Ele tem 63 anos e encarou um percurso de 855 km. A viagem perdurou 12 dias e voltou cheio de coisas boas para contar e um álbum de fotos incríveis para mostrar.
Estas fotos maravilhosas iremos apresentando no decorrer do texto sem a pretensão de estarem cronologicamente corretas. Veja e imagine a atmosfera de cada local.
O sr. Mauro
Mauro Satio Kuroso, 63, é um linense apaixonado pela cidade. Proprietário há 42 anos da Porta de Ouro (Calçadão 21 de Abril, 20) viu de perto as transformações da cidade. Se notar, mencionei o nome do negócio sem especificar o seguimento, pois o comércio iniciou como uma loja de produtos de jogos e tabacaria. Porta de Ouro era já o nome praticado. Uma mudança de segmento, mas mantendo a mesma garra, o Sr. Mauro passou a oferecer especificamente joias e afins.
O contador de histórias
Ele tem a loja desde o tempo que tudo ali era terra; antes de se sonhar haver o calçadão, já estava oferecendo seus serviços.
Nossa conversa com ele fluiu pela manhã toda. O Sr. Mauro é amante da história da cidade. Parece que foram minutos, mas ele me deu o prazer de ouvi-lo por algumas horas e deixou-me desejoso por voltar ali e ouvi-lo mais das grandiosidades que nossa cidade já viveu e das esperanças de coisas boas que virão.
O Ciclista
Ele é do tempo em que as coisas do irmão mais velho se transferem para o mais novo. Foi assim que recebeu sua primeira bicicleta. De lá para cá, viveu uma paixão que acentuava e também reduzia, dada as muitas atividades que a empresa lhe competia.
Do tempo em que as crianças faziam seus próprios brinquedos, ter uma bicicleta era um privilégio, não importando quantos donos teve anteriormente.
O desafio de 855 quilômetros
20 de janeiro foi o dia escolhido por ele e seu amigo e parceiro de trilha, Nilson Ernesto para realizar o percurso de 855 km rumo à cidade de Aparecida, interior de São Paulo. Com previsão de 12 dias e sem carro de apoio, teve o prazer de ser o primeiro a estabelecer a rota a partir de Lins.
80% do percurso composto por trilhas e estradas de terra. 500 km pelas serras e montanhas, atingindo 2.000 metros de altitude na Serra da Mantiqueira, passando por 31 cidades e 7 distritos
Percorreu pelo Caminho da Fé ramal Borborema e o destino final é a Basílica de Nossa Senhora Aparecida.
Como surgiu a ideia?
“A intenção desta façanha surgiu a nove anos numa conversa entre mim e o Nilson. A ideia foi amadurecendo; ao mesmo tempo surgiram alguns contratempos que foi adiando esta realização, a atual situação sanitária, a mais recente”, afirma o sr. Mauro.
Era como que uma corrida contra o tempo, pois a idade é um fator limitante diante da extensão do desafio.
Anteriormente ele já havia feito o Caminho da Fé (320 km) e o Caminho de Aparecida (300 km). As fotos abaixo mostram alguns certificados recebidos e que orgulhosamente ele os fixa em sua loja.
O relato pessoal
As palavras seguintes são do próprio Sr. Mauro. Leiamos o que transborda o coração deste esportista linense:
“De uma forma resumida, conforme planejado e programado, concluí os 855 km até a cidade de Aparecida em 12 dias. Foram cinco primeiros dias de um Sol escaldante, subidas e descidas com muitas pedras, buracos e poças d’água e 50 km de muito “areião” até São Carlos, e pela mesma distância e local, sem água potável.
No sexto dia, atravessamos matagais, pirambeiras, pastos e porteiras em São Roque da Fartura, mas o tempo refrescou com a chuva antes de chegar a Águas da Prata; no sétimo dia, no final da Serra dos Lima, caiu uma tempestade e o barro travou a bike, ocasionando vários problemas. Mesmo assim enfrentamos a Serra da Barra, onde fica a Subida do Sabão – adivinhem o motivo desse nome?
No oitavo dia, fomos cumprir a meta que cada um havia traçado; assim seguimos separados, respeitando a individualidade de cada um, mas unidos pelo mesmo objetivo de concluir o percurso. Nos quatro últimos dias foram de muita chuva, barro e subidas nas serras, mas com algumas tréguas; na manhã do décimo primeiro dia, saí no meio da chuva para enfrentar a tão temida Serra da Luminosa, e tive que empurrar a bike com peso da bagagem, sapatilha no pé (com esporão), em meio ao barro deslizante; muita chuva e cerração que não dava para ver quase nada. Quatro horas depois estava no Bairro Campista.
Na chegada em Campos do Jordão choveu e ventou muito e a temperatura chegou a 11 graus, onde saí de lá tremendo de frio. Na descida das Pedrinhas, havia alguns trechos que nem carros traçados conseguiam trafegar.
Depois de pousar em Gomeral, no décimo segundo dia, saí em meio à chuva para completar os últimos vinte e oito km e enfim, a chuva cessou e havia chegado à Basílica de N.S. Aparecida, e mais um desafio concluído, com sensação de dever cumprido e de um sonho realizado. Com todas as dificuldades, na maioria não citados, cansaço, dores, fadigas, por nenhum momento pensei em desistir ou achar que não conseguiria. Me preparei físico, mental e materialmente e usei dos meus conhecimentos que adquiri até hoje.”
As recompensas pessoais
A recompensa está nos doze dias de muita emoção, aprendizado, reflexão, contemplação e a compreensão do sentido da minha vivência. No caminho tive a ajuda de muitas pessoas, afirma sr. Mauro.
A família de olhos brilhantes
Quando perguntei sobre o que a esposa achava de tudo aquilo – ela estava ali participando da conversa – o sr. Mauro não economizou na oportunidade de expressar a importância do apoio da família, que segundo ele mesmo, é essencial.
Vanessa Rocha (esposa) e Geovana Kurosu (filha) cuidaram do sr. Mauro mesmo não estando por perto durante o percurso. Era ela que organizava suas hospedagens, e conforme ele ia identificando sua localização, sua família corria a pesquisar serviços e oportunidades para que ele pudesse encontrar reservas e bons atendimentos, e além disso, o apoio emocional.
“Sem o apoio delas não seria possível a realização deste evento. Levo ao Santuário de Aparecida as preces de todos e a minha gratidão a cada etapa vencida”.
Suas considerações finais
Que este feito venha inspirar e incentivar os amantes do ciclismo, que eternizou o aprendizado, neste fantástico mundo de magia em contato com a natureza; este Caminho é indescritível e só quem foi sabe a dimensão da frase FOCO, FORÇA E FÉ.
E deixo aqui a mensagem que venho vivenciando nestes 63 anos: Toda aspiração pode tornar-se realidade quando existe a determinação de realizar, coragem para não ser levado a desistir, e sabedoria para abraçar as oportunidades que a vida nos oferece. Então, não espere acontecer. Acredite em você e vá à luta, sem se esquecer que o despreparo e a falta de objetivo e disciplina, é o caminho do fracasso, e a sorte é privilégio daquele que vai de encontro a ela.
Ele carrega um lema pessoal:
– Eu consegui! Você também consegue!
A frase é curta, mas a mensagem é forte. O desejo deste esportista é o de ver esta geração se envolvendo as práticas esportivas. Acredita no que o esporte pode proporcionar a sociedade.
Perguntei sobre até quando pretende pedalar e disse ser 70 anos a sua meta. Mas o que presencio ali ao ver sua disposição e vigor, é que ainda há muito o que praticar pela frente.
O lema do sr. Mauro não é uma poesia. É uma sentença definitiva e que precisa ser abraçada por todos nós. O ciclismo é uma oportunidade incrível de alcançar qualidade de vida em todos os aspectos. E quanto a nós, um tanto mais jovem, podemos sentirmo-nos autorizados por ele mesmo a fazer o nosso lema: Se ele consegue, eu também consigo.
PARABÉNS, SR. MAURO, SATISFAÇÃO IMENSA, PODER APRECIAR A SUA HISTÓRIA DE FÉ E PERSEVERANÇA. FUI CRIADO EM LINS MAS NÃO RECORDO DA SUA LOJA, POIS DEIXEI A CIDADE EM 1969, ONDE PASSEI A MINHA JUVENTUDE. A MINHA PRIMEIRA PROFISSÃO FOI NA FARMÁCIA SÃO VICENTE, DO SR. CARLOS TOYODA QUE FICAVA JUSTAMENTE ONDE É O CALÇADÃO, MUDOU MUITO!!!..RESIDÍ NA ESQUINA DA AV.SETE DE SETEMBRO COM A AV. RIO BRANCO, ONDE ATUALMENTE É A ITAVEL.