Em plena correria de pré espetáculo, nos encontramos com João Aurélio. O jovem sapateador de 14 anos se preparava para a reapresentação de “Para Onde Vão as Estrelas?”, produzida e dirigida pela professora do Batukedopé, sapateadora e mãe de João, Valéria Sanches.

O dinheiro arrecadado pelo espetáculo será revertido para ajudá-lo a seguir seu sonho: João foi descoberto em um festival de dança no Brasil e ganhou uma bolsa para estudar sapateado nos Estados Unidos.

Enquanto esperávamos a chegada de Valéria para a entrevista, João não parou de sapatear um só minuto, assistia a vídeos e copiava os passos com uma facilidade surpreendente. Assim como seu talento, seus movimentos pareciam tão naturais, coisa de quem vive o sapateado desde a barriga da mãe.

A história de Valéria, João Aurélio e da Companhia de sapateado Batukedopé se juntam a medida que é contada pelos sapateadores.

João e Valéria no festival de sapateado Tap In Rio

“Minha história é bem louca, como eu na vida”

Valéria desde pequena sonhava em seguir carreira na dança, ser bailarina, assim como suas primas de São Paulo, que estudavam em escolas de dança de renome.

A vida simples em Quintana, cidadezinha à 45 km de Marília, deixou o sonho distante, mas não impossível. Aos 8 anos, Valéria já era envolvida com a arte dentro da escola, e fez daquele espaço seu primeiro palco.


Criamos um grupo de dança. Minha mãe que sempre gostou de música, vendo meu interesse, passou a incentivar, a gente ensaiava na garagem de casa.

Assim que se formou na escola, precisou escolher entre ir para um cursinho pré-vestibular ou entrar para uma escola de dança. O sonho antigo falou mais alto, e Valéria aos 16 anos veio estudar dança em Marília.

Escolheu uma academia onde pudesse fazer aulas de todos os estilos, mas foi pelo sapateado que ela se apaixonou.


Na hora que eu ouvi o primeiro som de um sapato de sapateado eu falei: é isso que eu quero!

Naquela época, existiam poucas informações sobre o sapateado e, apesar da dedicação, Valéria sentia que tinha alguma coisa diferente com aquele sapatear que ela fazia, “Eu assistia aos musicais da Sessão da Tarde e via que o som deles era diferente. De onde vinha tanto som que eu não faço?”.

Por coincidência, ficou sabendo que um americano estaria em São Paulo para um workshop de sapateado. Não pensou duas vezes: juntou dinheiro e foi-se para a capital.

De mochila nas costas, abrigou-se na casa de uma tia que ficava à 3 horas do lugar onde seriam as aulas, nada que apagasse sua vontade de conhecer mais o sapateado.

Durante as aulas, foi percebendo cada vez mais que o sapateado é muito além do que tinha aprendido, “Ele falava uns nomes, mas eu só copiava, porque não sabia nada do que ele tava falando. Só aí eu comecei a perceber todos os sons que dava pra ser feito”.

“Fui aprender a aprender”

Durante anos, passou a acompanhar as aulas de Steven Harper pelo Brasil, quando o Colégio Sagrado Coração a chamou para dar aulas de sapateado, onde ficou por 15 anos.

A mudança foi para ministrar aulas em uma escola de dança assustou de início, “Foi um desafio, pensei que fazia muito tempo que não dava aulas em escolas de dança”.

O sucesso não demorou a acontecer, com o crescimento na procura e a quantidade de alunos de sapateado, recebeu apoio da família para arriscar e abrir seu prórpio estúdio de sapateado: o Batukedopé.

“Deixa ele brincar”

O sapateado sempre esteve presente na vida de João Aurélio, quando fez três anos ganhou seu primeiro sapato que fazia som, a partir daí não tirou mais.

A mãe, preocupada em estar influenciando demais a criança, recorreu ao seu antigo professor de sapateado, que lhe respondeu: “Deixa ele brincar!”.

Batukinho: João sapateando aos 4 anos

O interesse do pequeno João e seu talento visível já o destacava nas apresentações de sapateado, foi então que, aos 5 anos, passou a frequentar as aulas de sua mãe, “O talento dele me mostrou que eu deveria dar mais espaço para ele despontar”.

“Em seu segundo espetáculo, com 7 anos, ele já apresentou um solo”, Valéria conta que João foi muito incentivado e teve todo o apoio para crescer, sempre em liberdade para decidir se continuaria a sapatear ou não.

Cada vez mais envolvido com o estilo que faz música com os pés, João foi ao Tap in Rio, em janeiro de 2018. Sua mãe o havia inscrito para 30 aulas diferentes, mas ele queria a única que ela deixou para trás: o workshop da sapateadora americana Chloe Arnold.

A aula era muito cara, então combinaram de economizar no que podiam para que ele fosse, “Peguei o dinheiro e paguei a aula, nessa aula ele ganhou a bolsa”.

O talento de João Aurélio conquistou a professora, e ela concedeu a ele uma bolsa para sapatear em Washington, nos Estados Unidos. A notícia pegou a família de surpresa, estavam a apenas 20 dias para o festival americano, não daria tempo para tirar passaporte e visto, sem isso a viagem era impossível acontecer.

Além disso, a questão financeira também pesava, “Ele ganhou a bolsa, mas todos os custos da viagem são por nossa conta”.

Mandaram email para a Chloe explicando a situação, ela respondeu dizendo que ele era um menino muito talentoso e que não deixaria ele perder a bolsa. Então ela tranferiu o presente para o festival de 2019.

Os próximos passos

Desde então, João vem se preparando para a viagem, e tem contado com uma rede de ajuda de várias as formas, tudo para que ele realize seu sonho e o de sua mãe, “Acredito que esse legado do sapateado, essa raíz que começou em mim lá nos meus 15 anos, agora ele é a resposta”.

O que eu não pude fazer, ele está vivendo

O ano de 2019 está uma correria para a família, depois da viagem para Washington, João irá participar do Festival de Dança de Joinville, onde está passando por uma seleção para participar do show de abertura do evento.

João também ganhou outra bolsa para voltar aos Estados Unidos em dezembro, dessa vez para estudar o sapateado em Nova Orleans.

Sobre seu futuro, João parece bem certo do que quer, “Quero seguir essa carreira. Pretendo ter uma escola, igual à minha mãe, e dar aula em festivais”.

Se depender de Valéria, sua carreira também ainda tem muito caminho a percorrer, “Vou ser igual a Dianne Walker! Posso estar até de bengala, mas estarei sapateando”.

Como ajudar

Acreditamos que a arte é o caminho para a formação integral do ser humano, vamos ajudar o João Aurélio nessa corrente do bem!

O site de financiamento coletivo Vakinha está com uma campanha aberta para ajudar o João, você pode participar doando qualquer quantia através do link https://www.vakinha.com.br/vaquinha/484532

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