“Minha pátria é a língua portuguesa.” Eu não sei se você sabia, mas celebramos neste dia 5 de maio o Dia Internacional da Língua Portuguesa. E nada melhor do que começar um texto homenageando nossa língua materna com uma frase dessas, e ainda por cima de um escritor como Fernando Pessoa, um dos maiores de nossa língua, não é mesmo?

E entre tantos nomes de verdadeiros amantes de nossa língua, que eternizaram momentos, personagens e sentimentos com suas obras magistrais, convidamos os escritores George André Savy e Francisco Marchiori da Mota, dois amantes das letras aqui de nossa Jundiaí, para além de testemunharem o amor, também homenagearem a nossa querida Língua Portuguesa. ?

George de todos os mares

Podemos começar dizendo, antes de tudo, que além de ser um apaixonado por quase tudo que é próprio da cidade, o Escritor Piloto, como George também é conhecido, é também um amante incondicional das letras. Tendo aprendido a ler com mapas e gibis, foram com estes que começou a criar suas próprias histórias em quadrinhos. “Mas como não me dei bem desenhando rostos, passei a somente escrever, descrevendo as cenas e seus personagens”, afirma. E foi assim, em casa, na intimidade dos quadrinhos, e dos filmes e novelas, que foi desperta sua paixão pela escrita, aguçada mais tarde, na escola.

“Meu professor de português estimulou a bagagem já trazida de casa, dos gibis e da televisão. Nas aulas de redação, ele promovia campeonatos. Os alunos liam suas redações para a classe e depois os alunos escolhiam, votavam na redação que mais gostaram. Normalmente as minhas eram as vencedoras. A partir daí senti que meu caminho era esse, ser escritor”.

Escritor Piloto segurando dois de seus livros: ‘Marvin’ e o outro sobre os transportes. (Foto: Arquivo Pessoal/ Reprodução)

E foi tomando por inspiração as pessoas e seus costumes, culturas e hábitos, sejam eles comuns ou nada normais, que George já publicou ao todo 9 livros, três por editoras e outros seis publicados de forma independente, artesanalmente. E ó, ele já entrega que o décimo livro, o quarto livro por uma editora, logo logo sai do forno, hein?

Aliás, George lembra que publicou seu primeiro livro quando tinha por volta dos vinte anos, ainda na década de 90. “Foi justamente a maior história que escrevi, com quase 300 páginas e um longo processo de revisão. Foi uma história inspirada nas periferias brasileiras, assunto que estava emergindo naquela década. Os protagonistas foram tão marcantes que decidi criar nova história com eles, que foi publicada em 2014″, conta.

George em suas andanças pelo São Camilo, bairro que lhe inspira nas obras marcadas com questões sociais. (Foto: Arquivo Pessoal/ Reprodução)

E lembra que lá no começo eu disse que George era um apaixonado pelos detalhes da cidade? Pois bem, foi justamente essa paixão que o ajudou, em 2016, a publicar um livro sobre outro assunto que domina: transporte coletivo. “A obra conta com conteúdo histórico e técnico da região de Jundiaí, as empresas de ônibus, suas frotas e itinerários. Para este eu me baseei em dados que possuo catalogados desde adolescente, pesquisando as empresas que atuavam e atuam na cidade.” Demais, né?

Francisco de todas as coisas

Francisco é outro escritor apaixonado – pela vida, pela cidade e seus detalhes, por sua amada… enfim, pela palavra! Leitor de Mario Quintana, Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Eugênio de Andrade, Florbela Espanca, Machado de Assis, e Luís de Camões, foi na escola que não apenas surgiu a paixão pela literatura, como também foi ali o lugar de todo desenvolvimento desse amor.

“Minha professora era maravilhosa, se chamava Priscila, e durante suas aulas de literatura, fui me apaixonando pela arte da escrita, por histórias, e tudo no universo da literatura. A partir de uma aula sobre poesia, depois da explicação dela sobre Trovadorismo, me senti diferente, querendo escrever. Foi estudar poesia na escola que me impulsionou a escrever”, relembra.

(Foto: Arquivo Pessoal/ Reprodução)

E para se inspirar em suas criações, Francisco não precisa de muito não, viu? O escritor afirma que tenta utilizar tudo o que o rodeia, das detalhadas notas dos instrumentos de uma composição clássica às coisas mais pequenas: “Aquelas que acabam passando despercebidas aos nossos olhos: o sopro do vento, o som das ondas do mar, o cantar dos pássaros, o perfume das flores, as pequenas flores que crescem entre os veios do asfalto; assim como me inspira os pequenos gestos de afeto: um abraço, um beijo, um olhar”.

Com 23 anos de idade, Francisco já possui 2 livros publicados, e vocês sabem qual a principal temática deles? É claro que é o amor, né! “Mas um amor nas coisas mais simples, em demonstrações cotidianas e concretas, aos quais nós acabamos por esquecer, e ali podendo perder um grande amor, talvez o amor da nossa vida. Acredito realmente que são nos gestos simples que o verdadeiro amor se mostra!”

Hoje, trabalhando em seu terceiro livro, o escritor já pode se dar ao luxo de dizer que pode escrever suas obras para além do amor que vive apenas em seu olhar e em seu coração – mas também naquele que vive no olhar e no coração de outrem. “Minha noiva me inspira todos os dias em ser melhor, como escritor, mas também como pessoa. O amor é capaz de transformar as nossas vidas!

Palavreando

Citando novamente Fernando Pessoa, “Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas”. E nada melhor do que além de descobrir a história desses escritores de nossa terra, também poder ‘tocar’ nesse amor por meio de suas palavras, não é mesmo? Então fiquem agora com dois textos inéditos desses grandes jundiaienses apaixonados – e apaixonantes!

Meu porto de partida, por George André Savy

Sim, meu porto! Ainda criança, queria navegar pelo mundo. Partir por águas oceânicas rumo às terras desconhecidas. O desejo de viajar, conhecer aqueles tantos nomes de países e cidades… mas veio a maturidade e firmei os pés no chão. Tomei ciência da grandiosidade do mundo, as distâncias… e passei a focar mais em meu país. Nos nomes de nossa língua… tantos nomes, tantas cidades! Juazeiro, Macaúba, Breu Branco… nomes de nossas árvores que denominam cidades. Xique-Xique e tantas outras plantas. E de cidades, árvores, plantas, flora e fauna em abundância, uni o útil – o conhecimento em nossa língua – ao agradável, viajar, conhecer na prática. Meu porto de partida, os mapas. Porto. Portugal. Português. E três anos atrás acabei atravessando o oceano e visitando Portugal. A terra de nossa língua. E lá tem cidades com nomes aqui adotados; Bragança, Óbidos, Oeiras, Santarém, Nazaré… tudo tão distante, mas familiar!

De volta ao meu porto de partida, continuo a pesquisar e escrever. Porque o desafio é contínuo. Há muito que aprender de nosso português e nossas terras. Nosso português, misturado muitas vezes ao tupi. Aos regionalismos. Nossa língua portuguesa, brasileira, tem a extensão de nosso país continental. Que nesta data comemorativa, o Dia Nacional da Língua Portuguesa, lembremos o quanto ainda temos a desvendar de seus segredos e sua riqueza. Não deixe seu barco atracado. Navegue pelos mares da leitura. Movimente seu porto para descobrir nossos e novos horizontes.


O Português, por Francisco Marchiori da Mota

Antigas amizades sempre reaparecem depois de um longo tempo. E que sensação boa quando reencontramos velhos amigos. Como eu saio pouco de casa, esses reencontros são muito escassos, mas ontem foi diferente.
Depois de manter a mesma rotina há semanas, apenas indo e voltando do trabalho, decidi dar uma volta pelas ruas do meu bairro. Andei por algumas ruas, passei por algumas casas, até comprei algumas maçãs na quitanda aqui perto (adoro maçãs), quando dei de cara com um grande amigo que há anos não via.
O encontrei do outro lado da rua andando apressado, com uma mochila nas costas e alguns livros na mão. Precisei apertar o passo para encostar eu seu ombro e chamar sua atenção:

– Murillo? – o chamei dando dois tapinhas em seu ombro.

Ele se virou, e com uma risada me cumprimentou exclamando:

– Rapaz… quanto tempo que não te vejo! Como você está? – me perguntou ele apertando minha mão. – Estou bem graças a Deus! E você, como vão as coisas?
– Vão bem também. Nossa, faz o que… seis, sete anos que não nos falamos?
– Acho que sim! – dei uma risada constrangida. – Uns sete anos já. Acho que da última vez, ainda estávamos na escola. E olha que moramos no mesmo bairro. Imagina se não morássemos perto…
– Então… acho que nos veríamos mais! – agora ele quem deu uma risada – E cara, quanta coisa aconteceu… me formei, ficou sabendo?
– Sério? Que fantástico meu amigo! Se formou em quê?
– Me formei em Letras, e estou já faz uns dois anos lecionando Língua Portuguesa na escola aqui do bairro.
– É mesmo? – perguntei surpreso. Murillo nunca foi de gostar das aulas de Português na escola pelo que eu me lembrava. – E você está gostando?
– Estou amando! É muito bom. Gosto de ser professor, ainda mais de Português. É algo incrível. E por falar nisso, ficou sabendo do português?
– Não Murillo, o que houve?
– Ele apareceu com mais uma regra esses dias. Está difícil de acompanhar essas coisas.
– Não sabia não. Outra regra? – perguntei intrigado. Houve mais mudanças na Língua Portuguesa que eu não estava sabendo?
– Sim! Eu sempre esqueço de cumpri-la. – me respondeu Murillo rindo.
– Eu imagino. São tantas regras que até eu me perderia.
– Exatamente! Não só essa, mas outras normas que precisamos seguir que eu realmente não consigo entender direito, fico perdido.
– Eu também me perco. – concordei com ele.
– E você ficou sabendo que ele teve um ataque cardíaco?

Minha expressão se alterou. Ataque cardíaco? Como uma língua poderia sofrer um ataque cardíaco?

– Ataque cardíaco?
– Sim! E um dos graves em. Quase bateu as botas de vez.
– O que? Como assim? – perguntei espantado.
– Foi há uns meses atrás. A esposa o levou às pressas ao Hospital, e por pouco ele não foi para outro lado.

Eu não estava entendendo nada daquela conversa.

– Espera um pouco… do que você está falando? De que Português se trata isso?
– Do Português da padaria aqui do bairro. O seu Manoel! De que outra coisa eu poderia estar falando?
– Achei que estivesse falando da Língua Portuguesa.
– Não. – me respondeu Murillo, rindo-se ainda mais.
– Mas e todo aquele papo sobre regras e normas?
– Estava falando das normas que o seu Manoel impôs para a padaria dele. Recentemente ele tornou obrigatório a compra de pães apenas com moedas. Eu sempre esqueço de pegar algumas moedas antes de sair de casa.
– Ah… entendi. – concluí contendo minhas risadas. – E as outras regras?
– Não podemos mais comer nada dentro da padaria, tudo tem que ser para viagem. E não podemos chegar muito perto das vitrines. O seu Manoel está desenvolvendo um senso antisséptico bem rígido. Mas você deveria saber… você não compra pão na padaria do seu Manoel? – me perguntou ele.
– Não. Vou na padaria ali da rua principal.
– Ah sim. Ali também é bom. Vou no seu Manoel por ser mais perto da minha casa.
– Você ainda mora por aqui perto?
– Moro sim. Virando a esquina aqui.
– Vou passar qualquer hora para uma visita! – me convidei para a casa de Murillo.
– Venha sim! Mas agora eu preciso ir! Esse Português aqui, precisa ser ensinado para os meus alunos. – se despediu ele.
– Bom trabalho meu amigo! Boa sorte com o Português.


E vivas, hoje e sempre, à nossa Língua Portuguesa!


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