“A sexualidade e a questão da diversidade é apenas você se sentir livre pra poder amar”. É com essas palavras que Jefferson Martini carrega consigo a responsabilidade de coordenar o Coletivo Arco-Íris. A entidade sem fins lucrativos luta pela vida da comunidade LGBT em Marília.

Há cinco anos, Jefferson nunca imaginava que iria estar à frente de algo tão grande como o coletivo. “Eu vim de uma família muito religiosa. O primeiro contato com outras pessoas LGBT durante um debate foi muito importante pra mim. Me fez enxergar quem eu realmente era”, conta.

“Antes, eu vim de um ambiente cheio de construções normativas, ensinado sobre o que é pecado e tudo mais. Quando eu saí desse debate, falei pra mim mesmo: ‘eu preciso fazer alguma coisa, as pessoas estão sendo mortas por simplesmente amarem outra pessoa'”

O chamado

E foi então que veio a vontade de fazer mais. De combater um preconceito que está enraizado na sociedade e que, a cada dia, tira mais e mais vidas. “No primeiro ano da faculdade eu fiz um artigo no qual eu pesquisei sobre a homofobia, sobre o por quê que as pessoas tinham tanto ódio”, relembra o estudante.

Atrelado aos estudos, Jefferson também começou a idealizar ações que, mais pra frente, dariam forma ao Coletivo Arco-Íris. “Eu e mais um grupo de pessoas tivemos a ideia de fazer uma Parada da Diversidade em Marília. E então começamos a planejar e, alguns meses depois, com muita dificuldade, conseguimos fazer o evento acontecer”, conta.

Primeira Parada da Diversidade realizada pelo Coletivo Arco-Íris em Marília

No entanto, nada foi um “mar de rosas”. Pelas redes sociais, o grupo recebeu diversas ameaças, muitas delas citavam atos de violência para boicotar o evento. Mas, nada disso fez com que Jefferson desistisse.

“Apesar das ameaças, também tivemos muito apoio popular, principalmente, de outros movimentos que já existem na cidade como o Núcleo de Direitos Humanos e outros grupos menores também”, explica.

O evento foi um sucesso e também serviu como pontapé inicial para uma série de outros projetos. Consequentemente o coletivo a favor da comunidade LGBTI+ de Marília foi crescendo cada vez mais.

“A partir daí nós vimos que é possível, através da união, da forma e do apoio popular. E daí em diante, não paramos mais com as nossas ações”, comemora.

Planos futuros

A ideia inicial do coletivo era criar a entidade que servisse para conscientização como forma de desconstrução dos conceitos pragmáticos que rondam a diversidade e servir como canal de denúncias de ataques contra a população LGBT.

E, até hoje, todas as ações organizadas pelo grupo seguem essa linha. Para Jefferson, a informação é o caminho para combater a desigualdade dentro da sociedade e dentro, até, do próprio movimento.

Membros do Coletivo Arco-Íris

“Um dos maiores princípios do coletivo é conscientizar e informar, porque, da mesma forma que eu, com meus 18 anos, tive o contato com essas outras pessoas e com informação e consegui me reconhecer, eu acredito que esses espaços são importantes para que outras pessoas consigam o mesmo.”, explica.

O Coletivo Arco-Íris realiza, além de eventos maiores como a Parada da Diversidade, blocos carnavalescos e concursos de Miss e Mister Diversidade, diversas palestras e rodas de debates sobre assuntos recorrentes dentro da comunidade como, por exemplo, desde identidade de gênero até DSTs.

Por dentro do movimento

“A gente sabe que muitas dessas pessoas não sabem exatamente o lugar delas dentro do próprio movimento. Por lugar, eu me refiro à como elas se reconhecem como indivíduos dentro da sociedade e do movimento LGBT”, aponta.

Segundo o estudante, também é importante combater a desigualdade dentro do movimento. “As vezes, o próprio meio LGBT não é acolhedor. Ele acaba sendo, na verdade, segregatório, principalmente, no tratamento de pessoas que convivem com o HIV, por exemplo”, explica.

Primeira Parada da Diversidade de Marília, em 2017

E é por isso que as ações do coletivo são voltadas, principalmente, para os membros da comunidade LGBT, oferecendo informação, proteção e servindo como referência, para que todas essas pessoas saibam que não estão sozinhas. Além disso, o grupo trabalha na conscientização da sociedade no geral, levando informação de qualidade para que o preconceito possa ser combatido de forma eficaz.

Apoio da família

Jefferson perdeu o pai ainda muito novo, com apenas 8 anos, e, desde então, mora com a mãe. O estudante se assumiu aos 18 anos de idade e, segundo ele, no começo houve muitos momentos de tensão com a família, que é muito ligada à religião.

“Quando eu me assumi, foi um momento de transição. Eu era da igreja, então foi muito difícil. Tive que lidar com a depressão também nessa época porque eu não me sentia a vontade comigo mesmo. Eu sentia que todos os meus desejos eram pecaminosos, até porque foi o que eu fui ensinado durante toda a vida, né”, conta.

Vídeo da primeira Parada da Diversidade

No entanto, depois de muita conversa com a mãe, Jefferson foi ganhando cada dia mais amor e respeito. Ela sempre me disse que eu continuaria sendo filho dela e que, a partir do momento em que eu contei, ela me amaria até um pouco mais”.

Um episódio que marcou a vida do jovem foi o momento em que chegou em casa após a realização da Parada da Diversidade, em setembro de 2017. “Eu lembro que eu cheguei, minha mãe olhou pra mim e disse ‘meus parabéns’. Aquilo foi muito importante pra mim, porque ela estava feliz de eu ter conseguido, ela estava feliz com o caminho que eu escolhi seguir”.

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