“Meu Deus, minha irmã está morta” – pensou Madalena quando viu o calombo do tamanho de uma bola de ping-pong no seio de sua irmã, durante uma consulta. Assustada, assistiu a discussão dos médicos sobre a cirurgia de remoção. Decidiram que iriam retirar tudo. Os doutores precisavam do laudo da biópsia para decidirem quais procedimentos tomariam quanto ao câncer: número de quimioterapias, radioterapias, cirurgias.

Logo após a remoção, Madalena voltou com sua irmã para uma consulta rápida e simples, afinal o importante laudo sairia só depois de 15 dias. Contudo, quando o Dr. Léo Pastori se aproximou de sua mesa, ela vislumbrou o papel timbrado do laboratório: “eu paralisei. Foram segundos que pareciam eternidade. A Cuca, minha irmã, estava distraída com a bolsa e não tinha reparado a notícia que vinha. Minhas pernas tremiam, até que o doutor disse ‘Dona Maria de Lourdes, disso a senhora não morre mais’. Eu não sabia se chorava, se ria, se abraçava ela ou o doutor“.

A descoberta

Maria Madalena Colombo Abdo, nascida de parteira em Ocauçu em 1961, veio para Marília em busca de trabalho. Cozinheira e confeiteira de mão cheia, trabalhou em padarias e restaurantes sem qualquer curso profissional. Seus conhecimentos quem havia ensinado era a vida. Há 18 anos é proprietária da Padaria Santa Rita Pães e Doces, onde dedica seu tempo na confecção dos mais diversos quitutes e pizzas.

Madalena não chegou a perder os cabelos durante seu tratamento, em 2014 (Foto: Nathalia Machado)

Em 2014, dois anos após a descoberta do câncer de mama de sua irmã, Madá decidiu investigar sua saúde um pouco mais. Foi até o posto de saúde Cascata e pediu seus exames de check-up, como papanicolau, ultrassonografias e mamografia. Os dois primeiros foram feitos rapidamente e estavam sem qualquer alteração. Já o encaminhamento da mamografia, nunca saiu do papel.

Passado um ano desde esta consulta, a confeiteira resolveu ir em outra unidade básica de saúde. Lá, explicou sobre a doença de sua irmã. “A enfermeira me examinou muito bem. Me dobrou, me apertou, me esticou. Aí ela disse que ia pedir a mamografia com uma certa urgência. Perguntei se tinha algo errado e ela negou”.

Com a pulga atrás da orelha, Madá decidiu resolver isso logo. Dirigiu-se a Carreta da Mamografia, unidade móvel de mamografia rápida que percorre todo o estado. Após o exame, ela perguntou novamente se tinha algo errado. Novamente, a enfermeira disse que não e que ela poderia seguir para casa. Depois de alguns dias, pediram para que ela refizesse o exame.

Em um dia de semana qualquer, enquanto lavava a cozinha de sua padaria durante a tarde, o telefone tocou: “Dona Madalena, a senhora tem uma consulta com o mastologista marcada para daqui quatro dias na Santa Casa”.

Ali, o chão que esfregava com a vassoura ensaboada se abriu. “A hora que eu desliguei, comecei a chorar. Era água pra tudo quanto é lado. Por mais que você esteja preparado e já tenha vivenciado isso antes, assim como eu junto a minha irmã, quando acontece com você, é diferente”. Sentindo muito medo, Madalena explica que “eu sabia que o processo era longo e nenhum pouco fácil. Seu chão abre e você não enxerga mais nada. Você só chora“.

O tratamento

As sessões de quimioterapia aconteciam às quintas, a cada 21 dias. Madalena levantava cedo, tomava café da manhã e se preparava. Ia até a Santa Casa, ficava em torno de duas horas e meia: “eu saia de lá com uma zueira muito grande na cabeça e com o corpo gelado. Minha cabeça pesava muito. Em pleno janeiro, eu deitava embaixo de coberta“.

A maior dificuldade se passava no dia seguinte. Nas sextas pós-tratamento, as náuseas e vômitos iniciavam-se. “Tudo que entrava, saia. Os remédios não adiantavam. Tentei tomar um suco, mas assim que deitava, vomitava. Só conseguia comer no sábado a noite. A única coisa que parava no meu estômago era um copo de coca-cola e uma fatia de pizza de mussarela com pimenta dedo de moça”.

Inicialmente, a oncologista Lia Rachel recomendou nove sessões de quimioterapia. Na 7ª, Madalena já não aguentava mais. Passou a sentir uma dor de cabeça muito forte. Quando passou a 8ª, a confeiteira mal se mantinha em pé devido a forte enxaqueca. “Cada vez que eu vomitava, parecia que minha cabeça ia explodir. Eu não tinha o que fazer além de segurar a cabeça e chorar, do tanto que doía. Eu achava que nunca ia voltar ao normal”.

Em busca da alta médica

Depois do fim das quimioterapias, o paciente precisa checar o seu estado de saúde a cada três meses por dois anos e meio. Depois, a cada seis meses por dois anos. Madalena está na última etapa. Ela conta que foi muito difícil, mas a ajuda que a Amigos do COM prestou a ela foi decisiva em todo o processo.

A associação nasceu em 2011, com o intuito de “discutir, educar e acolher pacientes portadores de câncer, em especial o de mama, e seus familiares”, segundo a página oficial do grupo.

Madá explica que “ajuda muito. É uma terapia de grupo, nossas reuniões são quinzenais e todos interessados podem participar: voluntários, pacientes, curiosos. É um espaço que eles tiram dúvida, a gente ri e chora. É gratificante quando vemos a recuperação da pessoa com aquele sistema de apoio. Por que cada caso é um caso. Tem paciente que mãe se recusou a visitar porque achava que ia pegar o câncer. Outra, assim que contou, o marido pegou a mala e foi embora. Então, a gente se apoia”.

Parte da diretoria desde 2016, a confeiteira conta que “eu me descobri no voluntariado. Você fazer o bem, passar sua experiência, dar conforto e esperança, é fabuloso. A visão do Amigos é grandiosa, é boa e só tem a melhorar“.

A vida hoje

Maria Madalena continua com sua padaria. Acorda todos os dias às 5h30 e deita-se à meia-noite. “E feliz, ainda!”, conta ela aos risos de quem tem gosto pelo o que faz. Para quem está passando pelo câncer, ela aconselha: tem que se gostar muito. “Tem que se cuidar, se apalpar, se examinar. Tudo passa, tudo é uma fase. Se precisar a gente visita, dá um abraço, conversa, lava roupa e banheiro!“.

Avó de cinco meninos e mãe de Jader, Neto e Carolina, Madalena se vê como uma pessoa totalmente diferente do que era antes de adoecer: “larguei de preguiça e de ser acomodada. Agora sou forte!“, finaliza a sobrevivente.

Madalena com um de seus netos (Foto: Nathalia Machado)

Esta foi a primeira matéria da série sobre o Outubro Rosa “Entre Espinhos e Botões”. Para não perder as próximas, fique atento ao nosso site e a nossa página do Facebook.

Para ler a segunda matéria, clique aqui.


Confira essa e outras histórias da cidade no site da Solutudo Marília!

Gostou desse conteúdo? Deixe seu comentário no campo abaixo! E, se você conhece alguma história bacana da sua cidade e quer que ela seja contada aqui, entre em contato pelo e-mail: [email protected]

Avalie este conteúdo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, deixe o seu comentário
Por favor insira o seu nome aqui