O fiel ou visitante que adentra a Catedral Metropolitana de Botucatu utilizando a rampa de acesso do lado esquerdo, logo se depara com uma capelinha iluminada, reforçada em aço e vidro, que guarda uma pequena imagem. Os menos avisados podem até considerá-la sem relevância, simples demais se comparada à beleza de tantas outras que ornamentam a principal construção do Centro Histórico da Cidade.

Mas ali está uma relíquia histórica, que há cerca de um mês foi incorporada ao patrimônio da Catedral e permanecerá exposta ao público de forma permanente. Trata-se da primeira imagem de Santana de que se tem registro em terras botucatuenses. Ela foi trazida por D. Anna Florisbela Machado de Oliveira e Vasconcellos, esposa do capitão José Gomes Pinheiro, fundador da cidade.

Imagem foi trazida à cidade no século XIX pelos fundadores de Botucatu
Foto: Carlos Pessoa

Esculpida em terra-cota, data do século XIX e após pertencer ao escritor e folclorista Alceu Maynard de Araújo, desde 1962 estava sob a guarda da família do escritor Francisco Marins. A ideia de incorporá-la ao patrimônio da igreja partiu do padre Emerson Anizi, como um presente para a comunidade na comemoração dos 75 anos da Catedral. A missão contou com ajuda providencial do padre José Marins, irmão de Francisco Marins.   

“Foi uma divina missão fazer com que a imagem chegasse até a Catedral. Pouco antes da festa de Santana, junto com o padre Marins, estive com dona Elvira, esposa do Dr. Francisco. Pedi a ela que nos desse a graça de ter a imagem de Santana, não apenas como patrimônio da igreja, mas como um patrimônio cultural do nosso povo. Agradeci todo cuidado que ela, ao lado do Dr. Francisco, teve durante tantos anos na guarda da imagem. Ela nos atendeu prontamente e permitiu que no mesmo dia já trouxesse essa relíquia comigo”.

Padre Emerson e a imagem histórica de Santana
Foto: Carlos Pessoa

No último 26 de julho, dia de Santana, a imagem foi introduzida no nicho principal da Catedral. Dentro do artefato, cujo interior é oco, está acondicionada a carta original, datada de 1962, em que Alceu Maynard de Araújo explica os motivos que o levou a passá-la à guarda de Marins.

“… era de Vovó Rita esta imagem de Santana que deve ter agora perto de 200 anos. Depois de eu ter lido “Clarão na Serra”, já não me pertence mais, é sua, oferto-a de todo coração. A saga dos pioneiros de Botucatu tomou posse dela. Hoje ela é sua – uma terra cota centenária”.

Original da carta de doação da imagem ao escritor Francisco Marins
Foto: Emerson Anizi

Padre Emerson diz que a motivação para buscar a imagem era o desejo de torná-la visível para todos, além de promover o resgate de um pedaço da história de Botucatu. “Hoje a Catedral é um marco histórico e cartão postal da cidade. Uma referência independente de fé e religião. Creio que o melhor lugar para tê-la seja aqui mesmo”, afirma.

O religioso reconhece que a imagem original de Santana, pequena e simples, pode até passar despercebida por muitos, mas carrega profundo simbolismo e identificação com a cidade.

“A beleza está nos detalhes. Não é uma imagem bela, como estamos acostumados a ver, mas demonstra a simplicidade de dona Ana Florisbela, na sua devoção a Santana e a simplicidade das pessoas que começaram a construir a grandeza que Botucatu é hoje. A imagem reflete a simplicidade de nosso povo. Como diz o Evangelho, mesmo que sua fé seja simples e pequena, se for verdadeira, você será capaz de transportar montanhas. Essa relíquia tem uma beleza incorporada na história que carrega”.

Restauro

Uma grande preocupação é quanto a preservação de uma peça com cerca de dois séculos de existência e de relevante valor histórico. A restauradora do Museu de Arte Sacra de São Paulo, Cláudia Sena, que há cerca de dois anos presta serviços voluntários à Catedral de Botucatu, já foi acionada para fazer uma avaliação minuciosa e, logo em seguida, iniciar o trabalho de restauro com a finalidade de devolvê-la às condições originais.

“Trata-se de uma profissional renomada, que já restaurou a imagem histórica de Santana que está na sacristia da Catedral. Ela conseguiu recuperar toda pintura original, descobrindo inclusive que o olho da imagem, que havia sido danificado por camadas de pinturas, é de vidro. Também já fez a recuperação da primeira imagem de Nossa Senhora das Dores, usada por muitos anos nas procissões da Semana Santa. Do mesmo modo vamos proceder com a essa relíquia histórica de Santana, que será restaurada e receberá aplicação de produtos para protegê-la de fungos e garantir a conservação adequada”.

Trabalho de restauro de outras imagens feito por Cláudia Sena
Foto: Emerson Anizi
Trabalho de restauro de outras imagens feito por Cláudia Sena
Foto: Emerson Anizi

Tecnologia

Hoje, a pequena Santana está numa caixa de aço, chumbada na parede principal em uma das laterais da Catedral e blindada com vidro para que esteja protegida da ação do tempo e de vândalos. Padre Emerson pretende inserir as informações sobre essa nossa aquisição e todos os dados históricos e turísticos que envolvem a igreja em uma nova plataforma de informações. 

Nesta semana, o religioso tem reunião em São Paulo com uma empresa de marketing para avaliar a viabilidade financeira de instalação de totens com tecnologia touch screen. A ideia é que o fiel ou visitante possa fazer um tour virtual pela igreja, conhecendo sua história e curiosidades. Mas quem busca informações já pode acessá-las através do site https://catedraldebotucatu.org.br/ por meio do facebook ou baixando o aplicativo da Catedral de Botucatu.


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