casas populares. Um brilhante sinal de progresso. Um “gigante detalhe” surgiu: Um centenário ipê roxo de quase 40 metros de altura era considerado de imprópria permanência, pois embora ocupava área destinada a calçada, por já ser antiga e com presença de cupins, era vista como potencial risco a segurança. Lins tinha 71 anos à época, e o Ipê estimado em 130 anos.

Onde entra João Geada na história?

Enquanto morador nas regiões próximas, sempre admirou a árvore centenária. A notícia de que ela precisaria ser cortada o deixou desolado.

Diversas ações foram promovidas por ele na intenção de impedir a derrubada. Os recortes dos jornais registram algumas delas, como reuniões diversas com autoridades, mobilização da impressa local e até mesmo uma grande faixa posta a 10 metros de altura no próprio ipê. Chegava a receber promessas de manutenção, até mesmo reposição de mil outros ipês. João Geada queria que o Ipê Centenário fosse preservado e que garantias fossem registradas.

Recorte do Jornal Correio de Lins em 1992

Ficava vigiando de longe o tempo todo. Quando percebia movimentações próxima a ele, vinha correndo à proteção. A luta durou 6 meses.

João Geada é capa do Jornal Correio de Lins nos dias 7 e 8 de Dezembro de 1991

Diante da ordem expressa da derribada a árvore, enquanto viajava à Bauru com seus dois irmãos, discorriam no carro sobre como encontrar uma saída para preservação do ipê; seu irmão Paulinho (do Supermercado Bom Viver) e outro “carinhosamente” chamado de carrapato, deram-lhe a ideia:

-E se você subisse na árvore e ficasse por lá?

Ousado, João Geada não demorou à cumprir a sugestão do seus irmãos. O recorte de Abril de 1992 do Jornal Correio de Lins mostra um radialista subindo na árvore para entrevistá-lo

João Geada entendeu ser uma grande oportunidade de sua luta ganhar força. Chegando a Lins, emprestou uma escada de dois lances de um comerciante e as 4h da manhã lá estava ele na primeira forquilha da centenária, amplamente apoiado pela esposa. Logo centenas de populares compareceram. João ganhou apoio maciço. Tinha protetores, alimentação e uma rede foi oferecida, em que ele passou quase 40 horas sobre.

Recorte do Jornal Correio de Lins em Abril de 1992

A repercussão da ação

Recorte do Jornal Correio de Lins de Abril de 12 de Abril de 1992 comentando a repercussão

Além da presença continua dos populares, toda imprensa local compareceu, e ainda redes de TV nacionais passaram a cobrir o caso. Foi destaque nos principais telejornais do Brasil. Para conceder a reportagem, os repórteres precisavam subir a escada ou ainda, o microfone era levado por alguém. Um radialista amigo o convenceu a descer.

O repórter Lúcio de Melo da Rede Globo o entrevistando.

Enfim, o ipê foi derrubado

João Geada estava inconformado. Uma semana depois, ao findar de constante período de chuvas intensas, junto à impressa e centenas de populares, assistiu às 10:30 do dia 14 de Abril de 1992 a queda do gigante ipê roxo.

De repente ali estava a arvore mais antiga que a própria cidade, cruzando a rua que hoje se chama Gonçalves Dias, no Alto da Boa Vista.

Um final feliz

Derrubada, João Geada propôs que seus troncos não fossem cortados de qualquer forma. Pedido atendido, obteve-se 220 metros de tábuas para curral e 12 dúzias de balancim para cerca rural.

Havia na cidade um garoto que sofria de grave problemas digestivos. A família conseguiu 50% do valor necessário para realizar uma cirurgia corretiva.

 João Geada conhecendo a história, destinou as madeiras para a família vender e assim completar o valor para realização do procedimento cirúrgico. O planejamento se concretizou e o garoto pode realizar a cirurgia.

João Geada sente que a luta valeu a pena. Apesar da queda da árvore, ficou de pé o símbolo de persistência e perseverança. Atualmente ele possui um recanto conhecido como “Caipirão” que oferece aos moradores oportunidade de locação para eventos. Superou alguns problemas graves de saúde e gosta de relembrar os fatos que marcaram sua trajetória na cidade.


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