Quem não conhece a história jamais poderia imaginar as disputas que marcaram a denominação definitiva daquela que é considerada a principal via pública de Botucatu: a Rua Amando de Barros.

Ela presta homenagem ao coronel que nasceu pobre em Piracicaba, em 1860, chegou jovem à cidade, trabalhando inicialmente como balconista da casa comercial de Chico Picão, fez fortuna e transformou-se em uma dos maiores chefes políticos de nossa história, vindo a falecer em decorrência de grave doença no ano de 1920.

Assim que foi aberta ficou conhecida pelo nome de “rua de cima” porque veio logo depois da Rua das Flores (atual Rua Curuzu) e também por estar em um plano superior. Passou a ser chamada de “rua do meio”, com a abertura de outra via acima, que por muitos anos levou o nome de Cesário Alvim e hoje é a Rua João Passos. Depois ficou conhecida como “Rua do Commercio” e por muitos anos recebeu o nome de Rua do Riachuelo, em alusão a uma das mais importantes batalhas da Guerra do Paraguai.

Até meados de 1896, a atual Amando de Barros praticamente morria na altura da Rua Visconde do Rio Branco. Na Câmara, vereadores faziam gestões para levá-la a encontrar com o ribeirão Lavapés, no sentido sul da cidade. Tal prolongamento só veio a se concretizar em 1905.

Bois pastando tranquilamente na chamada “Rua do Commercio”
CRÉDITO: Museu Histórico e Pedagógico Francisco Blasi

A rivalidade

Em 5 de janeiro de 1917, o vereador José Joaquim da Silva Galvão, como forma de homenagear o presidente da Câmara, ausente devido a grave enfermidade, apresentou o projeto de lei nº 2, que substituía o nome de Rua do Riachuelo por Rua Amando de Barros.

Após aprovado, o projeto foi transformado na Lei nº 246. A mudança gerou protestos e deu início a uma grande celeuma. Naquela época dois grupos políticos rivalizavam na cidade: o “Amandista”, sob a direção do Cel. Amando de Barros e do Cel. Rafael de Moura Campos, e o “Cardosista”, sob a orientação do sr. Antonio Cardoso.

De menino pobre a comerciante rico e político influente, Amando de Barros fez história em Botucatu
CRÉDITO: Museu Histórico e Pedagógico Francisco Blasi

Os cardosistas não se conformaram com a troca e esperaram a chance para dar o troco. Após mais de uma década de poderio do Partido Amandista, na eleição municipal de 14 de dezembro de 1922, os cardosistas alcançaram uma vitória consagradora nas urnas. A posse da nova Câmara aconteceu em 15 de janeiro de 1923. Marcada uma sessão ordinária para dia seguinte, havia chegado a hora da revanche.

Em homenagem à data da vitória sobre o grupo rival foi aprovada a Lei nº 302, que denominava “Rua 14 de Dezembro” a “Rua do Collegio” (atual Rua Major Leônidas Cardoso). E não parou por aí. O vereador Dr. Sebastião Villas Boas apresentou projeto, que voltava a denominar “Rua Riachuelo” a principal via do comércio.

Para não ofender a memória do Coronel Amando de Barros, falecido em 1920, a saída encontrada foi dar o seu nome ao “Largo da Misericordia”. A proposta deu origem à Lei nº 303, que autorizava a Prefeitura a mandar construir uma herma (busto) no local como reconhecimento pelos relevantes serviços que o líder político havia prestado à cidade. Apesar do “sincero pleito de homenagem”, desta vez a mudança soou como provocação desrespeitosa pelos amandistas.

Os anos se passaram e nem sequer as placas denominativas haviam sido colocadas na “Praça Amando de Barros”. Muito menos a herma. Em abril de 1929, o mesmo vereador Dr. Sebastião Villas Boas apresentou proposta de desapropriação da casa Leandro Dromani, no Largo Santa Cruz (Praça do Bosque) para ajardinamento e designá-lo como Praça Amando de Barros.

A Prefeitura não fez nem desapropriação, nem ajardinamento, nem praça. Em 11 de junho de 1930, o vereador Dr. Mario Rodrigues Torres, falando em nome da Comissão de Justiça da Câmara Municipal, apresentou projeto denominando de Praça Cel. Amando de Barros o largo fronteiro à Escola Normal, entre o largo da Matriz, Grupo Escolar Dr. Cardoso de Almeida e Escola Normal.

Transformado na Lei nº 369, previa que fosse erguido no local um monumento perpetuando a memória do coronel, colocando-se naquela praça o seu busto em bronze. Mais uma vez nem placa, nem busto, nenhuma homenagem.

Com a eclosão da Revolução de 1930, Antonio de Moura Campos foi nomeado prefeito. Amandista da velha guarda, não perdeu a oportunidade, e em 10 de março de 1931 baixou a Lei nº 38, que voltava a denominar de Amando de Barros, a Rua do Riachuelo, “como ato de justiça e justa reparação”.

Desta vez as placas foram colocadas e o nome do velho coronel eternizado no principal corredor comercial da cidade dos bons ares. E assim permanece até os dias de hoje. Em abril de 1955, nas comemorações do centenário de Botucatu, finalmente o busto em homenagem ao coronel foi inaugurado, ornamentando a Praça Emílio Peduti. (Referência bibliográfica: “Ruas de Botucatu”, de João Thomaz de Almeida)

No centenário de Botucatu, em 1955, finalmente o busto do Coronel Amando de Barros foi inaugurado
CRÉDITO: Acontece Botucatu

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