Um teste despretensioso no distante ano de 1977, na Rádio Emissora de Botucatu (PRF-8), deu início à carreira de um locutor que viria a se transformar no “rei de flashback”, tocando o melhor dos velhinhos e velhinhas, como ele mesmo costuma dizer.

Nascido na Vila dos Lavradores, Eduardo Borges dos Santos Filho, 59 anos, filho de um pedreiro e de uma costureira, virou Eduardo Fofát. “No meu início no rádio, devido à semelhança de timbre de voz e da maneira de comunicar de um locutor da Excelsior, César Fofá, começaram a me chamar por Fofá. Pegou. Adaptei para Fofát e acabou ficando”.

Ainda garoto, tempo em que estudou na escola Dom Lúcio Antunes de Souza, gostava de ouvir rádio. Principalmente de acompanhar as transmissões de futebol, com locutores consagrados que marcaram época com narrações velozes e repletas de bordões. Fazia o seu estilo.

Jovem, formou-se técnico em eletrônica na Escola Industrial. Mais tarde viria a cursar Estudos Sociais e formar-se em Direito. Mas o rádio transformou-se em grande paixão. Aquele teste em que foi aprovado, 42 anos atrás, deu-lhe a chance de ouro de conviver e aprender com grandes mestres como Adalberto Matos, Plínio Paganini, Elias Francisco, Santos Heitor, Rubens Roberto Herbst. “A F-8 era uma escola de rádio”, lembra com carinho.

O COMEÇO DE TUDO

Após alguns meses de laboratório já comandava três programas. Começou com o semanal “Microfone Aberto” e tocava os hits da época aos sábados à noite e domingos à tarde. “Desde então meus finais de semana foram ceifados e preenchidos pelo rádio”, sentencia.

Em 1979, com a inauguração da Cultura FM, passou a integrar o casting de locutores, onde fez sucesso com o programa Geração Jeans, tocando pop music. Nos estúdios que ficavam na Rua Seichi Konishi, nos altos da Boa Vista, conviveu com nomes como Laudenir Gonçalves, Luiz Valter Rosseto, Gilberto Silva, Valter Contessote, Hélio Donato, Silvio Bicudo, Francisco Carlos Tancler.

Fofát em ação, no estúdio da Cultura FM, em 1990
Foto: arquivo pessoal

Seu jeito muito particular a frente do microfone tem como fonte de inspiração a escola de rádio americana. Versatilidade e rapidez dos anos 70 e 80. “Comecei a implantar esse ritmo de locução rápido, dinâmico, com alguns bordões. Virou uma marca”.

Teve uma passagem rápida pela Rádio e TV Morada do Sol, em Araraquara, uma potência no interior de São Paulo. Depois nova passagem pela FM Cultura, até acertar com a Clube FM, onde trabalha há mais de 20 anos. Boa parte deles apresentando o Baú do Fofát, programa de flashbacks que faz sucesso nas manhãs de domingo.

Sorriso entre os vinis na Clube FM, onde está há mais de 20 anos
Foto: arquivo pessoal

Essa predileção por músicas “mais velhinhas” transformou Fofát numa espécie de figura cult. Um ícone para quem tem mais de 40 anos. Formou uma legião de fãs que assim como ele não se identifica com o tipo de música que toca na atualidade. Tanto que o Baú do Fofát transformou-se em balada revival, sempre com casa cheia. A próxima acontecerá no dia 7 de setembro, na Associação Atlética Botucatuense.

Baú do Fofát virou balada para quem curte flashback
Foto: divulgação

“As décadas de 70, 80 e parte da de 90 foram riquíssimas em termos de produção musical. Depois disso acabou a música de qualidade. Tanto que as casas noturnas de hoje estão regravando os flashbacks com batida eletrônica. Sou um privilegiado porque os sucessos que toquei como lançamentos há trinta anos hoje posso tocar também como flashbacks”.

Na estrada há tantos anos, Fofát acompanhou a transformação do rádio. Do vinil, passando pela fita de rolo, cartucheira, mini disc, CD, até chegar na era digital, também viu o estilo de locução mudar bastante. Na sua opinião, com a evolução tecnológica, ficou mais fácil fazer rádio.

“Mas sem a bagagem, o locutor acaba só falando a hora e mais uma coisa ou outra. Não prende a atenção do ouvinte. Pra mim o rádio é uma máquina de fazer amigos. Hoje em dia um dos maiores problemas é a solidão e o rádio preenche esse espaço. Não deixa ninguém sozinho. Se você usa o microfone e traz uma mensagem alegre, otimista, muitas vezes é tudo o que a pessoa gostaria de ouvir naquele momento. A gente cria um vínculo muito especial com o ouvinte. Isso é muito gratificante”.

LADO B

Em 1982 foi trabalhar na Prefeitura de Botucatu onde permaneceu até 1987, ano em que foi aprovado no concurso para escrivão de polícia. Fez carreira por 30 anos, vindo a aposentar-se em 2017.

“Quem não conhece o trabalho policial não imagina o quão desgastante é para a pessoa e para a família. Plantões, não tem final de semana, não tem feriado, natal, ano novo, carnaval. Nesses dias é que há o número maior de ocorrências. Quando poderia estar descansando, o policial trabalha em dobro. Mas foi uma experiência de vida muito boa para mim”.

Conheceu sua esposa em 1986. Passava por um período difícil, em razão da perda da avó Filomena, a quem era muito ligado. Patrícia, a quem costuma chamar carinhosamente de “olhos azuis”, renovou sua vida. Disseram o sim no altar em 1993. “Eu a amo muito. A força da nossa união rompe todas as barreiras e qualquer dificuldade”.

Fofát e Patrícia subiram ao altar em janeiro de 1993
Foto: arquivo pessoal

Do casamento nasceu Eduardo Borges dos Santos Neto, chamado carinhosamente de Dudu ou Eduardinho, que completa 22 anos em dezembro. Assim como o pai, o garoto cursa Direito. Assim como o pai, tem paixão pelo rádio. A chegada do filho animou Fofát a criar novos bordões, dedicados especialmente ao herdeiro. Ficaram célebres o “Eduardinho papai te ama” e a não menos famosa: “Como diz Dudu vou pendurar você no varal igual carne seca e você vai ver o que é bom pra tosse”.

Fofát e Dudu: paixão pelo rádio de pai para filho
Foto: Carlos Pessoa

Pertinho de entrar para o clube dos sessentões, Fofát reconhece que se transforma e se realiza através do rádio. “Sou um cara muito tímido e me solto com o microfone. É algo inexplicável. É uma satisfação muito grande dividir aquilo que sentimos com as pessoas. As frases vão brotando, fruto de inspiração que não sei de onde vem. O que faço me faz bem para mim e fico satisfeito de saber que faz bem para outras pessoas”.

Em menos de meia hora de conversa, fica uma certeza: Fofát é o típico sujeito “gente boa”. Humilde, acessível, gentil. Figura rara nos tempos atuais. Um homem versão flash back que sempre estará nas paradas de sucesso.

Fofát: rei do flashback é um homem realizado e feliz
Foto: Carlos Pessoa

Playlist do Fofát

Louis Armstrong – What a Wonderful World

Crowded House – Don’t Dream It’s Over

John Lennon – Imagine

Bee Gees – How Deep Is Your Love

Billy Joel – Angel

The Eagles – Hotel California

The Queen – We Are The Champions

George Harrison – My Sweet Lord

Whitney Houston – I Will Always Love You

Gino Vanelli – Hurts To Be In Love


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