*Texto de João Figueiroa

O primeiro jardim público de Botucatu foi na praça XV de Novembro. Você sabe onde fica?

Dela restam poucos sinais. Inaugurada na virada do século XIX para XX a praça representou muita coisa, para muita gente, inclusive, a certeza de que o município já acumulara um grande orçamento para investimentos públicos.

No Jardim, existiam alamedas, coreto, caramanchão com primaveras – que entrelaçavam seus ramos com as varas de sustentação – bancos distribuídos pelos caminho. Dentro deles, outras ramagens e coqueirinhos centralizados, contornados por arbustos menores.

Porém, o toque principal, era o coreto. Feito de madeira e com franjas para acabamentos da cobertura ao estilo da época, deveria receber nas tardes dos domingos o máximo de famílias que iam ali passear, conversar e distrair-se com as músicas das bandas que aqui existiam. Por essa época, já existia a Banda de Pedro Soares, conhecido pelo chamamento de Pedro Músico (Euterpe Botucatuense), seguramente. Era ela que tocava nas tardes de domingo.

  Na época, a cidade era diferente, e subia a encosta leste, formado pelas avenidas Dom Lúcio/Santana, buscando ficar junto aos serviços que já estavam ali disponíveis desde os anos 90 do século XIX: a Câmara/Cadeia (num prédio hoje demolido, de dois andares, e que ficava onde está a portaria do BTC), o Grupo Escolar Cardoso de Almeida (prédio erguido em 1896 e funcionando desde março 1897, embora a escola estivesse em outro lugar desde 1895), a Igreja Matriz (um prédio hoje demolido, que ficava bem no meio da praça da Catedral, com sua frente voltada para a Vila dos Lavradores e funcionando desde 1897).

       Entre a Amando de Barros (na época Rua do Riachuelo ou do Comércio) e a esplanada  das escolas, (a nossa Acrópole como dizia o arquiteto Eugênio Monteferrante) foram sendo erguidos bangalôs ao longo das novas ruas que se abriam: a de Cima (depois Cesário Alvim e hoje João Passos), a Rua Áurea, depois Itapetininga e depois ainda Cardoso de Almeida) e a novíssima Rua General Telles. Todas sendo ocupadas lentamente pelo casario da época.

       Foi para completar esse pontuado de casas novas, chácaras e bangalôs (casas pequenas, de um só andar, com varandinhas à frente), que o Jardim Público foi construído. Exatamente á frente do novo prédio da Câmara/Cadeia, inaugurado em 1898. Uma cereja no bolo, que adornava a ocupação diferenciada da encosta.

       Entre a Casa da Câmara e o Jardim Público, existia uma alameda, onde hoje está o começo da Siqueira Campos (que ainda não tinha esse nome, pois não estava aberta. Era uma alameda, onde se anda a pé).

       Tudo isso era a praça XV de Novembro, nome que ainda conserva nos papéis das residências de seu entorno, hoje muito poucas.

       Mas, o que aconteceu para que desaparecesse?

       Essa é uma outra e interessante história. O Jardim Público, que havia sido palco de tantos encontros, namoros e presença de casais, teve uma parte dele doada à Diretoria dos Correios, já que, no final da década de 1930, a instituição federal estava exigindo do município um lugar próprio, para construir sua sede e ampliar seus trabalhos. Até 1940, os Correios e Telégrafos ocupavam o andar térreo de um prédio que fica na confluência da Amando de Barros com Siqueira Campos. Exatamente onde foi o famoso Bar Colosso. Terminado o prédio e inaugurado, suas instalações mudaram-se para os altos do espigão.

       O que sobrou ficou sendo o restante do Jardim Público, depois de desmontarem o coreto e criarem uma caixa de areia, para que as crianças brincassem. Ficou sendo o “areião”, da molecada, nas peladas de final de tarde. Os canteiros continuaram os mesmos. O caramanchão, o mesmo também. Mas os tempos eram outros.  

       Ainda nos anos 30 a alameda virou rua e ganhou o nome do tenente Siqueira Campos; o prédio da Câmara/Cadeia, que virou Centro de Saúde, foi demolido em 1963 ou 1964, e o restante do Jardim Público, menor, mas ainda ostentando sua exuberância, foi dividido e entregue a três entidades culturais, já nos anos de 1950.

        Para ali pretendiam ir os Estudantes da Liga Estudantina Botucatuense (LEB), agraciados com o espaço onde foi construído o prédio anexo e novo dos Correios, o mesmo prédio onde hoje ficam os fundos da Prefeitura. E, na frente, na Praça XV, a que hoje parece ser uma continuação da rua General Telles? Bem, duas entidades queriam ocupar o que restou da Praça XV, Uma, havia perdido sua sede quando do incêndio do Teatro Espéria, ocorrido na manhã de 21 de setembro de 1951. E a outra queria ter uma sede própria. Eram, o TAENCA, uma entidade teatral cujo estatuto dizia que a plenária de decisões seria sempre o terceiro ano da Escola Normal. E o Centro Cultural de Botucatu, o CCB, que ocupava com sua biblioteca os altos do Teatro Espéria, quando do incêndio.

       A Liga Estudantina nunca construiu e seu terreno foi revertido ao município e doado, também, para os Correios. E as outras duas entidades (TAENCA e CCB) acabaram por construir suas sedes, nos lugares a elas determinados. O TAENCA cedeu o prédio sob contrato, por muitos anos, à Empresa Teatral Peduti, que abriu o saudoso Cine Neli, que ficou sendo nosso único cinema no pior da crise do ramo cinematográfico brasileiro. E o CCB construiu seu prédio com recursos próprios e está no mesmo lugar até hoje, com sua Biblioteca, cedendo, em 1987, sua parte de cima para a OAB poder ter uma sede, também.

       E…a Praça XV? Bem, hoje ela é apenas uma doce lembrança. Se ainda não arrancaram, a placa sinalizadora de sua existência está lá, na esquina da rua Moraes Barros.


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