Conscientização. Essa talvez seja a melhor palavra para definir o Projeto Pracinha dos Dogs, que há 10 anos atua em Jundiaí não apenas na conscientização acerca dos cuidados para com os animaizinhos de estimação, mas dando uma nova vida àqueles que sofreram maus-tratos e abandono. ??

A idealizadora e presidente do Pracinha, Sara Penteado, explica que o projeto nasceu da necessidade de apoiar pessoas que adotavam um animal sem as condições ideais para isso e, assim que apareciam as primeiras dificuldades, “devolviam” o animal para a rua. “A minha grande ambição é a conscientização. Não adianta você resgatar um animal e colocá-lo algum tempo depois numa situação de abandono ou novamente na rua”, afirma.

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(Foto: Solutudo/ Reprodução)

Inspiração de 4 patas

E o início de toda a trajetória com o projeto foi com um serzinho de 4 patas que entrou na vida de Sara já lhe dando uma grande lição. “Em 2010, quando adotei a Lilica (a cachorrinha da foto acima), percebi que as pessoas adotam os bichos e depois devolvem para a rua por não terem condições de cuidar. Acabei adotando-a e tive um custo exagerado; no primeiro ano tive gastos de quase 10 mil reais. Ela chegou atropelada, com medo, estava quase parando de andar, teve que fazer várias cirurgias sérias.” 

Durante esse tempo de acolhimento, Lilica precisava de um lugar para fazer fisioterapia, especialidade que não existia em Jundiaí na época. “Então comecei a vir na pracinha da Astra. No começo, não podia entrar com cachorro, mas com muita insistência minha consegui através de um bate-papo com o pessoal da empresa fazer com que a pracinha recebesse cachorros, e foi um sucesso!”

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Pracinha dos Dogs: espaço para todo mundo! (Foto: Arquivo Pessoal/ Reprodução)

Fiquei 3 anos vindo aqui sem ninguém, daí mais gente começou a frequentar e o projeto ganhou mais força. Foi através de muita dedicação e com o apoio de várias pessoas, que consegui trabalhar o meu projeto nessa praça.

Na visão de Sara, o Projeto sempre foi muito querido na cidade justamente pelo seu propósito maior: servir de espaço para conscientizar outras pessoas acerca dos maus-tratos com os animais. “E foi o primeiro lugar na cidade onde você podia trazer o seu cachorro e ficar bem. Quando cheguei não era essa coisa maravilhosa, foi um trabalho muito forte que fiz como voluntária para deixar tudo assim”. 

Mas, afinal, o que faz o Pracinha dos Dogs?

As frentes do Projeto Pracinha dos Dogs são basicamente três: o espaço apropriado para humanos e dogs conviverem juntos, a conscientização acerca de maus-tratos e da castração e vacinação dos animais e, por fim, o ‘salvamento’ de animais abandonados.

Sara explica que dificilmente resgata um cachorro de rua com boa saúde. “Quase todos os animais chegam feridos ou gravemente doentes, principalmente por câncer, devido à falta da castração: no macho o câncer de próstata, nas fêmeas o câncer mamário.”

“Se você viu um cachorro na rua pode me ligar! Você recolhe o bicho e vou te ajudar de cabo a rabo: com a castração, vacina, ração, faço tudo. Só nos últimos 4 anos, foram 380 cachorros resgatados, castrados e doados pelo projeto. Em 10 anos de Pracinha, já superamos o número de 8 mil castrações”, comemora.

Meu trabalho é o de protetora, e como é gostoso depois de todo o sofrimento levar o animal para adoção e, um dia, entregá-lo a uma família que merece ele.

A idealizadora do Pracinha dos Dogs conta que até 2018 o projeto promovia feirinhas de adoção, coisa que com o tempo deixou de acontecer. “Como o projeto tem regras diferenciadas de doação dos animais resgatados eu não faço mais feira. Acredito no conhecimento da família interessada na adoção, no perfil do adotante com o animal escolhido, no conhecimento da casa e sua rotina e da saúde do animal para ele fazer parte de uma família. Então o imediatismo de feira de adoção para o projeto não funciona”, observa. 

Rede de solidariedade

E o que move, do começo ao fim, cada gesto e esforço de Sara e dos voluntários do projeto é a solidariedade para quem deseja adotar, mas que por motivos financeiros acabam desistindo ou tomando atitudes inadequadas, como o abandono, como também o próprio bem-estar de cada animal. “Quando eu adotei a Lilica, se eu soubesse que ia gastar 10 mil, eu jamais teria adotado. Aí que eu comecei a pensar: ‘espera aí, quer dizer que se eu não tivesse dinheiro, o que ia ser da coitada na rua?‘ Concluí que, se eu passei por isso, muitas pessoas também passam!”

sara e lilica, idealizadora e inspiração para o pracinha dos dogs
Idealizadora e inspiração para o Pracinha dos Dogs existir. ??? (Foto: Arquivo Pessoal/ Reprodução)

Com o mesmo pensamento e intuito de Sara, também integram atualmente o Projeto Pracinha dos Dogs 5 quintais comunitários, que nada mais são que locais cedidos por pessoas para que os cachorros fiquem até a adoção. “Em cada quintal fica cerca de 10 bichos, mas todo dia tem um caso novo! A pessoa que me passa o problema acaba se tornando o quintal comunitário, eu ajudo a pessoa e ela faz a acomodação. O ajudar não é por no quintal, mas você acolher até o momento que você consegue doar, coisa que às vezes demora 3 meses!” 

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Você tá passando na rua e vê um cachorro doente? Não precisa pensar ‘nossa, vou gastar uns mil reais’, mas pensar que ‘olha, eu sei que tem um projeto na cidade, tem uma moça que vai me dar castração de graça, me indicar um veterinário, vai me amparar. Ele não vai ficar comigo, mas vou ajudá-lo’. Então você acaba ficando feliz e ajudando um monte de gente.

Há também uma parceria com o Hotel Felicidog, que conta atualmente com 6 voluntários fixos, e que serve como lar temporário para os bichinhos salvos pelo projeto. ?

Toda ajuda é bem-vinda

E para dar conta de toda essa estrutura, o Projeto Pracinha dos Dogs precisa praticamente todos os dias da ajuda da população! “O Pracinha ajuda muito a cidade, por isso também precisamos de doações. Se você quer doar, me liga ou manda mensagem. Aceitamos ração, roupinhas, casinhas, cadeirinhas, e às vezes o próprio dono do quintal vai buscar.” 

Segundo Sara, com a pandemia as doações caíram muito, contrastando com o aumento dos resgates e dos atendimentos, que duplicaram devido ao alto índice de abandono. “São castrados todos os meses uma média de 40 cachorros, e são necessários cerca de 500 kg de ração para dar conta de todos os animais nos quintais comunitários. E esse patrocínio são das pessoas que nos doam essas rações. A pessoa pode também doar direto nas clínicas veterinárias que eu tenho parceria, como se fosse um crédito, ou entregar doações direto nos quintais”, afirma.

Meu maior sonho é chegar em uma situação onde eu não veja mais nenhum bicho abandonado no mundo! E eu acredito que o Projeto Pracinha dos Dogs ajuda, e muito, para um dia essa realidade se concretizar. Porque a conscientização se constrói assim, por pedacinhos e pedacinhos de amor, suor e muito trabalho.

Pracinha dos Dogs

Colaboração: Anderson César Oliveira/ Solutudo


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