Josimar Rocha de Lima, o Parayba, um dos maiores e mais expressivos músicos rio-pretenses durante a década de 90, nasceu na cidade de Monteiro (Paraíba) em 18 de outubro de 1956. Era o mais novo de 11 irmãos que via no nordeste uma terra sem oportunidades, mas se inspirou para as tantas composições que mais tarde o consagrariam. No fundo, ele já sonhava ser um cantador, tinha na alma a docilidade e a rima como companheira para tudo que avistava.

A música é minha alegria, minha companheira, meu sustento. É minha angústia, minha sina, meu lamento“, poetizava o mestre.


Saindo da Paraíba, enfrentou boleia de caminhão, chuva, fome e muitas noites dormindo sob as estrelas. Passou por Pernambuco, Goiás e Belém do Pará e na Bahia que deu início a doce caminhada com a viola nas costas em busca de oportunidades. Em Minas Gerais, tocou em bailes que lhe deram uma bagagem maior com um público mais exigente, quando conheceu sua companheira com quem se casou e teve três filhos: Junior Lima, Pedro e Felipe.


Parayba formou com alguns amigos o Grupo Sapoti em Pereira Barreto (SP) e dali foi um pulo para tocar nas faculdades de Araçatuba, vindo depois para São José do Rio Preto e se instalando devido a receptividade para com sua música.

Fonte Arquivo pessoal

Parayba já atuava em bandas em 1978, mas sua experiência de tocar marchas de Carnavais veio quando tocava guitarra solo na Banda New Sound Pop de fronteira-MG com os amigos Tião (baixo), Donizete (crooner), César (bateria) e Zé Antônio na guitarra base. Entretanto, a magia de sua identidade o levava para a Literatura de Cordel que usa uma linguagem coloquial, trazendo forte oralidade e regionalismo para a escrita, exaltando a cultura nordestina e seus costumes, tradições e folclores que resultam numa verdadeira escrita com versos e rimas.

Parayba virou documentário com o apoio de grandes nomes da arte e música de Rio Preto. Mano Velho era como chamava os amigos e também gostava de ser chamado, produzido gratuitamente pela RZ2 Produções que conta sua trajetória e reúne nomes expressivos da MPB rio-pretense como Benê Ferreira, Fernando Marques (que produziu seu CD solo “O Cheiro do Verde” em 1996), Pedrão, Daniel Firmino e ainda Celi Regina vereadora), Pica Pau (radialista) e Cícero Cordel (Presidente do Centro de Tradição da Cultura Nordestina).

Durante meses tentou contatar esta que vos escreve para que também fizesse parte relatando os tantos encontros, festivais e bares em trabalhos conjuntos.

Fonte Arquivo pessoal

Você não pode deixar de assistir!

O documentário foi ao ar no YouTube dia 28 de fevereiro de 2014 intitulado “Parayba Lima – Vida e Arte” e teve a produção de Hélio Ricardo e Renato Lima. É uma grande oportunidade para conhecer a obra deste poeta “lado B” que tanto encantava a todos nas madrugadas.

Mas o mais importante em sua obra era realmente a autenticidade em seu repertório, já que Parayba não se se deixava corromper por ritmos e temas atuais e sempre fazia questão de divulgar as coisas da sua terra ou mesmo as coisas de outras terras de forma doce e poética.

Irreverência e romantismo

Parayba era naturalmente irreverente no modo de se vestir, de falar, de se dirigir às pessoas. Quando ia tocar em algum barzinho pequeno, não era novidade pedir autorização aos órgãos municipais para fechar a rua, pois sabia que o movimento era certo. No seu repertório, além das músicas autorais, não faltavam interpretações de Zé Ramalho, Fagner, Ednardo, Zé Geraldo, Renato Teixeira, Geraldo Azevedo e outros que provocavam lágrimas em quem ouvisse.

Na singeleza de suas ações, muitas vezes parava a música para falar das estrelas, da lua ou contar algum “causo” e retomava o canto em seguida, sem deixar sua apresentação num clima de monotonia. Um artista que compartilhava sua arte sem problemas e não hesitava em ler seus cordéis para crianças ou quem quisesse ouvir.

Chegada ao estado de São Paulo com muita bagagem

Décimo primeiro filho de uma família comum, Parayba volta à Monteiro, interior paraibano, depois de anos de ausência sem dar notícias de seu paradeiro e foi lá que contraiu a doença do fígado que o levou aos 64 anos, sem ao menos poder se despedir do chão que o acolhera e onde deixaria tantos fãs e amigos. Como se pressentisse, “Pará” embarcou na viagem todos os arquivos pessoais e os instrumentos que faziam parte de sua apresentação.

“Arte para mim não é um produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte para mim é missão, vocação e festa“, finaliza o artista.

Hoje, quem carrega o seu legado é o filho, também instrumentista, Juninho Lima busca desenvolver um trabalho condizente com a proposta do pai, sem se deixar corromper pelos ritmos atuais e sem história. Para muitos apenas a saudade, mas para a maioria, a memória deste brasileiro que amava sua terra e cantava seus segredos.

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1 COMENTÁRIO

  1. Isso que é matéria de verdade sobre o meu pai, meus Parabéns Lu Morena, você foi incrivel e amei de mais o que publicou. Desde que meu pai faleceu ( Parayba Lima) fiquei muito orgulhoso de você Lu Morena pela materia que fez do meu pai. Qualquer coisa me ligue para colocar mais coisas que sei do meu pai, e muitas.

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