Livros que marcaram a nossa infância, como o clássico “A Montanha Encantada” da escritora botucatuense Maria José Dupré, podem ter como inspiração histórias e lendas locais.

Quem é de Botucatu e leu o livro com certeza traçou paralelos entre a história dos cinco primos que observam luzes estranhas sobre uma montanha e partem para investigar o fenômeno. Com as lendas e mitos em torno das Três Pedras.

Seria essa premissa referências ao antigo mito em torno da aparição de bolas de fogo sobre as Pedras?

Segundo o secretário da Academia Botucatuense de Letras (ABL), Olavo Godoy é realmente possível haver ligações entre a lenda e o livro.

De acordo com ele a autora nasceu aqui e quando adulta visitou Botucatu nas últimas décadas do século XX. Sobretudo, Sem precisar a data Godoy ressalta que ela teria dado pistas a respeito.

“Acompanhei a visita e me lembro que em seu discurso ela disse que parte de sua obra infantil era baseada em vivências aqui em Botucatu. Entretanto, o segmento mais adulto ela já se utilizava de elementos da Capital paulista”, relata Godoy.

Enfim, Olavo lembra que Dupré passou parte de sua infância em propriedades rurais do pai no distrito de Vitoriana e em Botucatu. Ressaltando que a escritora viveu na fazenda Bela Vista, cenário surpreendentemente similar ao de parte de suas obras infanto juvenis.

Obra integra a coleção Cachorrinho Samba

O interessante que é a obra em questão abre uma série de livros infantis conhecida como Cachorrinho Samba, com histórias que se passam em sua grande maioria em fazendas e áreas rurais. Essas obras fazem parte do segmento infanto juvenil da autora.

Porém, ao trabalhar sobre a possibilidade da lenda ter inspirado a história, deparamos com um problema de datas. É incontestável que o Frei Fídelis foi o grande difusor das lendas sobre as Três Pedras, criando toda uma mitologia complexa, envolvendo índios, cultos a satã, sumérios e outros elementos em torno das Pedras.

O problema é que Fidélis chegou em Botucatu apenas em 1952, enquanto que Dupré lançou a obra em 1945, isso seria sete anos antes do Frei começar a elaborar seus estudos, livros e artigos.

Apesar disso é importante lembrar que as pesquisas do frei tiveram início com relatos de moradores da região, que já diziam presenciar fenômenos estranhos no local e bolas de fogo sobre e ao redor das Pedras.

História é anterior ao Frei Fidéllis

Frei Fidélis iniciou suas pesquisas em 1952

Entretanto, temos que realmente considerar que a história das três Pedras tem o período anterior e posterior a Fidélis e, no caso, a obra de Dupré é anterior ao frei. Mas não às lendas que cercam o local. Talvez por essa razão o imaginário da obra literária “A Montanha Encantada” gire em torno de luzes e cidades subterrâneas.

Contudo, o historiador de Botucatu João Carlos Figueiroa defende que a tese criada por Fidélis não tem relação alguma com a obra de Dupré. Entretanto, pode realmente estar associada a relatos orais anteriores.

“Certamente o mito foi criado por ele (Fidélis). Foi Fidélis que fez a construção da mitologia. A teoria dos Sumérios é dele”, reforça Figueiroa.

Ademais, o historiador acrescenta que muito provavelmente as histórias naquela região remontam período anterior a Fidélis. “A construção do mito foi dele. Mas acho que as lendas sempre existiram naquele local”, diz.

Lendas remontam ao século XVIII

Vale lembrar que uma das primeiras lendas locais é situada no século XVIII. Diz que padres Jesuítas inesperadamente foram cercados por indígenas naquele local. Com a finalidade de proteger um tesouro que transportavam o esconderam em uma caverna da região. No entanto foram mortos pelos selvagens. Com isso, o tesouro se perdeu para sempre.

No livro “A Montanha Encantada”, os primos Oscar, Quico, Lúcia, Vera e Cecília, partem para investigar a estranha luz que aparece sobre o morro quando chegam ao local sentam em uma pedra que gira e derruba eles no interior de uma caverna cheia de pedras preciosas. O tesouro forma uma vila povoada de anões.

Teriam essas semelhanças alguma relação? Seria a vila o tesouro dos Padres Jesuítas? Essas são minhas divagações. Bom, tire as suas conclusões, e deixe por conta da imaginação a criação de novos paralelos.

Visite a Biblioteca Pública Municipal, para retirar esse clássico de nossa literatura.

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