É incrível como realidades podem ser mudadas, vidas podem ser transformadas com o auxílio de outras pessoas, não? Nos últimos dias, mais do que nunca, temos visto exemplos de boas ações que impactam de maneira positiva a vida daqueles que estão passando por situações complicadas.

E a dança, quem diria, é um instrumento muito eficaz de transformação de vidas. Quem atesta isso, com a própria vida, são os professores Andreia Soares Almeida e Felipe Jean Almeida.

Paixão pela dança

Há 10 anos formada em educação física, Andreia Soares Almeida trabalha com dança desde os 17 anos, quando ainda estava no primeiro ano de faculdade. E ela garante que a dança sempre esteve presente em sua vida: “desde pequena tenho interesse pela dança, e o conhecimento do Hip Hop veio a partir de workshops que participei em algumas escolas de São Paulo”.

Andreia afirma que começou a ministrar aulas de Hip Hop na antiga Associação Pio Lanteri, que atendia crianças do Jardim São Camilo. “Ali foi o meu primeiro contato profissional como professora, na realidade de muitas crianças em situação de vulnerabilidade social“, lembra.

Nesses 10 anos, Andreia conta que já viu crianças com muitas histórias diferentes, de usuárias de droga até já trabalhando para o tráfico. “Eu tenho a realidade de um aluno que o pai era traficante, a mãe estava presa, os irmãos por aí e era a avó que cuidava, e esse menino encontrou a dança e vive da dança hoje”.

Crianças mudam o jeito de pensar quando entram em contato com a arte, com a cultura. Elas descobrem talentos e capacidades que nem imaginavam que possuíam. Então a transformação pela dança é muito geral, eu não posso dizer especificamente em uma área, ela abrange toda a vida. O que se aprende na dança leva-se pra vida inteira.

Andreia, que hoje trabalha na Casa da Criança Nossa Senhora do Desterro e no Aprendizado Dom José Gaspar, ambas entidades de Jundiaí que também acolhem crianças em situação de vulnerabilidade social, afirma que ama o seu trabalho e tudo que ele proporciona: desde o contato com as crianças até a oportunidade de levar cultura para cada uma delas. “Eu amo fazer a diferença na vida delas, nem que seja por uma palavra ou conselho que, pode não ser agora, mas que em algum momento da vida elas se lembrarão.”

Dança por opção

Assim como Andreia, Felipe também levou a dança mais a sério depois dos 17 anos. Porém, em sua trajetória, a dança entrou como opção. E, opção essa que fez a diferença na sua vida.

Desde garoto, o sonho do menino que nasceu e se criou no Jardim Sorocabana foi ser jogador de futebol. Por algum tempo foi bem sucedido, chegou a jogar nas categorias de base de grandes times de São Paulo mas, por uma peça pregada pelo destino, uma lesão lhe tirou o sonho. “E quando você sofre lesão nesse meio e não tem um padrinho, você desanima porque já sabe a realidade, não vão mais te querer”, afirma.

E foi então, ainda no final do Ensino Médio, que a dança foi lhe apresentada como sendo uma opção. “Dar opções é o mais importante para quem está terminando a escola. Eu tive essas opções, graças a Deus, a minha lesão e minha desistência de ser jogador de futebol coincidiram com o início do projeto.”

Felipe refere-se ao projeto que acontecia nas tardes de sábado em seu bairro. O encantamento pela dança veio daí. Entretanto o que Felipe não esperava era a mudança que ela lhe proporcionaria, e que pela dança seria ele o responsável por transformar a vida de tantos outros jovens.

Kahal

O garoto não tinha possibilidade de pagar por aulas na Escola de Dança Kahal, lugar em que o seu professor no projeto também dava aulas e que lhe inspirava. “Eles tinham acabado de ganhar um campeonato no SBT, e isso me deixou ainda mais com vontade de entrar lá”, lembra.

Assim que terminou o Ensino Médio, conseguiu um emprego em que ficou apenas por dois meses. Tempo suficiente para lhe render um bom dinheiro na rescisão, que usou para pagar adiantado quatro mensalidades da Kahal, tempo também suficiente para conseguir um outro emprego e continuar pagando. “O dono do Kahal vendo isso me ofereceu uma bolsa. Em questão de um mês fui chamado pra entrar na Companhia Kahal. Passei então um ano pegando experiência profissional de dança”, conta Felipe.

E a aposta do dono da escola deu certo. Desde 2013 na Companhia, há 5 anos Felipe é professor da Escola de Dança Kahal. A partir daí só foram surgindo mais e mais oportunidades: desde projetos sociais como a APM (Associação Protetora do Menor) e atividades no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) do seu bairro de origem e na escola estadual em que se formou, até trabalhos como professor em colégios particulares da cidade.

Fazendo a diferença

Como dançarino, Felipe viaja o Brasil participando de festivais de dança e disputando campeonatos; como professor, dá aulas para crianças e adultos, embora seja conhecido como ‘professor de crianças‘. E não é pra menos: atualmente, ele dá aula para cerca de 200 delas.

“Nos projetos sociais é preciso fazer todo um trabalho de apresentação da dança, porque as crianças não chegam lá interessadas em Hip Hop. Preciso então trazer elas pra mim, conquistar elas, mostrar pra elas que eu também fui uma criança que passou pelo que elas possivelmente passam hoje e que conheci esse caminho da dança. Preciso dar essa opção“.

E tem dado resultado. Apesar de muito rotativo, nos projetos sociais participam cerca de 60 crianças.

Quando uma das crianças chegam pra mim, que fui um garoto que foi criado em favela, me abraça e diz que eu sou a maior inspiração que ela tem, é uma conquista pra mim. Quando paro para pensar chego na conclusão que o que estou fazendo é a diferença.


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