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Um dos meus lugares favoritos no mundo inteiro (mesmo eu nunca tendo saindo do Sudeste do país), é um parque aqui em minha cidade, curiosamente chamado de “Parque da Cidade”. É um lugar maravilhosamente lindo, e exuberantemente calmo. 

Eu sempre gosto de procurar um lugarzinho na grama, de preferência debaixo de uma árvore, estender um lençol e ficar ali deitado, aproveitando a sombra, sentindo a brisa mansa aconchegar meu rosto, admirando o farfalhar das folhas nas árvores, sentindo o ar puro encher os meus pulmões de vida (coisa que asmáticos como eu irão entender). Se deixar, passo o dia todo ali, na maciota, como meu avô costuma dizer. 

(Foto: PMJ/ Reprodução)

Uma das vezes que estava ali, simplesmente vivendo, presenciei uma das cenas mais lindas da minha vida: vi o melhor casal do mundo. Ele, com seu caminhar lento mas seguro, compassado pela bengala que o ajudava, tinha os cabelos grisalhos reluzentes ao sol, penteados para o lado como manda a etiqueta dos homens respeitosos. Seu suspensório estava colado à camisa que, diga-se de passagem, estava lisamente impecável. Seus sapatos estavam engraxados como brincos, e a marca da dobra da calça se mostrava a frente, um toque sutilmente refinado.

Ela, por sua vez, exalava uma docilidade suave, acompanhando seu passo ao compasso da bengala do marido. Um sapato de salto baixo na cor de caramelos refletia o lago que estava à margem. Com seu vestido amarelo (mas não um amarelo enjoado, um amarelo calmo, agradável aos olhos), brilhava mais do que as outras mulheres, com suas calças coladas, tops e barrigas à mostra. Tinha o cabelo curto, branco feito neve, e igualmente lindo

Caminhavam os dois juntos de mãos dadas. Calma e serenamente, caminhavam unidos pelos dedos, desfilando pelo parque que em sua agitação, não os via. Estavam invisíveis aos aspirantes a atleta, às crianças com suas bicicletas, e aos demais homens e mulheres que, cuidando das próprias vidas, os ignoravam. E acho que assim era melhor… acho que preferiam que fosse desse jeito. 

(Foto: Reprodução/ Internet)

Um não soltava a mão do outro. Nem mesmo um se adiantava ao outro. Juntos estavam, juntos permaneciam. De súbito, pararam o caminhar em frente a uma árvore bem florida. Para minha surpresa, o senhor se voltou à esposa e, levando a mão dela aos seus lábios, a beijou. Em seguida, foi até a árvore e colheu uma das inúmeras flores que ali cresciam. Entregou à esposa com um sorriso tão grande, quase parecendo um menino de tão alegre. Ele disse alguma coisa para ela. Algo meigo acredito. 

Envergonhada, ela pegou a flor e deu o abraço mais fofo que eu já tinha visto. Para minha alegria e total surpresa, sem floreios, ela lascou um beijo nos lábios do seu amado, desses de cinema, que todos acabam sempre se derretendo de amores. 

Eles se entreolharam sem desmanchar o sorriso, e seguiram caminho. Depois disso, só pude pensar: “Isso é amor!” 


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