Quem já foi ao cemitério de Santa Cruz do Rio Pardo deve ter percebido uma capela bonita, com imagens bem cuidadas na quadra nove e ficado curioso quem seria a pessoa sepultada ali. O mesmo acontece com quem já andou a pé pelo centro da cidade e se deparou com uma capelinha bem administrada.

Ambas pertencem à famosa Ritinha Emboava, que também é homenageada com o nome do bairro. Mas quem é dona Rita?

A história

Segundo o casal de historiadores Celso Prado e Junko Sato, até o ano de 2010 dizia-se Rita Emboava, mulher hanseniana, chegou a Santa Cruz do Rio Pardo, não se sabe de onde, para fixar morada até sua morte, em 1931.

Embora não oficializada pela igreja, Emboava é uma santa santa-cruzense na opinião de muitos moradores.

“Quando lhe diziam que alguém estava doente, ela parava, olhava para os céus e gesticulava contatando a Deus – assim acreditavam, para a ação divina sobre o caso ou transmitindo mensagens de conforto”, conta Celso afirmando que ela se tornou ainda em vida uma milagreira.

Durante anos Rita andava, e depois quase que se arrastava pelas ruas recolhendo donativos.

“Tudo que recebia ela repartia outros leprosos que viviam isolados num acampamento de passagem, na ‘Água do Pires’”.

Milagres

Os ‘milagres’ atribuídos às intervenções de Rita Emboava, até o meado de 1950, jamais careceram de documentos comprobatórios, recebendo-os aqueles que necessitavam e tinham fé, ou os julgados merecedores. Em suas capelas muitas graças já foram agradecidas e até muletas, andadores e bengalas entregues.

O Professor José Magalli Ferreira Junqueira, autor da obra “Santa Cruz do Rio Pardo – Memórias” descreve Rita Emboava.

“Ritinha se arrastava pela casa e se escondia das pessoas, temendo causar graves contágios entre as pessoas. Vivendo na pobreza, a enferma dependia da caridade dos santa-cruzenses, que iam à sua casa, para levar-lhe alimentos e roupas. Consciente de seu estado de saúde, Ritinha não desejava aproximar-se das pessoas. Roupas e alimentos eram colocados à porta de sua humilde casa e, com pequena vara, distanciando-se das pessoas, Ritinha recolhia os benefícios recebidos.”

Rita Emboava entre duas crianças – foto original de Vicente Finamore, utilizada em 1923 no trabalho de Medicina – USP, do doutorando, Luiz Costa de Abreu Sodré

Vida e bençãos

Em agradecimento as ajudas recebidas, Ritinha retribuía com uma reza ou benzimentos à distância, pelo vão de uma das janelas da casa. Ganhou fama e no terreiro de sua residência construíram bancos onde pessoas aguardavam as bênçãos de Ritinha, ou um momento em que podiam aproximar-se perto do vão para alguma conversa mais particular.

‘Sinhá’ Rita tinha o carisma em confortar pessoas aflitas, o dom de curar enfermidades, rezava para chover ou fazer sol, e sarava as criações com bons resultados, dizem, sem nunca ter cobrado dinheiro ou favor algum dos solicitantes, mas não os rejeitava. Aceitava pedidos de preces com horários marcados.

Estudantes pediam ajudas para aprovações em provas escolares, uns solicitavam graças para consertar lares desfeitos ou em dificuldades, outros, até casos de amor.

Capela é conservada até hoje e possui até administradores.

Rita ‘curava simioto, bucho-virado, olho-gordo, cobreiro, barriga-d’água, icterícia, tosse-cumprida, tosse seca, tísica-galopante, espinhela caída, erisipelas, diarreias e febres, além das dores de angústias e das possessões’. Rezava para os animais, para a roça e para o tempo.

Às vezes era acometida de visagens celestiais, ocasiões em que apresentava fenômenos de língua estranha; às vezes atormentava-se com a presença de maus espíritos ou do próprio diabo – diziam, e aí sua voz era cavernosa ou alta estridente, sem harmonias.

A notícia da morte de Rita, numa terça-feira de 27 de outubro de 1931, em Santa Cruz do Rio Pardo, foi divulgada ‘boca a boca’ e pelo serviço de alto-falante da cidade. O prefeito decretou luto e as repartições públicas foram fechadas, então, de repente, nem mais o comércio estava aberto.

Mais curiosidades

Alguns que nunca viram Ritinha nem foram, em vida, pedir-lhe bênçãos, se recordam que quando da morte dela, ‘fechou tudo’ e todos foram para lá. Antes do sepultamento de Rita já corriam comentários das primeiras curas pós-morte. Alguém com sopro no coração, em razão de febre reumática ocorrida na infância, que quase nem andava, de repente estava lá presente em última homenagem à falecida.

Sua casa foi incendiada, após sua morte, assim que encerrado o sepultamento, como medida profilática, e alguns fervorosos, acompanhando o procedimento, juravam ter visto Rita sorrindo entre as chamas, liberta de seu mal. Os restos calcinados da ‘casa de tijolos’ ainda podiam ser vistos nos anos de 1950.

Capela recebe diversas visitas ao longo do ano.

Capela

Na capela ‘particular’ de Ritinha celebravam-se missas, até duas vezes por mês – às segundas-feiras, pelas almas do purgatório, e pedidos de bênçãos, e os fiéis levavam flores. Também existiam as rezas – terços e novenas, pedidos e pagamentos de promessas.

No túmulo de Rita ainda se acendem velas, fazem rezas e pagam-se promessas. Celebração de missa requerida por algum devoto pelo sufrágio da alma de Rita Emboava, atualmente apenas nas igrejas oficiais.

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