Em 3 de junho de 2015, foi sancionada a Lei nº 13.131, que oficializou hoje (31 de outubro) como o Dia Nacional da Poesia. A data foi escolhida para homenagear um dos grandes nomes da Segunda Geração do Modernismo brasileiro, Carlos Drummond de Andrade.

Carlos Drummond de Andrade era natural de Minas Gerais, da cidade de Itabira. (Foto: Divulgação)

Este dia, além de homenagear os poetas em geral, também serve para lembrar da riqueza e importância cultural que a arte poética representa. Para quem não sabe, a cidade de Marília recebeu este nome por causa do poema “Marília de Dirceu“, de Tomás Antônio Gonzaga.

Quem faz uma obra tão perfeita e linda,
Minha bela Marília, também pode
Fazer os céus e mais, se há mais ainda

– Tomás Antônio Gonzaga

A Solutudo conversou com alguns poetas marilienses para entender quais são as suas inspirações e o que a poesia significa dentro de suas vidas. Você confere o resultado agora:

Lucas David Luiz, 32 anos, autônomo

Aos seis anos e inspirado pelo desenho animado “Formiga Atômica”, Lucas começou a poetizar o que assistia nos episódios. Muito tímido, a poesia o ajudava a colocar tudo o que sentia para fora. Sentimentos como raiva, tristeza, felicidade e saudade eram “falados” quando escritos.

Ex-tinto
Luzes acesas, espelho, pasta, escova
Dentes, reflexo, cicatrizes, olheiras
Rua, chuva, cardume, matilhas
Cérebro frigideira fritando anseios
Tic, tac… Bom dias, carrancas, risos
Medo, fuga, reclusão cerebrocêntrica
Luzes apagadas, travesseiro, pálpebras rebeldes
Medo, entrega, estilhaço, resto do que sobrou
Vazio, dissolução, sentidos, respiração
Sorriso silencioso, mergulho, reencontro
Fluidez da água na paisagem, diluído
Emancipado do ruído interno
Sem terno, sem armadura, só eu comigo
Diluído na plenitude do eterno nada.

– Lucas David Luiz

Geovanna Stephanie Alves Bezerra, 16 anos, estudante

Aos 14 anos, Geovanna entrou de cabeça no mundo lírico. Ela sempre achou esse universo muito interessante e resolveu se convidar pra dentro dele. Para ela, poesia é liberdade, “uma maneira de dizer o que sente, o que gosta e o que incomoda”. Ela afirma com certeza que é “uma das melhores coisas feitas pelo ser humano”.

Somos uma geração doente
De corpo, de alma e de mente

Somos uma geração carente
De amor e de afeto, de alguma forma dependente 

Pais que tentam comprar o amor
Com dinheiro, vídeo game, computador

Filhos que só querem atenção
Para isso só se metem em confusão

Professores com mestrados 
Quem são eles na escola do Estado

Nada tem valorização
Mesmo assim temos que ter profissão

– Geovanna Stephanie Alves Bezerra

Felipe “Bilú” dos Santos Pagliari, 25 anos, professor de Arte e Filosofia

A paixão de Felipe iniciou-se no ensino fundamental, nas aulas de português. Diante da leitura de fábulas que encantaram, o menino passou a escrever as suas próprias historinhas. Contudo, o interesse se perdeu no tempo e só retornou em 2014, quando Felipe estava no terceiro ano da graduação em Filosofia.

Inspirado por Charles Bukowski, Lima Barreto e Jack Kerouac e pelas lutas sociais de sua faculdade, o jovem resolveu retornar ao ofício que tanto gosta. Para ele, a poesia é a “marmita fria da literatura” e uma forma de dar voz para a cidade que acorda cedo e sofre calada com o cotidiano.

O EXPEDIENTE DA DÉCADA SE DEBRUÇA NO POEMA CARNIÇA
Os urubus engravatados querem nossa carne proletária
Minha carniça no caos- a escrita marginal
e o podre na minha arcada dentária.
Minha mãe repousa nas fotografias
do meu coração clandestino e apartidário.
As metamorfoses de um sol tão pobre- de um sol tão amargo-
de um sol debruçado no subsolo das tristezas crônicas/ antagônicas classes/ eu aqui dando milho aos pombos/ eu aqui dando cotoveladas em ratos/ eu aqui escrevendo no vômito da terra
entre caranguejos atômicos & onças surrealistas
sem terra- enxadas e peixeiras revolucionárias.

Sou o olhar que peregrina nos vestígios do mundo
sou a loucura do verso livre/ atrasado para o trabalho de escritor do fim dos fins.
Sou o niilismo que tudo produz/ conto/ zine/ haikais bêbados de saque vagabundo
no epicentro do meu crânio costurado- trêmula
a criação soprada ´por saxofones dos anjos negros
John Coltrane quer o amor supremo

Ontológico- os desânimos de uma geração
anti milico- a transcendência do poema explosivo e subalterno.
O percurso pertubado e nada retumbante- garrafadas no hino do século.
sem teto-trabalhadora braçal-tão visceral
reforma trabalhista- acorrentados & a casa grande nos adoece.
Cocaína- as tempestades colombianas tomam conta da narina
das cidades em esteira & baque deprimido.
sintetizadores moendo meu cérebro
Automóveis buzinando para nuvens privatizadas
Bancos a toda estação dando descarga no planeta
Os jovens estendem os dedos e pegam carona com a agonia da geração
Manifestando o terrorismo niilista nas esquinas com cometas
A potência da natureza anêmica- a cidade esquizofrênica
Dualismos e pílulas anunciadas pelo governo que controla nossa loucura
Inafiançável.

Os robocops dizem serem os heróis- opinião pública volátil
O atômico poder da poesia- rebeldes estacionando delitos
O racionalismo racista que fabrica ração humana
– quero o irracional Zaratrusta
Periódico epidêmico andrógeno com itinerário na existência
Das estéticas periféricas-
A piedade artificial
As militâncias irreversíveis
As ressacas sensíveis
As fábricas tóxicas paralisando potencialidades-o relógio violento
O existencialismo- XXI- doenças psicológicas
Sem tetos
Sem terras
Sem conhecimento
Estatísticas irrelevantes
Eleições com matadouros prontos
O centro da terra- coronelismo
Partidos arrumando os dentes do povo em passagem de som
Para o espetáculo da história dos horrores
Sucuris de concreto atravessam a cidade intolerante
Pássaros gigantes espancam o céu
Com estrelas elétricas bêbadas de conhaque
A natureza em vertigem com meu corpo ocidental doente e poluente.
Heráclito morrendo afogado no esgoto corporativista
A tv domesticando familiares católicos
Docentes pálidos- prateleiras de livros impotentes
no espelho vejo a hemorróida- a face da autodestruição.

o
expediente
desta
década
não cessou.

– Felipe “Bilú” dos Santos Pagliari


Confira essa e outras histórias da cidade no site da Solutudo Marília!

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