O pastel com ovo de Marília e o chinelão são os dois pratos típicos de nossa Símbolo de Amor e Liberdade. Sou da época em que o chinelão era servido na padaria São Luiz, no coração comercial do Município. Quem me apresentou ao lanche foi o jornalista e professor universitário Mariano Rocha.

Na época, em 1999, Mariano era repórter policial e me informou que ali, na São Luiz, era o pronto-socorro para matar a fome: 

“É só pedir um ‘chinelão’ que você não passa fome e pode escrever a matéria até o fechamento da edição”, me orientou.

Eu estava chegando à cidade, iria exercer o emprego na Imprensa diária na editoria policial. Por aqueles dias, o Incendiário andava aterrorizando os moradores que tinham carros. Toda semana um veículo era incendiado num ponto diferente de Marília. O caso estava ganhando repercussão e suscitava o interesse de grandes jornais.

Muitas vezes o chinelão, que hoje é servido na Lanchonete do Zé, na rua Quinze de Novembro,  salvou a minha janta na árdua tarefa de reportar fatos policiais na intensa rotina da vida de um jornalista policial.  Quando a fome batia à tarde, costumava dar uma corridinha até a extinta panificadora Tartaruga – que muitos anos depois fui saber que era da família do atual vereador por São Paulo e mariliense de nascimento Aurélio Nomura – e lá pedia um misto-quente. Transformei em ficção este meu hábito e a cena está no conto policial ‘O crime de batina’, narrativa que abre a série de oito contos do meu livro ‘Contos do Japim’, editado pela Carlini & Caniato e lançado no ano de 2010. O investigador mais novo, nesta trama, sempre recorre a uma padaria para comer um misto-quente e tomar Coca-Cola.

Cheguei a ser vizinho do Zé, que hoje serve o chinelão em sua lanchonete, no tempo em que morei na rua Vinte e Quatro de Dezembro. O dramaturgo e jornalista Oswaldo Mendes, o Oswaldinho, autor de ‘Bendito Maldito – Uma biografia de Plínio Marcos’ (Leya, 2009), que é de Marília e meu amigo, quando tomou conhecimento do meu endereço da época me disse:

“Você não mora num endereço, mas numa data histórica: a véspera de Natal do ano do golpe”. Vivia na Vinte e Quatro de Dezembro, 1964.

Outro dia, conversando com o Zé em sua lanchonete, ele me contou que quando dos Jogos Abertos do Interior, disputados em Marília em novembro  de 2019, as delegações que estiveram aqui fizeram questão de saborear o lanche típico de Marília: o chinelão. Ali a disputa não era por medalhas, mas por saber qual versão do chinelão traduzia mais o estilo da cidade.

Quanto ao pastel com ovo, servido pela pastelaria instalada no Mercadão de Marília, a Hirata, outro prato típico da cidade, acompanhei como repórter muitas lideranças políticas serem apresentadas a esta iguaria local. Governadores do Estado, ex-ministros, deputados federais e até candidato a vice-presidente da República. O pastel com ovo do Mercadão Municipal de Marília se assemelha, em termo de referência gastronômica, ao famoso sanduíche de mortadela servido no Mercadão Municipal de São Paulo.

Pastel com ovo e chinelão são patrimônios culturais de Marília, com sabores inconfundíveis e trazem em si muito da nossa gente. Conseguem reproduzir a alma mariliense e as características da comunidade. Assim como a música e o cinema retratam a atmosfera e o espírito de um povo, a comida tradicional e seus pratos típicos, também.

A linguiça de Oscar Bressane (SP) ou a linguiça de Blumenau (SC) são receitas próprias, sabores que vão além do nosso paladar e revelam história. Pastel com ovo e chinelão de Marília falam por si só, ensinam o que é estar naquele lugar,  comprovam a criatividade para driblar problemas e sua capacidade para gerar uma certa felicidade e até apaziguar problemas. Afinal, nada melhor do que estar saboreando um pastel com ovo ou um pedaço de chinelão antes de tomar uma decisão política ou redigir uma matéria jornalística.


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