Olha, não sei você, mas pra boa parte dos jundiaienses, ouvir falar sobre sebo ou de preservação da história da cidade é, sem dúvidas, lembrar imediatamente do professor Maurício. ?‍? E não é exagero falar que ele, em tudo que faz, respira Jundiaí e cidadania, viu? Já já você verá o porquê, mas antes, conheça um pouco sobre esse ilustre jundiaiense. ?

Nascido em 1962 em Jundiaí, Mauricio Ferreira é formado em Direito e, além de ministrar disciplinas da área jurídica e dar aulas de Ética e Cidadania para estudantes do Ensino Médio, também é o responsável pela curadoria de um dos maiores sebos do Brasil, o Sebo Jundiaí, que conta com um acervo de mais de 100 mil livros, 12 mil discos de vinil e 18 mil CDs originais. ?

Entre as aulas e as caminhadas por Jundiaí, sua própria Jundiaí. (Foto: JJ/ Reprodução)

Maurício conta que é, de fato, um apaixonado por Jundiaí. “Costumo dizer que o amor que eu tenho por nossa cidade não cabe nem dentro do meu peito, e meu amor se estende à gratidão eu tenho pelos que vieram antes. Não podemos nunca nos esquecer das pessoas que vieram antes para deixar nosso caminho pavimentado.” E que bom que tanto amor transbordou no cuidado pela preservação da nossa história, né? ? Aliás, ele contou que todo esse amor teve início ainda em sua infância, por um outro jundiaiense também apaixonado pela terra querida. ?

Paixão de família

O professor revela que sua paixão pelos fatos e fotos da cidade surgiu da admiração e do exemplo dado por um outro apaixonado por Jundiaí, seu avô José Ferreira da Silva, falecido em 1982. E, junto com a paixão por Jundiaí, seu Zeca, como era conhecido na família e pelos amigos que conquistou por aqui, nutria em suas horas vagas um outro afeto: pela fotografia.

“Eu comecei então a guardar as fotos que ele mesmo tirava e revelava, porque meu avô também tinha uma boa narrativa. Fora que também era uma pessoa carinhosa, era um amor de pessoa. Antigamente, os adultos não davam tanta atenção pra criança, e naquela época ele andava na contramão e dava muita atenção, amor e carinho pras crianças. E eu, quando ouvia as histórias dele, ficava maravilhado! Ele aguçou esse meu amor pela cidade, pelas coisas de Jundiaí, e eu não entendia que o que ele passava pra mim, na verdade, era cidadania.” ?

O seu Zeca é o segundo sentado. (Foto: Arquivo Pessoal/ Reprodução)

E como toda criança coleciona alguma coisa, o pequeno Maurício não fugiria à regra, né? ? Entre tanta coisa que o garoto colecionava, de tampinhas de garrafa, bolinhas de gude, a figurinhas, caixinhas de fósforo e até embalagem de cigarro, a coleção de fotografias se destacava. ? “Eu pedia fotografias pras pessoas mais idosas, pros vizinhos, e eu sempre ganhava alguma coisa”, relembra. De tanto juntar, hoje Maurício já tem mais do que uma simples coleção de fotografias, mas um verdadeiro acervo que ajuda a contar a história de Jundiaí.

Eu gosto muito dessas histórias de bairro, que não estão contadas nos livros. É aquela foto do cotidiano, da coisa do dia a dia. Então eu gosto quando aparece foto de alguém indo trabalhar de bicicleta nos anos 50, de pessoas andando a pé dando a mão pra uma criança no caminho para a escola… Eu gosto muito de preservar, porque o retorno que tenho da comunidade, que encara isso tudo como preservação mesmo, como um trabalho importante, é por amor pela nossa gente, pelas nossas coisas.

Coisa de criança que virou de gente grande

Com uma página e um grupo no Facebook chamado Jundiaí Antiga em Fatos, Fotos e Versões, Maurício disponibiliza gratuitamente desde 2013 grande parte do acervo, que já foi digitalizado. “Na rede social, tem mês que chegamos a 1 milhão de interações, e tudo de maneira orgânica, sem patrocínio. Eu acho muito bacana, porque antes não tinha um lugar pra você ver fotografia, e Jundiaí tem uma história muito rica“, afirma.

Leia também: Sebo Jundiaí – O Maior Sebo do Interior do Brasil!

E olha, são vários os achados, dos mais comuns aos mais curiosos! “Tem de nota fiscal de uma funerária dos anos 40, fotografias que aparecem no meio de livros, cartas, a telegramas e uma peça que eu gosto muito, que é de um almanaque de Jundiaí. Tivemos dois jornalistas que foram pioneiros na cidade, o Tibúrcio Estevam de Siqueira e o João Baptista Figueiredo, e eles editaram por dois anos esse almanaque, em 1910 e 1911″, conta.

Maurício, que já tinha a edição de 1910, e que inclusive foi encontrada em um depósito de reciclagem, ganhou recentemente uma outra edição, e essa pra lá de especial! “Eu consegui o almanaque que pertencia ao Dr. Domingos Anastácio, que era muito amigo dos jornalistas. Está lá o nome dele e o carimbo de sua clínica médica. O Dr. Domingos foi médico da minha avó na infância. Ela contava que ele ia lá na Fazenda Ermida, e além de clinicar de graça, às vezes ele dava o remédio ou o dinheiro para a família comprar o remédio. E, por ironia do destino, foi parar em minhas mãos.”

“Teus filhos amantes são de ti”

E é certo que o professor Maurício tem Jundiaí praticamente que inteira em seu sebo, né? Mas qual será o pedaço de Jundiaí que, diríamos, possui o Maurício por inteiro, hein? ? “O lugar que eu mais amo, que mais eu tenho afinidade é sem dúvidas a região do Bolão e do Parque da Uva! Eu nasci em 1962 e, apesar do Hospital São Vicente já ser antigo na cidade, as mulheres ainda optavam por ter os seus bebês em casa. Existiam parteiras muito renomadas e respeitadas na cidade, e minha mãe também optou por eu nascer em casa. Então eu nasci literalmente dentro do Parque da uva, porque minha casa era onde hoje é a praça de alimentação das festas.” Legal, né?

Maurício nasceu e foi criado em uma daquelas casinhas localizadas ao centro, no canto direito da foto. (Foto: Acervo Prof. Maurício Ferreira/ Sebo Jundiaí/ Reprodução)

E quem imaginaria que em pleno Parque da Uva existiam casas de moradores comuns? Pois é, minha gente, outros tempos! O professor também conta que tinha como quintal o Parque da Uva, uma vez que sua casa fazia divisa com o espaço e que né, a criançada aproveitava até! “Imagina no início dos anos 60, até os anos 70, era uma tranquilidade total! Veículos, trânsito, não existia nada disso! A gente brincava ali, ficava o dia todo no parque… chegávamos da escola com a camisa da escola e os calçados nas mãos, porque eu só andava, brincava descalço, e foi assim até os 14 anos, e dali já ia pro parque brincar, e só voltava quando minha mãe me chamasse. Porque olha, se não fosse ela me chamar acho que estaria até agora lá brincando”, diverte-se.

Se tem um lugar que eu me identifico em Jundiaí, que até parece que é eu que pertenço àquilo, e não é aquilo que me pertence, é sem dúvidas a região do Parque da Uva, da Avenida Amadeu Ribeiro, aquela ruazinha que fica entre o Bolão e a Festa.

Agora, tirando aquela região que é pura nostalgia, Maurício fica, e sem titubear, com o Centro de Jundiaí. “Sempre que posso, tenho o costume de percorrer a pé a Rua Barão, a Rua do Rosário e as ruas transversais a elas. E, por fazer essa pesquisa histórica por imagens há anos eu vou passando pelos lugares e, na minha cabeça, vêm aquelas imagens de como a cidade era. Era uma cidade muito bonita, e pena que nunca tivemos uma política contundente de preservação da história. O centro foi muito deteriorado, os prédios históricos foram sendo demolidos, a pressão é muito grande da especulação imobiliária, e não tivemos leis apropriadas para preservar, até a lei que hoje preserva pelo menos a fachada dos imóveis até um certo raio de distância da Catedral. Mas eu amo o centro da cidade, e acho que a história de Jundiaí está ali“, finaliza com um brilho no olhar único.

Eu só vejo coisas boas da nossa cidade. E ela chegou onde chegou por conta tanto do trabalho das pessoas que já nasceram aqui como das que vieram pra cá. Jundiaí é uma mãe que acolhe, uma cidade que sempre acolheu: surgiu com os portugueses, vieram os afrodescendentes, que ajudaram muito a construir essa cidade, os italianos Então Jundiaí pra mim é isso: é só coisa boa, é a alegria de ver todo mundo ajudando essa cidade a ser cada vez maior!


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