Recentemente, as discussões sobre empreendedorismo feminino dominaram os fóruns e as redes sociais. O debate chegou a Araçatuba, onde, nas últimas semanas, acontecerem rodas de conversas e palestras sobre o tema.

Silvia Alzira Abeid Furio trabalha há mais de 28 anos no Sebrae e, atualmente, ocupa o cargo de gerente regional. O objetivo da empresa é incentivar o empreendedorismo no Brasil (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Formada em Tecnologia de Processamento de Dados pela UNESP de Bauru, Silvia Alzira Abeid Furio trabalha há mais de 28 anos no Sebrae(Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Atualmente no cargo de gerente regional do Sebrae-SP Regional de Araçatuba, Silvia falou conosco sobre empreendedorismo feminino, ser uma “mulher gerente” e as ações que o Sebrae desenvolve para incentivar as mulheres a empreenderem.

Como começou a sua relação com o Sebrae? Desde quando você trabalha na entidade?

Cursei a faculdade em Bauru. Quando me formei, comecei a fazer Economia na Instituição Toledo de Ensino, também em Bauru. E tive a oportunidade de fazer um estágio na Caixa Econômica Federal.

Quando acabei o estágio, fui indicada para uma entrevista numa organização que se instalaria no interior, chamada Sebrae, que havia acabado de ser privatizada. Isso no governo Collor.

Fui para minha entrevista com o senhor Rubens Blasco, meu primeiro gerente. Esse episódio foi muito engraçado, pois, na entrevista, ele me disse que era um trabalho numa empresa que ele não sabia o que fazia, não sabia quanto ganharíamos. Ele me perguntou: “você topa?”. E estou nessa empresa incrível há 28 anos.

Quando você começou a trabalhar no Sebrae, haviam muitas mulheres empreendendo?

Quando comecei, as pequenas empresas ainda não tinham valorização. O Sebrae foi privatizado exatamente para cumprir esse papel de chamar a atenção para a importância das pequenas empresas no país e, também, para fazer com que essas pequenas empresas fossem mais competitivas.

Já haviam mulheres que empreendiam. Porém, não havia o reconhecimento dessas atividades como negócio, e sim, em muitas situações, era visto como “bico”. A valorização das pequenas empresas mudou completamente nesses 28 anos. A importância da educação empreendedora do ensino fundamental ao adulto não se questiona mais e empresas, assim como propriedades rurais gerenciadas por mulheres, não são mais fatores de tanto espanto.

As próprias mulheres estão se valorizando e se preparando mais para cumprirem seus papéis como empreendedoras e gestoras. Ainda temos um grande caminho pela frente, tanto na gestão de pequenas como de grandes empresas e negócios rurais.

Hoje, o Brasil tem a 7ª maior proporção de mulheres entre os Empreendedores Iniciais do mundo, considerando os empreendedores iniciais aqueles indivíduos que estão à frente de empreendimentos com menos de 42 meses de existência. Esse é um dado muito positivo. Porém, a conversão de “Empreendedoras” em “Donas de Negócios” é 40% mais baixa.

Há uma desistência maior no caso das mulheres. Em cada 10 empreendedores (homens) do GEM, 6,5 viram “Donos de Negócio”. E em cada 10 empreendedoras (mulheres) do GEM, 3,9 viram “Donas de Negócio”, segundo dados da pesquisa GEM (2018). NOTA: 49 países participaram do GEM 2018 (em 2017, participaram 54 países e a proporção de mulheres brasileira foi a 3ª maior).

Isso mostra o quanto ainda temos que caminhar no incentivo ao empreendedorismo feminino. O Sebrae tem um projeto em parceria com a BPW (Business Professional Woman) chamado Prêmio Mulher de Negócios, que um dos objetivos principais é mostrar boas práticas de empreendedorismo feminino e grandes casos de sucesso. Penso que muitas outras iniciativas como essa devem existir para que possamos ter mais mulheres empreendendo e fazendo de suas atividades negócios de sucesso.

Como é ser mulher e ser a gerente? Você acha que precisa superar barreiras para conseguir gerenciar? Ou não?

Nunca parei para pensar como é ser mulher e ser gerente. Vejo-me como uma mulher gerente, que tem acertos e erros como gestora, assim como qualquer pessoa. Acredito que, para ser gestor, temos que nos preparar. E muito. E nos atualizarmos com relação às melhores práticas do mercado.

No entanto, não devemos nos esquecer de que somos gestores de pessoas. E lidar com pessoas requer método. Porém, mais do que isso. Requer sensibilidade e uma capacidade incrível de nos colocarmos no lugar dos outros. No livro o Jeito Harvard de ser feliz, o autor Shaun Achor fala sobre a psicologia da felicidade e mostra o quanto devemos criar ambientes favoráveis para a produção.

Para algumas pessoas (inclusive outras mulheres. Não só homens), ser gestor ainda é uma questão mecânica, de método. E, no mundo de hoje, com as pessoas querendo ser respeitadas e ouvidas cada vez mais, esse modelo não funciona.

O que sinto é que há uma cobrança, não só da sociedade, como das próprias equipes, de um modelo de gestão voltado totalmente para metas e desempenho. E nós, mulheres, talvez tenhamos um pouco mais de facilidade de lidar com o invisível por traz disso. As equipes podem ser fortes, lidar com seus próprios sentimentos, medos, fraquezas e ainda assim ter resultados excelentes.

Penso que a dificuldade no meio empresarial não está só relacionada ao fato de eu ser mulher. Mais do que isso. Está relacionada ao modelo que sigo como gestora e aí sim há muito preconceito. Não sei se isso é uma questão feminina só, mas, sim, de escolha do modelo de gestor que quero ser.

No livro Em busca de sentido de Victor E. Frankl, ele fala muito sobre PROPÓSITO e o quanto as pessoas que tem propósitos claros são capazes de superar obstáculos. Eu sou uma pessoa de propósito claro.

Amo o que faço e tenho uma grande identidade com a missão do Sebrae-SP e acredito que posso fazer com que as pessoas entendam a importância de terem propósitos claros, que estão acima do lucro ou da meta. E isso acaba me gerando como consequência o respeito que sinto por onde vou, pela maioria das pessoas que me relaciono.

Agora, independentemente de ser mulher, qualquer posição que estejamos requer preparo e o respeito não vem à toa, mas, sim, pelo reconhecimento que as pessoas tem do quanto estamos preparadas para cumprir nosso papel.

Nos eventos de negócio, você costuma ver muitas mulheres? Se não, você acredita que seja possível mudar esse cenário? De qual maneira?

Tenho visto um grande crescimento da presença de mulheres nos eventos de negócios, e, inclusive, está cada vez mais crescente a quantidade de eventos só para mulheres de negócios, com discussões muito profundas sobre modelos de gestão.

Há muitas organizações hoje que estão preparando mulheres para serem melhores gestoras, a exemplo do Sebrae-SP, como a Rede Mulher Empreendedora, a BPW, Núcleo Feminino do Agronegócios, entre outras. Esse é um movimento que não tem mais volta.

O Sebrae procura incentivar as mulheres a empreender? De qual forma? Há projetos para incentivá-las? Se não, a entidade pretende desenvolver?

Temos o Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, que visa mostrar casos de sucesso e historias inspiradoras de mulheres empreendedoras. Temos eventos específicos para mulheres com o propósito de promover a troca de experiências.

Pelo menos uma vez por ano realizamos um evento para mulheres com a psicanalista Fernanda Aoki. No evento, falamos sobre questões que envolvem o ser empreendedora e ser dona de casa, mãe, esposa, filha, irmã, que afetam o dia a dia das mulheres e fazem com que tenhamos “medos” de nos desafiarmos.

Além disso, participamos de eventos de outras organizações, contribuindo para que essa temática sobre o empreendedorismo feminino seja cada vez mais desmistificada.

Eu acredito que criar momentos de discussão somente com mulheres é muito importante. Mas tão importante quanto, é criar momentos entre empreendedores homens e mulheres para discutirmos o que devemos fazer para sermos mais eficientes em nossos negócios e termos mais resultados e prazer com aquilo que fazemos.

As pessoas precisam estar desempregadas para empreender? Ou não?

Existem dois motivos para se empreender: um é por oportunidade e, nesse caso, as pessoas podem ter outro emprego ou outra empresa, vislumbram uma oportunidade e empreendem. E existe o outro motivo, que é o mais preocupante: quando é por necessidade, que em muitas situações está relacionado ao fato da pessoa estar desempregada ou em condição de subemprego.

Qualquer um dos motivos exige a necessidade de preparação, independentemente do grau de complexidade do negócio. O mercado é ingrato para quem não se prepara. Fala-se muito do sonho do empreendedor, é importante dizer que os maiores empreendedores do mundo “quebraram” no mínimo 3 vezes.

Para as mulheres que desejam empreender, mas que não tem coragem, qual mensagem você passa?

Acredito que a historia de vida das pessoas faz com que elas tenham mais ou menos coragem. Uma pessoa que cresceu ouvindo que nunca seria boa em nada, dificilmente, sem ajuda, acreditará que consegue ter sucesso. Assim como uma pessoa que sempre foi incentivada e desafiada a ser protagonista da sua própria historia, deve ter mais iniciativa.

O que sugiro é que todas as mulheres acreditem que é possível e, para isso, o que é preciso é preparação. Entendo que se há um desejo de sair da situação que se encontra, seja por necessidade ou por oportunidade, busque ajuda. Venha ao Sebrae-SP. Podemos conversar, oferecer cursos, iniciar a preparação para que possa realizar o sonho de empreender.

Empreender é um desafio para qualquer pessoa no Brasil. E, para isso, há necessidade de preparo. E o Sebrae está aqui para isso.

O Sebrae tem um programa de educação empreendedora do ensino fundamental, que trabalha comportamento empreendedor, repassando para os professores a metodologia para que eles repassem aos alunos a disciplina de empreendedorismo.

Isso muda muito a visão da criança sobre a possibilidade de empreender e, mais do que isso, sobre quais comportamentos são necessários para que possa ter mais sucesso na vida. Acredito que esse programa deveria ser obrigatório em todas as escolas do Brasil, pois só mudaremos nossa realidade por meio da educação.

Quais dicas você daria para quem deseja empreender?

O Sebrae é uma organização que existe com a obrigação de ajudar a quem quer empreender. Ou para quem já tem um empreendimento e deseja ter melhores chances de se manter no mercado de forma duradoura e rentável por outro lado.

Assim como quem estuda para passar de ano precisa estudar muito, quem empreende para sobreviver precisa estudar muito. A dica que dou é PREPARE-SE e PROCURE O SEBRAE!


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