Maria Aparecida Voltarelli Zorzella, mais conhecida como Cidinha, me recebeu em sua casa em uma tarde de uma segunda-feira. Sentou-se em uma das cadeiras que estavam dispostas em volta da mesa e logo queria arrancar o band-aid: “é pra começar já?”.

Apesar de ter me recebido com um sorriso no rosto, o desconforto era evidente. “Falar sobre isso é como uma ferida que a gente fica abrindo. Mas eu sei que tem muita gente que tá começando essa luta agora e é por isso que eu dou entrevista e palestra, pra mostrar que a gente vence sim. É doloroso, mexe com a gente, mas vale a pena. Não desistir nunca, jamais“.

Cidinha conta um pouco da sua trajetória na luta conta o câncer de mama, até os dias atuais. (Gravação, edição e montagem por Nathalia Machado)

A vida durante o tratamento

A oncologista Lia Rachel recomendou nove sessões de quimioterapia, mas algo aconteceu na metade do caminho. Certo dia, após sentir efeitos colaterais do tratamento, Cidinha resolveu tomar uma dipirona e deitou-se para descansar.

Levantou para ir ao banheiro, mas subitamente sentiu sua pressão cair. A vista foi escurecendo e a autônoma desmaiou antes mesmo de conseguir sentar no vaso sanitário. Permaneceu caída no chão por algum tempo. Acordou desorientada, gritando seus dois filhos: Renan e Luan.

Luan estava dormindo em seu quarto quando escutou a voz da mãe: “Luan, Renan! Socorro!”. De prontidão, Luan chamou seu irmão e ambos levaram Cidinha até o hospital. “Eles me levaram pra Santa Casa. Fiz tomografia e raio-x. Tinha afundado o crânio e quebrado duas costelas. Deram a opção de tratar com antibiótico, mas a cada 7 dias com antibiótico, são 7 dias sem quimioterapia“.

Muito ansiosa para finalizar seu tratamento, Cidinha decidiu não tomar os remédios, para não postergar nem um dia a quimioterapia. Infelizmente, essa decisão quase custou a sua vida, pois “assim que as costelas estavam quase cicatrizadas, eu peguei uma pneumonia. Aí, dessa vez, eu quase fui. Vi a tal da luz la do fundo. Teve até um momento que eu pedi né, não aguentava mais sofrer”.

Mas ainda não era sua hora. Depois de um mês “jogada na cama e sem quimio, eu finalmente melhorei”. Logo após o episódio, ela voltou a realizar as sessões de quimioterapia faltantes.

Quando seus cabelos começaram a cair, Maria Aparecida foi até o banheiro e decidiu raspar a cabeça e acabar com tudo aquilo de uma vez. Tomou seu banho, tirando os fios que penicavam a sua nuca e ombro. Quando saiu, uma surpresa! “O que mexeu muito comigo foi quando eu saí e tava meu marido, meus filhos e meus irmãos todos de cabeça raspada. Aquilo me deu muita força pra terminar o tratamento, eu me senti muito amparada por todos”.

Quando adoeceu, em meados de 2015, Cidinha se preocupou com o futuro. “Eu perguntava a Deus se eu conseguiria ver meus filhos formados, era meu maior sonho”, já que naquele ano, seu primogênito estava no 1º ano de Engenharia de Mecanização Agrícola. Quatro anos depois, a resposta veio. Cidinha conseguiu comparecer na colação de grau, na festa de formatura e na formatura do 3º ano do ensino médio do caçula.

A vida hoje

Maria Aparecida mantém na garagem de sua casa uma pequena lojinha, onde vende lingeries, semi-jóias e bolsas. Ela divide seu tempo entre o pequeno comércio, as palestras e encontros do Amigos do COM e os planos para suas próximas viagens. Em abril de 2020 o destino já está marcado, ela e seu marido visitarão Porto Seguro, na Bahia.

“Hoje, levantar disposta e sem dor, é tudo. Não preciso de mais nada, só quero viver, viajar. É isso que você leva da vida: comer bem, passear, conhecer o mundo e ser feliz. Se eu tivesse morrido naquela época, eu tinha deixado de fazer tanta coisa que não fiz. Tudo por conta de ‘ai, preciso economizar, pra isso e pra aquilo’. Hoje sei que isso não pode, tem que viver!”

A autônoma vê uma clara mudança em si, pois “antes eu era muito apegada nas coisas, a vencer, queria carro zero. Minha vida era isso, queria só subir. Não que isso seja errado, mas hoje eu vejo que tenho que viver o momento com mais intensidade. Eu agradeço todos os dias pela minha saúde, isso que é essencial”.

Cidinha finaliza dizendo que “você acha que o câncer não vai acontecer com você, mas essas coisas acontecem. E depois dele, eu perdi o medo de muita coisa. A única coisa que eu sinto medo, é de morrer. Eu sei que tem a minha hora, mas enquanto eu puder lutar para viver, eu vou. Se puder correr atrás e lutar, eu vou”.

Cidinha está com 54 anos atualmente. (Foto: Nathalia Machado)

Esta foi a segunda matéria da série sobre o Outubro Rosa “Entre Espinhos e Botões”. Para não perder a próxima, fique atento ao nosso site e a nossa página do Facebook. Para acessar a primeira, é só clicar aqui.


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