Dona Yolanda e Seu Maurício nasceram no circo, lá na Colômbia, a tradição de família foi o que os uniu. Se conheceram no circo e nunca mais se separaram, nem eles, nem o circo.

Na junção do trabalho e do amor, Maurício e Yolanda se tornaram Pilin e Pilina, e é assim que são conhecidos por todos.

O apelido veio por causa da pouca altura de seu Maurício, dona Yolanda até brinca, “Como eu também sou grande pra caramba, ficou Pilina”.

A história

Passaram 40 anos se apresentando e encantando multidões por onde estiveram, fizeram grandes viagens na América do Sul pela arte. A vida no circo é assim, cada dia uma aventura nova e muito trabalho duro, dedicação.

De pouco a pouco a família foi crescendo, a primeira filha do casal nasceu no Peru, o segundo, brasileiro.

E pelo Brasil foram ficando, fazendo carreira em grandes circos, onde existem mais possibilidades para a vida circense, uma chance para carreiras internacionais, quem sabe ser artista do Soleil.

E foi por uma oportunidade no Cirque du Soleil que a família se dedicou durante a infância da sua filha mais velha, era muito nova para encarar esse mundo sozinha, ficou decidido que esperariam até que crescesse para conquistar essa espaço.

Quando no tempo de ir, ela decidiu tomar outro caminho: queria se dedicar a faculdade de Moda.

Como quando você tira um peixe fora do aquário

A Mudança

Foi então que, há 10 anos, decidiram deixar a vida no picadeiro para se estabelecerem em Marília, o lugar mais próximo onde a filha poderia estudar.

O começo foi difícil, Pilina relembra o período de adaptação, “Como quando você tira um peixe fora do aquário”. Quase chegaram a desistir, estava difícil conseguir trabalho, a vida na cidade é diferente. Decidiram, então, trabalhar com aquilo que sabiam a vida toda: o circo!

Conseguiram uma verba com a Secretaria de Cultura de São Paulo para criar um Circo Escola, com lona e tudo, sediado em Marília. Adversidades impediram o projeto de ir para frente, mas não impediram a família de tentar de outro jeito.

Com os recursos conquistados, compraram todos os materiais essenciais ao circo e se dedicaram a criar uma escola de artes circenses em um novo molde, “Só não tem mais lona, mas o circo está aqui”.

Quando questionada sobre o significado do circo, Pilina deixa claro suas raízes e seu amor por esse mundo tão particular, “Está na família, vem de outras gerações, foi passado de pai para filho, por isso eu batalho tanto para não deixá-lo se perder. O circo para nós é vida e tradição. É o nosso passado, presente e futuro”.


O circo para nós é vida e tradição. É o nosso passado, presente e futuro

A adaptação

A criação da escolinha de circo trouxe um desafio para a família: ensinar 100 crianças de uma vez, as quais nunca tiveram contato com as acrobacias antes.

Sob as lonas a dinâmica é outra, é natural, as crianças crescem vendo os pais se aventurando em números difíceis e aprendem sem muito esforço.

Vendo essa dificuldade, Pilina entendeu que deveria ensinar com uma didática diferente. Resolveu cursar Educação Física e Pedagogia, e até fez piada com relação ao seu sotaque ainda característico da língua espanhola, “Não fiz (pedagogia) para dar aula de português, porque isso eu não consigo, mas para adaptar o circo ao ensino fora do seu próprio mundo”.

A gente vive o circo, ensina o circo

A profissão

A filha se dedicou a área de moda, mas não abandonou suas raízes. Todo o conhecimento em anos na estrada circense se tornaram demanda para sua nova profissão: somente uma artista circense conhece os tecidos e modelos perfeitos para as apresentações, figurinos que só quem viveu nos espetáculos consegue reproduzir tão bem.

O amor pelo circo não esconde as dificuldades da profissão, a família luta para que a carreira desses artistas seja reconhecida, “Todo mundo vê o circo da cortina para fora, da cortina para dentro existem mães, pais e avós. Esses avós foram grandes artistas, a maioria é esquecido com o tempo”.

Envelhecer no circo é algo dolorido, não existem garantias de aposentadoria ou plano de saúde, a dedicação de toda uma vida não é valorizada: perdem os artistas e perde o público, que vê minar aos poucos uma arte tão encantadora.

A Escola de Circo

Pilin e Pilina ministram aulas de artes circenses com atividades de ginástica, tecido acrobático, lira, malabares e mais.

O projeto acontece no Yara Clube de Marília, atendendo a alunos pagantes e ao projeto social, em parceria com a Prefeitura, que atende 30 alunos de forma gratuita.

Avalie este conteúdo

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor, deixe o seu comentário
Por favor insira o seu nome aqui