Gustavo Henrique Mariano Gonçalves é um jundiaiense de 12 anos que nesses últimos três anos, se desenvolveu muito na comunicação. É a única criança surdocega do município e com o auxílio de sua professora Valdineia Aparecida Nascimento, transforma a vida dos alunos da escola em que estuda, EMEB Antônio de Pádua Giaretta.

Valdineia é professora e intérprete de libras. Após trabalhar na Diretoria de Educação Inclusiva de Jundiaí como Coordenadora Pedagógica, teve o conhecimento da existência de Gustavo, um menino que não se comunicava com ninguém e estava iniciando a comunicação por libras tátil.

Valdineia resolveu ajudar essa criança, sabendo que seria um grande desafio, porém queria entender e auxiliá-lo no processo de comunicação. Foto: Fotógrafos PMJ.

Aprendendo a nova forma de comunicação

Depois de 18 meses com esse trabalho, ele começou a dar respostas que estava entendendo, pois, até então, todos achavam que ele tinha algum problema cognitivo.

No início ele gostava de ficar no cantinho, em um colchonete. Aos poucos foi tirado esse conforto e trazido para o convívio das crianças. É notável uma grande evolução na sua aprendizagem.

Como a libras é uma língua visual, para o surdocego, aquele que tem perda visual e auditiva, é necessário aprender a libras tátil, que é realizada na palmas das mãos dessas pessoas. Para a leitura, ele também precisa aprender o braile.

É uma língua que usa mão sobre mão, a mão dele vai acompanhando os movimentos e tem a necessidade de tocar para entender. É uma troca para poder compartilhar emoções.

Nesse ano, Gustavo acabou se adaptando mais no convívio social. Antes ao tocá-lo ele utilizava a defesa tátil, mordia e agredia aquele que tentava interagir com ele.

Hoje ele interage com os alunos, não só com a professora. Ele entende as posturas, sentimentos e até pede beijo e abraço para os colegas, que o veem como uma criança carinhosa. A partir do momento que ele entendeu que a mão era uma forma de comunicação, se transformou em outra pessoa.

Sua avó só pôde beijá-lo recentemente, quando houve esse aprendizado. Antigamente, os únicos que podiam chegar perto dele, eram seus pais.

Inclusão na escola

A inclusão de Gustavo na sala de aula não é só em questão de comunicação, mas também pedagógica. A escola foi se adaptando e em alguns anos não só a vida do Gustavo foi transformada, como também a de sua família e crianças da escola.

Os seus colegas até se interessaram em aprender línguas de sinais e ele foi incluído nas brincadeiras. Foto: Fotógrafos PMJ.

Estamos sempre pesquisando materiais para trabalhar com ele, principalmente em instituições da capital, onde também fiz alguns cursos na área.

Val reforça que o processo de inclusão e educação especial, muitas vezes deixa marcas. Não só emocionais, mas físicas também. Já chegou machucada em casa, mas ressalta que o resultado vale a pena.

Nós estudamos, sofremos e agora compartilhamos o que aprendemos porque acreditamos que toda criança pode aprender, do seu jeito e no seu tempo! Sou muito grata a todos que sonharam e acreditaram comigo! Ele me ensinou a ver com os olhos do coração!

Participando da corrida

Um momento muito especial na vida deles foi a corrida da qual participaram neste ano. Gustavo se preparou para a Special Olympics e correu com sua professora e um amigo. Após a corrida, ele comemorou com a família.

Ele havia passado por um processo em que foi explicado que iria correr com outras crianças. Ele teve que ter muita segurança para correr, pois não enxerga nada. Esse é um grande exemplo de sua evolução.

Na corrida, eu colocava sua mão em meu peito para ele sentir minha respiração e saber que estava cansada. Foi um momento muito emocionante, ver sua felicidade comemorando.

Simpósio

No sábado, dia 26 de outubro, será realizado na cidade o 3º simpósio de surdocegueira. O evento surgiu a partir desse trabalho com o Gustavo e é promovido pela escola que estuda.

Ele tem público variado e visa compartilhar conhecimento sobre os trabalhos com a criança surdocega. Receberá uma convidada da Bahia que tem a mesma deficiência e está fazendo pedagogia, uma pesquisadora do Rio de Janeiro para falar sobre comunicação tátil texturizada e Val também fará uma palestra sobre o tema.

Infelizmente, as vagas para o simpósio já estão encerradas. Mas você pode participar do lançamento do livro da Val que acontecerá no mesmo dia, na Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ).

Lançamento do livro

Se alguém não se inscreveu a tempo no evento, mas quer saber mais sobre o trabalho com a surdocegueira, poderá entender mais sobre o trabalho através do livro.

O segundo livro da Valdineia, “Descobrindo um mundo diferente”, conta uma história real sobre um garoto chamado Arthur que se depara com um amigo surdocego em sua classe. É um livro paradidático, infantojuvenil, e recomendado para crianças do 4º ao 6º ano.

Em uma das páginas do livro, há um desenho da Nicole Costa representando o piso tátil no corredor da escola. Foto: divulgação.

Valdineia deseja que esse trabalho com o Gustavo seja compartilhado a nível Brasil. Por isso está ansiosa pelo lançamento.

No dia haverá um café da manhã que estará disponível das 8h às 13h. Nesse mesmo espaço será feita a venda do livro e às 10h45 terão autógrafos. O evento também contará com a presença do Gustavo e venda de camisetas e materiais do Clube dos Surdos.

Seu primeiro livro, “A Criança Surda: Possibilidades de Aprendizagem”, também estará à venda. Nele, é contado sobre o trabalho com a Isabela, primeira criança surda com quem Val trabalhou.

Veja abaixo como foi a sua experiência com a Isabela e um pouco mais da história da Val com a Inclusão:


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2 COMENTÁRIOS

    • Realmente Renata, é de se emocionar! Muito bom saber que existem pessoas que se preocupam com o desenvolvimento das outras! 🙂

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