Você já teve interesse em aprender Libras mas foi desencorajado?
Conheça a história da Beatriz, uma ouvinte que apaixonou-se pela língua e pela inclusão. Sua trajetória já inspirou outras pessoas a buscarem o conhecimento, preocupados com acessibilidade e inclusão.
A araçatubense Beatriz Nunes começou a interessar-se apenas em seu último ano de faculdade, quando teve aulas com um professor surdo na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Mas por que é importante saber Libras?
O último censo realizado pelo IBGE no Brasil, em 2010, apontou que aproximadamente 9,7 milhões de pessoas no país são deficientes auditivos — entre elas, 2.147.336 têm perda severa da audição —, e para essa parcela da população, a Libras se faz fundamental para um convívio cada vez mais acessível na sociedade.
História
A Língua Brasileira de Sinais (libras) foi criada, então, junto com o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos), a partir de uma mistura entre a Língua Francesa de Sinais e de gestos já utilizados pelos surdos brasileiros.
Em 1993 uma nova batalha começou, com um projeto de lei que buscava regulamentar o idioma no país. Quase dez anos depois, em 2002, a Língua Brasileira de Sinais foi finalmente reconhecida como uma língua oficial do Brasil.
Muita gente nem sabe disso. A gente se esforça tanto para aprender outros idiomas, como o inglês (que é muito importante, sem dúvidas), mas não ao menos se interessa em aprender uma segunda língua de nosso país.
Finaliza Beatriz.
Essa conquista se somou a outras mais atuais, que sempre passaram pelo campo da legislação. Nos últimos anos as leis e recomendações que buscaram regulamentar aspectos da língua de sinais e propagar seu uso foi alta, assim como para garantir direitos à comunidade surda:
- 2004: Lei que determina o uso de recursos visuais e legendas nas propagandas oficiais do governo;
- 2008: Instituído o Dia Nacional do Surdo, comemorado em 26 de Setembro, considerado o mês dos surdos;
- 2010: Foi regulamentada a profissão de Tradutor e Intérprete de Libras;
- 2015: Publicação da Lei Brasileira de Inclusão (ou Estatuto da Pessoa com Deficiência), que trata da acessibilidade em áreas como educação, saúde, lazer, cultura, trabalho etc.;
- 2016: Anatel publica resolução com as regras para o atendimento das pessoas com deficiência por parte das empresas de telecomunicações;
Ouvintes e Libras
Beatriz, por ter formação em Letras, interessou-se rápido em aprender Libras quando soube desta matéria em sua faculdade. Ela conta que teve aulas com Adriano Gianotto, o primeiro sudo a concluir um mestrado no Mato Grosso do Sul.
Sua trajetória de luta pela comunidade surda de MS, bem como suas conquistas pessoais me motivaram a aprender Libras. Então, antes mesmo de começar as aulas, eu já comecei aprender por conta própria vendo vários vídeos na internet.
Explica ela.
Em seu convívio, quantas pessoas aptas a conversar em libras você conhece? Pois saiba que quem precisas das mãos para comunicar-se passa por situações desagradáveis em vários ambientes. A cada ouvinte que aprende Libras, mais a comunicação e inclusão acontece.
Entrevista com Beatriz Nunes
Solutudo: Quando você decidiu que isto era importante e começou a conversar mais e propagar mais Libras?
Beatriz: Logo que comecei aprender Libras, me deparei com uma senhora surda num guichê da rodoviária que aparentemente queria alguma informação. Ela sinalizando e o atendente fazendo de conta que ela nem estava ali.
Ok, ele não sabia Libras, mas nem ao menos se esforçou para tentar atender ela.
Eu vendo aquela situação não sabia se brigava com o atendente ou se saia correndo atrás da senhora pra tentar ajudar. Consegui me apresentar, mas eu estava no começo do aprendizado da língua, ela começou sinalizar e eu não estava entendo nada. Me senti tão mal. Por mais que não consegui ajudar, vi no rosto dela um sorriso tímido de agradecimento, como se quisesse dizer que pelo menos eu tinha tentado.
Solutudo: Juntar arte com Libras, qual a necessidade disto socialmente?
Competição de dança no Araçatuba Shopping. Beatriz misturou dança com Libras. Na foto ela está fazendo o sinal da angústia. Foto: João T.K. 
Foi esta performance que a levou ao Rio de Janeiro para competir. Na foto é o sinal de felicidade. Foto: João T.K.
Beatriz: Já dizia o crítico literário Antônio Candido, a arte é (ou pelo menos deveria ser) encarada como direito básico do ser humano, assim alimentação, saúde, moradia, entre outros.
A arte recupera a nossa humanidade diante da nossa cansativa rotina. Mas qual é o nosso conceito de arte? A arte é realmente pra todos?
De todos os anos que acompanho teatro na cidade de Araçatuba e região, a primeira vez que vi uma peça com tradução em Libras foi só ano passado (2019). A arte precisa ser repensada.
Ano passado comecei uma pesquisa sobre como a dança e a libras poderiam se tornar
uma só, caminhar juntas na arte performática. Participei de uma competição de dança na capital do Rio de Janeiro e consegui a medalha de terceiro lugar na categoria de danças urbanas com esse projeto. Pretendo dar continuidade nesse projeto e continuar estudando Libras para que consiga me tornar intérprete em breve.
Beatriz com Diego e Rodolpho no Sesi Birigui, o encontro foi promovido pela docente de teatro Ana Carolina. 
Medalha conquistada no Rio de Janeiro
A certeza da importância da língua foi maior ainda ao assistir seu primeiro show com intérprete. Beatriz conta que foi na Virada Cultural de São Paulo do ano passado, onde acontecia O grande encontro, com Alceu Valente, Geraldo Azevedo e Elba Ramalho.
Pode ser que naquela multidão não tinha nenhum surdo, mas eu fui atravessada e me inspirei aprender Libras. Então interpretação de músicas em Libras pode sim trazer inspiração para outras pessoas aprenderem ou ao menos terem contato com essa língua viso-espacial.
Além da dança, agora Beatriz caminha em um projeto de tradução de músicas no Instagram. Ela já postou vídeos na plataforma story da rede social e pretende aproveitar a quarentena para postar mais material. Clique AQUI para acompanhar.
A acessibilidade não deveria ser respeitada somente enquanto lei federal, inclusão deveria fazer parte das nossas reflexões. Empatia, sabe? E começo essa discussão por mim, porque até então eu não tinha parado pra pensar nisso. O convívio com a comunidade surda é necessário para entender as dificuldades que eles enfrentam no dia a dia.
Finaliza ela.
Aprenda Libras
Beatriz indicou vários sites onde é possível aprender e aperfeiçoar o aprendizado, confira:
Introdução à Libras com certificado
2 meses de aulas gratuitas com o Profº Manolo
Curso online da USP (sem certificado)
Confira essa e outras histórias da cidade no site da Solutudo Araçatuba!
Gostou desse conteúdo? Deixe seu comentário no campo abaixo! E se você conhece alguma história bacana de Araçatuba e quer que ela seja contada aqui, entre em contato pelo e-mail: [email protected]
Este texto foi escrito por Julia Boni em seu período como redatora da Solutudo Araçatuba e Birigui.
