Wander B. nasceu na cidade de São Paulo, mas se tornou barra-bonitense ainda em seus primeiros anos de vida. Enquanto transborda sua arte pelo mundo, faz questão de dizer:

“Sou do interior, sou de Barra Bonita! E não sou eu que conheço cada palmo do chão dessa cidade. Barra Bonita que conhece cada palmo do meu chão”.

Completou, há poucas semanas, 20 anos de carreira. Ou melhor, de estrada. Wander B. me contou que, por mais que tenha começado a fazer música antes de dezembro de 2001, foi nesse recorte de sua vida que ele considera o marco do início da sua descoberta como artista.

Durante as festividades natalinas de Barra Bonita naquele ano, antes de começar o show de rua da banda da qual fazia parte, o artista avistou em uma loja vários “panos cafonas” e improvisou um parangolé ali mesmo, fazendo daquele emaranhado de tecidos um instrumento para sua primeira performance. Sim, performance. Wander fez mais do que cantar, ele performou e se redescobriu como artista.

Um rock star de lugar nenhum

Na verdade, um rock star de Barra Bonita. Mas Wander brinca que sua fase de “rock star de lugar nenhum” foi intensa e crucial para transportá-lo para uma nova fase de sua evolução artística.

O cenário artístico e cultural no início de sua carreira era muito diferente. Wander conta que era difícil até mesmo categorizar seu “grupo”. “Para alguns, éramos um grupo de teatro. Para outros, uma banda de rock. Com isso a gente não se ‘encaixava’, e nossas apresentações eram no chão, na rua. Na época, a imprensa me chamava de transformista, pois não tinha referência local desse tipo de arte”, explica.

Em 2003, depois de suas primeiras experiências no teatro e em outras artes, Wander B. se tornou vocalista de uma banda de rock composta por grandes amigos, a banda Gritos e Sussurros. Um rock provocativo, performático, inspirado no Glam e no Punk, no Hard e em todos os outros “tipos” de rock, já que para Wander, não existia motivo para se limitar.

Na época, grandes eventos movimentam Barra Bonita e região, e a “Gritos” ganhou os holofotes nos palcos que recebiam pessoas de todo o Estado, e muitas vezes de todo o Brasil. Com a visibilidade, a banda passou a tocar em palcos da capital paulista, angariando fãs do cenário alternativo.

Em 2006, a banda foi para o estúdio gravar seu primeiro disco. “A gravação de um primeiro disco é o verdadeiro divisor de águas de uma banda. Ou a banda se fortalece, ou a banda acaba. Infelizmente, a Gritos não sobreviveu à rotina de estúdio e à seriedade que uma gravação precisava”. Mas ainda no entusiasmo em profissionalizar sua paixão, Wander B. gravou seu primeiro disco solo, o “Rockstar???”.

Mudando de direção

Wander contou na entrevista que o seu primeiro disco ainda não era o que ele realmente esperava gravar. “Precisamos fazer, se movimentar sempre para poder descobrir o que realmente queremos. Se não nos arriscarmos, as coisas não se transformam. Sempre fui assim na minha carreira, vou lá e faço, sem perfeccionismo e com muita gana de fazer sempre mais”, conta.

Depois do primeiro lançamento e da fase intensa de rock star barra-bonitense, surgiu a necessidade de se reinventar – tanto musicalmente, quanto de forma pessoal, no seu estilo de vida. Nasceu assim em 2010 seu segundo disco, “O Amor Me Desafia” – um disco acústico, de vibe calma e com um novo lado de Wander B.

A busca

Num hiato de sua estrada que arregala os olhos de todos, Wander B. se aventura em novos estilos e experiências. Participa de um concurso de música da Ivete Sangalo, em que vai até a semifinal; se muda para Salvador-BA; ganha um novo público, começa transitar pelo MPB e participa de inúmeros festivais pelo Brasil.

“Subi no palco com ‘O Amor Me Desafia’ mas não me encontrei. Senti falta de algo que não sabia exatamente o que era”, desabafa. Apesar de hoje Wander incluir no seu setlist as músicas do seu segundo álbum, na época ele ainda não tinha encontrado a forma de se colocar no palco com ele. Essa experiência o levou a buscar – na arte e dentro de si – novas essências.

Nasceu “Flores Numa Quarta Qualquer”, em 2012. “É nesse disco que começo a dar os primeiros passos para a arte que faço hoje. Uma síntese entre o ‘rockstar???’ e o ‘o amor me desafia’. O primeiro disco era notívago, o segundo era solar. Eu precisava e comecei a encontrar aqui o meio disso tudo”, explica Wander sobre o seu terceiro disco.

Poesia, dramaturgia e jazz 

O grande estalo foi a música que gravou com o pianista Luiz Fernando Montanher. “Na voz e piano descobri que poderia ter o melhor dos dois mundos: ter o meu tom noturno, ter minha expressividade densa, ter espaço para representar, sendo eu a banda de rock”.

Em mais uma guinada na sua vida e carreira, a capital ganhou o novo Wander B. Seu novo disco foi gravado ao vivo na Funarte/SP, na sala Guiomar Novaes – local que foi grande palco da música paulistana nos anos 1980. “O Cabaré das Canções Inúteis” foi lançado em 2016 e marcou sua nova fase.

Mas como todo artista, se reinventar não é o bastante. É preciso se refazer, também. E para isso é preciso adquirir novos repertórios. Wander volta a estudar teatro e emerge em novos mundos. Estuda Dramaturgia, Direção Teatral, licenciatura em Filosofia e também em Teatro. Ainda estuda com a famosa dramaturga Denise Stoklos, que o incentiva a voltar aos palcos como ator.

“Aqui nasce o Wander B. dos bastidores e da academia. Me aventurar na parte teórica e também no que há atrás do palco expandiu meu repertório e me apresentou ainda mais possibilidades”. Em 2020, o disco “Delírios de um Deus Voyeur” nasce desse novo mundo híbrido de Wander.

Ação

Em novembro de 2020, a solo-performance criada para o teatro digital “O Inferno É Um Espelho da Borda Laranja” colocou o Wander B. em cena de um jeito nunca antes visto. 

Eu tive a honra de viver a experiência de assistir à peça. Ela é provocadora e inesperada. Te induz a refletir sobre as ironias do cotidiano, a forma dissimulada que vivemos, as dores e dúvidas existenciais. 

A peça ficou em cartaz por 2021 inteiro “e pretende permanecer”, comentou Wander.

A dramaturgia impressa

Sempre rodeado de palavras, é assim que Wander B. descreve sua vida artística. Sempre compôs, roteirizou, escreveu peças. Mas foi depois de começar suas experiências acadêmicas que a publicação de dois livros veio a acontecer.

“O amanhã foi um dia sem precedentes”, co-autoria com Elenice Zerneri, é o registro do programa performativo que a dupla realizou em 2020, em que escreveram e interpretaram 100 textos em 100 dias.

“Voos essenciais palavras arregrais” nasceu dentro do curso que fez com a famosa dramaturga Denise Stoklos, que criou a metodologia do Teatro Essencial. No livro, 23 alunos deste curso (inclusive Wander) escreveram, ao longo da pandemia, textos dentro dessa modalidade de teatro. 

Espantalho-querubim

20 anos de carreira artística: música, teatro, composição, roteirização, direção. O que não poderia faltar depois dessas aventuras profundas que fez no mergulho da pandemia, é um novo disco de músicas inéditas!

Criado no formato piano-voz, mais uma vez acompanhado de Luiz Fernando Montanher, Wander B. nos apresenta um compilado de músicas nunca divulgadas. O diferencial do disco, e também curiosidade, é que a maior parte das músicas não foram compostas agora: Wander “pescou” no balaio de composições que fez ao longo de sua carreira e que esperavam essa sua nova fase para serem reinterpretadas e jogadas para o mundo.

Confira abaixo o primeiro clipe do novo disco.

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