Críticos literários admitem que o talento da escritora botucatuense Maria José Dupré, um dos maiores nomes da literatura infanto-juvenil brasileira, merecia maior reconhecimento.
A nova adaptação para TV de seu maior sucesso, o romance “Éramos Seis”, é mais uma oportunidade para comprovar toda a capacidade da autora. A próxima novela das seis da Rede Globo, que levava o mesmo nome, estreia na próxima segunda-feira (30).
E os botucatuenses, conhecem a trajetória da famosa conterrânea Maria José Dupré???? Trazemos abaixo alguns dos principais detalhes que marcaram sua vida. Confira!
Duas datas de nascimento
Os registros biográficos trazem duas datas diferentes para o nascimento de Maria José Dupré: 1º de maio de 1898 e 1º de maio de 1905. O certo é que a escritora nasceu na Fazenda Bela Vista, em Botucatu, filha de Antônio Lopes de Oliveira Monteiro e de Rosa Augusta de Barros Fleury.
Infância em Botucatu, depois São Paulo
Foi alfabetizada pela mãe e pelo irmão mais velho. Ainda em Botucatu, tomou aulas particulares de música e pintura no Colégio dos Anjos (atual Colégio Santa Marcelina). Sobre a sua casa natal, a fazenda Bela Vista, escreveu:
“Não olhei para trás quando deixei a chácara pela ultima vez. Só voltei a cidade uns vinte anos depois e nada mais existia: nem a casa, nem as árvores, nem os pássaros. Em seu lugar haviam construido uma Escola Profissional ou instituto não sei bem…”
Mudou-se para a cidade de São Paulo, cursou a Escola Normal Caetano de Campos, onde formou-se professora. Logo em seguida veio o casamento com o engenheiro Leandro Dupré, passando então ao nome de casada: Maria José Fleury Monteiro Dupré.
Primeira experiência literária
Ocorreu em 1939, quando publicou no suplemento literário do jornal paulista “O Estado de S. Paulo” o conto “Meninas Tristes”, usando o pseudônimo Mary Joseph. Esse conto foi republicado posteriormente em sua coletânea de contos “A Casa do Ódio” (1951).
Pseudônimo polêmico e primeiro romance
No começo da década de 1940, na sede da Companhia Editora Nacional, em São Paulo, em uma reunião se discutia a publicação de seu primeiro romance, que teria todas as despesas pagas por seu marido. A autora disse que preferia continuar usando o pseudônimo Mary Joseph.
A escolha gerou polêmica, já que o editor, Arthur Neves, dizia que um romance com tal pseudônimo já estava condenado ao fracasso. Por fim, o marido da escritora sugeriu: “E se ficar Senhora Leandro Dupré?”
A sugestão foi aceita e em 1941 chegava às livrarias, em publicação da editora Civilização Brasileira (pertencente à Companhia Editora Nacional), “O Romance de Teresa Bernard”.
Investimento recuperado
A obra alcançou sucesso imediato, a edição se esgotou em pouco tempo, proporcionando rapidamente ao engenheiro Leandro Dupré a recuperação de todo capital investido no lançamento da esposa como escritora. Uma nova tiragem foi providenciada, dessa vez totalmente custeada pela editora e lançada em 1943.
Éramos Seis, o grande sucesso
O maior sucesso de Maria José Dupré chegou às livrarias pela primeira vez em 1943. Éramos Seis conta a história de luta e perseverança de uma família, que com coragem enfrenta os problemas do dia a dia e sobrevive em meio às dificuldades econômicas.
O livro, que ganhou o Prêmio Raul Pompéia (da Academia Brasileira de Letras) em 1944, foi escrito inicialmente para o público adulto, mas ao ser colocado no catálogo da coleção Vaga-Lume da editora Ática, a partir 1973, passou a ser lido por muitos jovens em idade escolar.
Foram milhões de cópias vendidas, além de tradução para o espanhol e francês. Também foi o primeiro romance brasileiro traduzido para o sueco.
Obra foi parar na telinha e na telona
Éramos Seis virou filme produzido pelo cinema argentino em 1945. A obra também foi adaptada pela televisão brasileira como telenovelas.
A primeira adaptação foi escrita por Ciro Bassini e era exibida ao vivo, duas vezes por semana, em 1958, pela TV Record. A segunda, de Pola Civelli, foi exibida pela TV Tupi no horário das 19 horas, entre 1º de maio e 2 de junho de 1967.
A terceira adaptação, de Sílvio de Abreu e Rubens Ewald Filho, também foi exibida pela TV Tupi no horário das 19 horas (depois alterado para 19h30), entre 6 de junho e 31 de dezembro de 1977. A quarta adaptação foi exibida pelo SBT no horário das 19h45, entre 9 de maio e 5 de dezembro de 1994.
Dona da própria editora
Em maio de 1943, Maria José Dupré fundou a editora Brasiliense. Tinha como sócios o marido Leandro Dupré, o historiador Caio Prado Júnior, o escritor Monteiro Lobato e o editor Arthur Neves. A escritora utilizou sua casa como sede no início das atividades.
Público infanto-juvenil
“Aventuras de Vera, Lúcia, Pingo e Pipoca”, publicado em 1943 pela Editora Brasiliense, foi o primeiro livro direcionado ao público infanto-juvenil da escritora que ainda utilizava o pseudônimo Senhora Leandro Dupré. A obra foi premiada no ano seguinte pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
As garotas e seus primos voltariam posteriormente em outros livros da escritora para viver novas aventuras: “A Ilha Perdida” (1944), “A Montanha Encantada” (1945) e “A Mina de Ouro” (1946).
Surge o cachorrinho Samba
No livro “A Mina de Ouro”, pela primeira vez surge o cachorrinho Samba. Posteriormente, Dupré escreveu uma nova série de seis livros inteiramente protagonizada pelo personagem: “O Cachorrinho Samba”(1949), “O Cachorrinho Samba na Floresta” (1952), “O Cachorrinho Samba na Bahia” (1957), “O Cachorrinho Samba na Rússia” (1964), “O Cachorrinho Samba Entre os Índios” (1965) e “O Cachorrinho Samba na Fazenda” (1967).
Outras obras
Entre 1944 e 1969, publicou “Luz e Sombra”, “Gina” (também virou novel a na TV Globo em 1978), “Os Rodriguez”, “Dona Lola (continuação de Éramos Seis), “A Casa de Ódio”, “Vila Soledade”, “Angélica”, “Menina Isabel” e “Os Caminhos”.
Atividades e morte
Dupré foi membro diretivo da Sociedade Paulista de Escritores, vice-presidente da Creche Baronesa de Limeira e da entidade beneficente Gota de Leite – trabalhos que, se não necessariamente feminista, capitaneava nos estados brasileiros dos anos 1930-40 a luta pelas conquistas femininas. Faleceu no Guarujá, no dia 15 de maio de 1984, vítima de derrame cerebral.
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Gostei muito de saber sobre a escritora. Só queria registrar que, tenho agora 72 anos e a primeira vez que li Éramos Seis, na década de 60, a autoria que vinha era de “Madame Leandro Dupré”! Depois , quando eu já lecionava, vinha Sra Leandro Dupré. Agora , este ano é que descobri o nome dela !
Que legal moça, que curiosidade ??
O livro A Montanha Encantada foi crucial para o desenvolvimento do meu imaginário. Ao lê-lo quando criança, minha mente se abriu para o mundo da fantasia, crucial para que possamos, já adultos, ressignificar a realidade e transcendê-la. Acho que toda criança deveria lê-lo e depois ler A Ilha Perdida.