Engraçado, aqui vocês cumprimentam todo mundo, mesmo aqueles que não conhecem. Observou com estranheza o namorado guarulhense da Márcia Luzia. Márcia é motorista de aplicativo e botucatuense, ela gosta de viver em Botucatu porque a cidade lhe transmite segurança: “A coisa que eu mais gosto em viver aqui é a segurança e o jeito das pessoas de se cumprimentarem, mesmo quando não te conhecem.” Afirmou a motorista que vive em Botucatu há 43 anos. Ao andar pela cidade é possível encontrar vários rostos conhecidos.

Um projeto singular

Foto: Karina Sant’Ana

No início da tarde caminhava pelo “Bairro”, como é conhecida a Vila dos Lavradores – um dos bairros mais antigos da cidade. O lugar é reconhecido por ser uma região acolhedora, pois entre os moradores há muitos idosos e aposentados. No caminho é possível encontrar o trailer da Kênia Marques – KM Truck Store, o primeiro e o único trailer de cosméticos da cidade. Famoso por chamar a atenção das pessoas com suas cores marcantes, um misto de verde, roxo, azul, branco e rosa, fez o trailer de cosméticos ser confundido, algumas vezes, com o trailer que vende churros. A ideia de montar um sistema de vendas de produtos de beleza dentro do trailer surgiu porque Kênia estava insatisfeita com sua rotina de escritório. Trabalhava como analista financeiro e vendia produtos por catálogo, seu marido conseguiu trabalho em outra cidade, tinha um filho pequeno e desejava ter mais tempo livre para se dedicar à família. “Vender cosméticos no trailer aconteceu por uma necessidade. Eu me vi sozinha com meu filho que era muito bebê, meu marido morava fora da cidade e eu pensei que eu poderia usar toda a experiência da administração. Então, por que não, vender os meus produtos, conseguir uma renda e participar um pouco mais da criação dos meus filhos?” Assim, Kênia decidiu suas prioridades.

Foto: Karina Sant’Ana

Sua atitude empreendedora lhe rendeu a flexibilidade de horário que ela queria para se dedicar à família e a oportunidade de conhecer mais a cidade e a população. Ela estaciona o trailer em diferentes regiões, mas admite preferir ficar no “bairro” devido a simpatia e acolhimento das pessoas. “O bairro é mais antigo, os moradores são mais velhos, eles conversam mais, eles se permitem… Se eu paro perto de uma casa, eles me chamam para tomar café. Eu estou super em casa no bairro.” Relata satisfeita.

Foto: Karina Sant’Ana

Segurança

Segundo o Atlas da Violência 2018 Políticas Públicas e Retratos dos Municípios Brasileiros, a cidade dos Bons Ares e Boas Escolas é considerada o 8º município mais seguro do Brasil. Kênia afirma nunca ter sofrido com falta de segurança. No entanto, ela tem seus próprios critérios: “Eu nunca senti medo de estar em algum lugar. Mas eu sempre estou em região central, com movimentos, horários que o povo está se movimentando e de dia. Nunca fiquei em bairros muito afastados. Eu nunca tive medo de ficar dentro do trailer.” Admitiu a vendedora que trabalha há um ano e meio no atendimento direto ao público. Histórias engraçadas é o que não falta.

Ilusão de ótica

Foto: Rede Social

Questionada sobre alguma história engraçada que viveu com seus clientes, Kênia se diverte ao falar das vezes que as pessoas confundiram seu trailer com o trailer de churros, pediram o doce e até saíram bravos por que ela não vendia. Preocupada com a confusão, ela chegou a pregar anúncios do lado de fora do trailer para divulgar seus cosméticos. Havia imagens de batons, brincos, cremes e perfumes, mas isso não impediu o engano. “Eu coloquei uma imagem bem grande de dois perfumes aqui na frente do trailer: um masculino e um feminino. Aí chegou uma moça viu a imagem do perfume e disse: você vê um pra mim, então, de doce de leite? Eu falei assim: Ah! Não são churros, aqui tem cosméticos… Expliquei pra ela. Ela respondeu: então, pra quê você colocou a imagem de um churro aqui? Saí do trailer pra ver, e a imagem era do perfume. A cliente olhou novamente e pediu desculpas. Ai, eu podia jurar que tinha um churro aí!”. “Trailer lembra lanche. Mesmo explicando as pessoas não entendem, me confundem muito com o trailer de churros. Esse formato é novo, é difícil a pessoa entender que é um “carrinho de cosméticos” e não de doce.” Contou Kênia.

Histórias como essa são possíveis de encontrar caminhando pela cidade, cumprimentando tantos rostos conhecidos quantos os que se podem achar. Para mim, a melhor coisa de se viver no interior é conhecer pessoas, e a coisa mais fascinante nas pessoas é a sua história.

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